Serpente ardilosa

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- "Olá..." - exclamou Carminha enquanto arrastava as malas pelo gramado do jardim - "Olá..." - insistiu aumentando a voz - "Tem alguém aí?"

Porém não houve resposta. Carminha então parou, olhou ao redor e chegou à conclusão de que estava sozinha ali.

- "Mas será possível que ainda não chegou ninguém..." - sibilou pra si mesma  - "eu fui a primeira a chega aqui há há há" - riu-se - "Primeira, Brasil! Primeira... - exclamou vitoriosa largando as malas ao chão para comemorar, mas de repente ela parou pensativa, refletindo sobre a ideia que havia passado pela sua cabeça.

"Não é possível..." - suspirou enquanto desmanchava o sorriso que trazia no rosto.

Mais uma vez Carminha olhou ao redor, procurando desesperadamente por algo, então seus olhos se encontraram com a lente da câmera mais próxima e ela voltou sua atenção ali.

- "Que que é, hein!?" - gritou Carminha irritada - "Tão pensando oque?" - bradou gesticulando no ar com as expressões endurecidas de raiva - "Acharam que se mandassem a mulher do lixo primeiro eu ia limpar os banheiros!? Recolher os lixos da casa!? Fazer uma inspeção sanitária pra receber os outros!?" - bradou histérica - "Nem começou o programa direito e já vem com preconceito pro meu lado. Depois ainda querem vir falar que o país não tem desigualdade social..." - vociferou a ponto de salivar e ficar descabelada - "Eu quero que o Brasil todo vejam isso que vocês estão fazendo comigo!" - gritou apontando para todas as câmeras ao redor do jardim.

Antes que pudesse voltar a dizer mais alguma coisa ou se quer abaixar os braços, para sua surpresa as portas da casa se abriram é uma mulher baixa de cabelos cacheados e pele negra saiu acompanhada de umas outras oito pessoas, homens e mulheres todos juntos.

- "Eu falei que tinha ouvido vozes, é uma mulher..." - anunciou a mulher de pele negra que vinha correndo na frente.

Carminha demorou a entender oque estava acontecendo, ainda estava aérea  e com os pensamentos longe demais para acompanhar todas aquelas pessoas sorridentes que corriam em sua direção.

- "Tudo bem?" - perguntou uma outra mulher - loira e de pele clara, que usava um vestido vermelho colado ao corpo - que viera junto com os demais.

Carminha então se deu conta de que ainda estava com os braços no ar e sua expressão se misturavam raiva e surpresa juntas. No mesmo instante Carminha tratou de abaixar os braços já no alto da cabeça, colocando-os os fios de cabelos despenteados de volta no lugar enquanto abria um sorriso de autêntica surpresa e falsa felicidade.

- "Tudo bem, querida, tudo bem sim..." - exclamou ela tranquilamente.

- "A gente pensou ter ouvido gritos aqui fora..." - explicou a mulher de pele negra curiosa.

  Carminha hesitou por um segundo, mas sua mente trabalhou a todo vapor. A megera parecia sempre ter a resposta na ponta da língua.

- "Ah!" - exclamou sonhadora dando de ombros sem desfazer o sorriso - "eu só estava aqui agradecendo a Deus por estar aqui..." - respondeu elevando as mãos e o olhar para o alto mais uma mas uma vez, como se estivesse olhando para os céus e não para as câmeras - "talvez tenha exagerado um pouquinho no tom da voz, né!? Me perdoem..." - exclamou forçando um risinho constrangido - "é que sempre foi meu sonho estar aqui!" - complementou.

- "Imagina..." - tranquilizou a mulher de pele negra - "Seja bem-vinda! Meu nome é Thais..." - exclamou por fim.

- "Prazer, Thais..." - saudou Carminha voltando com o sorriso de antes e adiantando-se para dar as mãos a moça.

- "E eu sou a Alice!" - apresentou-se a moça loira de vestido vermelho.

- "Prazer, Alice. Tudo bem?" - cumprimentou Carminha educadamente estendendo a mão com sutileza para ela.

Big Avenida Brasil - A volta de Carminha Onde histórias criam vida. Descubra agora