Capítulo 4 - A memória prefere a lembrança mais triste

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Era sábado e o crepúsculo em Avonlea era deslumbrante de se assistir da janela do quarto de Diana. Com o fim desse dia, restava apenas mais uma noite antes de retornar a Queens. E, ao contrário do que a jovem pensara antes de voltar a sua cidade natal para passar o feriado de ação de graças com a sua família, esses dias perto dos seus tinham sido revigorantes.

A garota refletia sobre o que fizera o feriado ser tão revigorante: começava pelo fato de que estava podendo deixar sua mente respirar para além dos livros empoeirados da universidade e chegava ao fato de que não tivera nenhum conflito com sua mãe, que estava extremamente ocupada em receber adequadamente os seus convidados.

Dentre estes convidados, estava também outro motivo que havia deixado o feriado da jovem mais agradável. A companhia de Fred nos últimos cinco dias era agradável como uma brisa no verão: calma, quente e constante. Os dois aproveitaram os dias para caminhadas diurnas na propriedade dos Barry, jogaram xadrez, contaram histórias que haviam visto em livros e até divertiram suas irmãs mais novas com cantigas bobas.

Diana terminava de arrumar sua mala para o retorno à Kingston no dia seguinte, quando um redemoinho ruivo e sardento entrou no seu quarto.

- Oh Diana, não sei passar dias sem conversar com você! – irrompeu Anne em lamento – eu estava acostumada ter sua companhia: primeiro na escola, depois em Queens e esses dias sem te encontrar foram levemente perturbadores.

- Mas você poderia ter vindo aqui qualquer um desses dias... – Diana respondeu em um tom de questionamento. A amiga morava a uma distância relativamente curta dela e essa era a sua primeira visita – você sabe por que eu não poderia ir a Green Gables.

- Ah, claro que sei por que você não foi. – garantiu a ruiva – Eu não vim antes porque estive ocupada atualizando Marilla e Matthew de todos os pormenores dos dias que passei distante deles. E, além disso, não sabia como estavam as coisas aqui... Porém, eu não aguentei mais de saudades.

Então as amigas se abraçaram. O que Anne dizia com seu tom dramalhão era verdade: Se ela fosse à casa de Diana e as coisas estivessem minimamente complicadas, seria um grande problema, pois a garota tinha uma predisposição a aumentar os problemas que já existiam.

- Então, ouvi falar das visitas que receberam. Como estão sendo as coisas? – Questionou Anne, sem rodeios.

- Mais tranquilo do que imaginei. – Ponderou Diana – A minha mãe anda extremamente entretida com a família Wright aqui e então não lhe sobra muito tempo para implicar comigo se eu estiver caminhando muito rápido ou com a postura um pouco inclinada.

Então, a morena cruzou o quarto e foi até a porta espiando de um lado para o outro do corredor, que estava vazio e imaculado como uma igreja, provavelmente os demais habitantes da casa estavam entretidos em suas atividades rotineiras. Ela, então continuou os seus relatórios em tom mais baixo:

- Além disso, a Minnie Mae agora tem a companhia de Daisy e me deixou um pouco de lado – completou, dando voltas para chegar finalmente ao assunto que desejava: Fred. – E o filho dos Wright é uma boa companhia.

- Pois bem, finalmente chegamos ao assunto que estava perturbando a minha mente! – Exclamou Anne, tentando manter o tom baixo. – Sua mãe realmente aprontou o que Ruby achou que ela faria?

- Ah, com toda certeza! – Replicou, sem pensar. – Porém, como te disse, não foi uma tortura. Fred é uma companhia agradável. Acredito até que ele é tão inocente nesta história toda tanto quanto eu.

- O que a leva a acreditar nisso? Você sabe que preciso de muitas palavras para entender algo.

- A primeira vez em que conversamos, ele me pediu desculpas. – respondeu Diana, sem perceber que seu semblante esboçava uma expressão de contentamento – achou que estava me causando constrangimento. Claro que ele estava, mas eu lhe disse que estava tudo bem. E, não está tão interessado no tamanho da propriedade e em quantas vacas eu herdarei quando me casar.

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