Capítulo 12 - A coragem das grandes decisões

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- Eu não acredito que você foi até lá, Marilla! – Anne exclamou com um tom que mesclava surpresa, admiração e uma pontada de pânico. A ruiva sabia o quanto a sua mãe adotiva poderia ser persuasiva quando desejava, mas não esperava já mais que ela poderia usar de seus poderes de convencimento contra a rígida e controladora Eliza Barry.

A senhora Cuthbert dava um meio sorriso, enquanto sovava a massa de pão na mesa de madeira que ficava na cozinha, e ouvia a exclamação admirada de Anne, embora jamais assumisse, ela se sentia extremamente satisfeita em ouvi-la exaltando-a.

- Se alguém precisava ouvir algumas verdades, esse alguém com certeza era a Sra. Barry. – Disse a Sra. Lynde, que estava apoiada na porta da cozinha ouvindo toda a conversa e finalmente abriu a boca para falar. Era óbvio que Rachel seguira Marilla, assim que a viu retornando da residência dos Barry, para saber o que a amiga tinha ido fazer lá, afinal ela gostava de coletar as fofocas da cidade enquanto ainda estavam fresquinhas.

- Oh Marilla, continue contando! O que você disse quando ela a deixou entrar? – Anne perguntou, com os olhos acinzentados brilhando de curiosidade, enquanto guardava os copos e pratos nos armários da cozinha.

- Bom... Em resumo, eu lhe disse: " Já que a senhora gosta tanto de se gabar por uma mãe progressista e que acredita que as jovens deveriam ter a mesma educação que os rapazes, você deve concordar comigo que não é muito coerente de sua parte punir Diana, justamente tirando dela a oportunidade de estudar..."  – A sra. Cuthbert falou no mesmo tom, simplesmente, como se estivesse ensinando a alguém a separar os feijões bons dos ruins.

Rachel Lynde, que não compartilhava da ideia de que as garotas deveriam sair de suas casas para outro lugar antes de se casarem, pensou em falar que concordava com a postura de Eliza Barry. Porém, ao lembrar-se do semblante triste e apático que vira em Diana no último culto da igreja, resolveu manter-se calada, pela primeira vez em muito tempo.

A jovem ruiva, por sua vez, colocou os braços – molhados pela árdua tarefa de enxugar e guardar os utensílios domésticos – ao redor redor do corpo de Marilla, que sempre se assustava com as demonstrações de afeto da sua criança, retesou o corpo por um momento breve, mas logo em seguida amoleceu.

- Oh, Marilla! Você não é capaz de imaginar do quanto eu fico feliz por sua atitude – Anne, disse em tom de agradecimento e cheia de emoção, enquanto apertava ainda mais o abraço – eu mesma pensei em ir lá e dizer tudo isso a Sra. Barry, entretanto, como eu sei que ela tem grandes ressalvas sobre mim até hoje, preferi me manter às sombras do que me envolver em algo.

Ao ouvir a última frase da jovem, Rachel não conseguiu segurar um riso irônico. Afinal, Anne controlar-se para não se envolver em uma confusão era uma novidade para todos. Talvez, Rachel Lynde concluiu, no fim das contas, um pouco mais de estudo seja bom para a cabeça dessas meninas.

*****

O aniversário de Minnie Mae chegou juntamente com o ápice do verão. As temperaturas estavam cada dia mais altas e os ventos estavam mornos. Assim, William e Eliza resolveram que seria de bom proveito usar o aniversário de sua filha caçula (e a atual preferida, dado o comportamento desastroso de Diana nos últimos meses) como um pretexto para realizar um evento em sua casa.

Então, em um dia típico da estação, com o sol brilhando, nenhuma nuvem no céu e um calor de deixar as bochechas vermelhas, boa parte de Avonlea e outros convidados de algumas regiões vizinhas reuniram-se na área externa da residência da família Barry para celebrar o aniversário da pequena Minnie Mae com um piquenique.

Diana estava feliz de ter pessoas a sua volta. O castigo e enclausuramento estava deixando-a rabugenta e soturna e, por isso, estar na presença de tanta gente a fazia sentir um pouco mais leve. Além disso, a música que tocava era dançante e agradável e a comida era deliciosa.

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