A volta de Carminha

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- "Oque foi, hein?" - explodiu Carminha - "Tá me olhando assim de canto de olho por que?" - perguntou intrigada para o motorista que lançava olhares curiosos para ela através do espelho enquanto a conduzia cada vez mais para dentro daquele vasto ambiente - "Ah já sei..." - suspirou pensativa antes mesmo que o rapaz pudesse pensar numa resposta - "Já deve ter ficado sabendo que eu vim do lixo né!? Pois é meu amor eu vim do lixo sim, idaí, qual o problema? Tá achando que eu sou suja? Porca? É isso?" - bradou irritada.

- "De forma alguma senhora..." - defendeu-se o motorista constrangido com sua própria indelicadeza.

- "Eu posso até morar no lixo, mas sou mais limpa que muitos desses artistazinhos de merda que tem por aí e que você beija o chão onde pisam! - vociferou ela arrogantemente cortando a fala do rapaz enquanto fazia gestos indicando para as várias portas pelas quais passavam rapidamente em frente pelo longo corredor - "Não precisa ficar me encarando como se eu fosse um bicho não. A partir de hoje eu sou uma estrela da TV brasileira e você vai continuar aí sendo um motoristazinho que vai me levar aonde eu quiser aqui dentro!" - exclamou cheia de si enquanto o motorista abria um pequeno sorriso como se achasse graça naquelas palavras - "Você vai ver só. Eu vou do lixo ao luxo em dois tempos, meu amor, levo esse prêmio pra casa e daí nós vamos ver quem é que vai rir por último aqui. Babaca..."

Contudo o motorista não respondeu, limitou-se apenas em lançar mais alguns breves olhares para a loura através do espelho enquanto prosseguiam viagem em absoluto silêncio.

- "Carmen Lúcia, Carminha, guarda bem esse nome... " - recomeçou Carminha - "Porque na próxima vez que a gente se reencontrar você e o Brasil todo vai estar me aplaudindo de pé e gritando meu nome: 'Carminha, Carminha...'" - exclamou sonhadora - "espera só pra ver!"

O carro foi diminuindo a velocidade até parar em frente à uma grande porta azul marinho onde uma moça ruiva estava a espera.

- "Carmem Lúcia, seja bem vinda!" - saudou energeticamente.

- "Oi, querida, como você está?" - retribui Carminha no mesmo tom de voz, embora toda aquela animação logo pela manhã lhe causasse náuseas.

- "Melhor agora!" - exclamou a moça cumprimentando-a com um beijo no rosto - "Obrigado Claudemir..." - agradeceu ela se voltando para o motorista quando terminou de descer com as malas da sua passageira, e imediatamente entendeu que sua saída foi solicitada.

- "Muito obrigada viu rapazinho, vai com Deus!" - agradeceu Carminha com um aceno de mão e com a voz mais doce do mundo. Embora tal atitude lhe causara estranhamento, o motorista Claudemir preferiu não insistir no assunto.

- "Por aqui por favor..." - indicou a bela moça de cabelos ruivos indicando a porta azul marinho. Carminha apanhou suas malas e lançando um sorriso para a moça, seguiu o caminho e atravessou para dentro do outro cômodo.

"Meu Deus eu não to acreditando..." - exclamou Carminha com certa sinceridade na voz, como quem realmente estivesse surpresa - "Esse é..." - começou hesitante.

- "Sim!" - confirmou a moça de cabelos ruivos sorridente - "esse é o auditório..."

- "É aqui que fica à plateia? É aqui que vamos ver o Thiago todas noites? - perguntou levando as mãos a boca enquanto girava de um lado para o outro para observar cada detalhe.

- "Sim!" - confirmou a outra moça rindo.

- Caraca, que loucura! - exclamou ela passando as mãos pelos cabelos.

- Bom, mas agora já está na hora, Carminha... - começou a ruiva - você vai entrar por aquela porta, seguir até o final do corredor, e ao passar pela próxima porta você está oficialmente dentro do Big Brother Brasil!" - explicou ela da maneira mais clara possível.

Carminha sorriu com determinação e apertou a alça da mala com mais firmeza.

- "Boa sorte!" - desejou a ruiva.

- "Obrigada..." - agradeceu ela com ternura antes de bater com a porta atrás de suas costas e perder a moça de vista, ficando a sós num longo corredor negro como o breu, mas iluminado por dezenas de luzes de led nos cantos de cima e de baixo, mergulhando num profundo silêncio.

O Corredor estreito fazia o som de seus passos ecoarem, o único som que podia-se ouvir além de sua respiração que a essa altura tornara-se ofegante. Andava a passos largos, apressada. Cada passo era preciso. O corredor parecia ser mais longo a cada passo, pois ela não avistava luz alguma indicando o fim do túnel. Enquanto avançava sozinha pela escuridão sua mente trabalhava a todo vapor e por mais que tentasse despachar aqueles pensamentos para longe, eles insistiam em preencher sua mente. Carminha sentia seu corpo tremer, sua respiração estava pesada e sentia um frio na barriga. Estava ansiosa.

Imagens passavam como um filme em sua cabeça, principalmente cenas do lixão e de todas as vezes que ela mesma havia pensado que sua vida havia acabado, que havia chegado ao fim da linha e não restava outra coisa a fazer se não aceitar isso. Entretanto agora ela estava ali, e aquela era sua última e melhor oportunidade de recomeçar.

Seus olhos fixaram-se na silhueta de uma porta também negra como o breu e então ela percebeu que havia chegado ao fim do corredor. Carminha parou, hesitou por um segundo, respirou fundo, girou a maçaneta e abriu a porta, logo a claridade invadiu seus olhos. Ela piscou sem parar até recuperar a visão e seu olhar focalizou um imenso gramado verde-vivo com algumas cadeiras  de praia espalhadas ao redor e mais adiante uma piscina azul, ao lado de uma grande e bela casa: a casa mais vigiada do Brasil.

Carminha deixou as malas caírem quando suas mãos vacilaram trêmulas e levou-as a boca, para não gritar de tanta emoção enquanto a porta fechava-se a suas costas. Ela percorreu os olhos por todo o ambiente ao mesmo tempo em que abria um sorriso.

- "Carmem Lúcia, Carmem Lúcia... " - exclamou para sí mesma - "Quem te viu, quem te vê, hã!" - sibilou enquanto andava pelo jardim observando atentamente aos detalhes e tirando as primeiras impressões - "Pra quem dizia que você estava derrotada, te ver assim de volta ao topo vai ser de doer os cornos, há há há..." - riu-se descontrolada. Parou, olhou ao redor, cerrou os olhos com determinação e então suspirou: - "Que comecem os jogos vorazes!".

Big Avenida Brasil - A volta de Carminha Onde histórias criam vida. Descubra agora