Antes do BBB

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Alguns meses antes...

- "Lucinda... Lucinda..." - chamou Carminha eufórica entrando no casebre da mãe do lixão e procurando por ela - " Cadê você velha?" - gritou o mais alto que pode.

Carminha sempre foi de pavio muito curto, sem paciência e estressada desde muito nova e isso só piorou com o decorrer dos anos e pelas experiências pelas quais ela já havia passado.

- "Etâ!" - exclamou uma voz não muito longe - "Eu to aqui, Carminha" - anunciou Lucinda aparecendo a porta que ligava seu quarto à cozinha onde Carminha estava a espera - "Oque foi agora?" - perguntou tranquilamente.

- "Você não vai acreditar no que aconteceu..." - exclamou Carminha abrindo um sorriso e afastando a franja de cabelos sujos e ensebados dos olhos.

- "Você achou outro anel minha filha? Ou alguma outra bijuteria de valor?" - perguntou com ternura e esperança na voz.

- "Claro que não, velha!" - bradou impaciente - "Meu Deus! Como pode ser assim tão conformada!?" - sibilou andando de um lado para o outro atrás da mesa que estava entre ela e Lucinda - "Bijuteria... onde já se viu, se contentar com tão pouco...".

- "Mas foi você mesma quem chegou aqui ainda esses dias feliz da vida porque encontrou um anelzinho lá no meio do lixo e vendeu ele por um bom preço..." - rebateu Lucinda intrigada.

- "Anelzinho uma ova!" - cortou Carminha - "Aquilo era uma aliança de ouro e valeu uma nota preta." - corrigiu ela.

- "Deve ser de mais um casamento que acabou mal ou de algum pobre falecido, que Deus o tenha..." - exclamou Lucinda pensativa.

- "Seja de quem for veio bem a calhar..." - suspirou enquanto soltava os cabelos e tirava o pó dos fios - "pude comprar umas roupas decentes pra mim" - disse apalpando os trapos que usava com desaprovação - "Comida de verdade!" - exclamou aumentando a voz e lançando um olhar furtivo para Lucinda.

- "E essa porcaria de celular que você não desgruda mais..." - completou Lucinda.

- "Comprei seus remédios também, velha ingrata." - retorquiu Carminha enquanto enchia um canecão d'água e o colocava sobre o fogão que acabara de acender.

Lucinda então parou e encarou a loira nos olhos.

- "Eu sou muito grata a você por isso, Carminha, você sabe. Se não fosse a sua ajuda eu não teria como comprar esses remédios nem que catasse lixo o dia inteiro..." - ressaltou Lucinda grata.

- "É, mas não se acostuma não..." - exclamou Carminha virando-se e apanhando um copo na pia e enchendo-o de água - "Por falar em ingratidão, ele tem te visitado?" - perguntou ela tentando parecer calma, mas não tinha como disfarçar a tensão de sua voz.

Lucinda não precisou perguntar "ele quem?", pois só havia uma pessoa por quem Carminha perguntava: seu filho Jorge Tufão Filho, ou só "Jorginho", como era mais conhecido.

A mãe Lucinda hesitou por alguns instantes, então respirou fundo e enfim respondeu: - "Não, Carminha. Já faz algum tempo que ele e a Nina não aparecem aqui..."

- "Eu perguntei só do meu filho. Jorginho. E não desse traste. Não quero nem saber dessa demônia!" - vociferou Carminha.

Houve um momento de profundo silêncio em que Lucinda não ousou dizer nada a respeito.

- " Outro ingrato..." - sibilou Carminha pousando o copo com água ainda pela metade de volta sobre a pia após um gole - "Carreguei nove meses na barriga, fiz das tripas o coração, me lasquei toda se metendo em todas essas confusões que destruíram minha vida, tudo pra poder dar uma vida melhor pra ele, e é assim que esse ingrato me agradece..."

Big Avenida Brasil - A volta de Carminha Onde histórias criam vida. Descubra agora