Pov Beatriz
Quando a Luiza foi embora, subi as escadas e fui para o banheiro tomar banho, pois, como ela mesmo disse, eu tenho compromisso. Hoje é domingo e é tradição irmos em família para a igreja.
Tomei um banho demorado e depois fui para o quarto escolher uma roupa.Quando terminei, desci para a sala e fiquei vendo tv no sofá. Depois desceu o Gustavo e pouco tempo depois, os meus pais.
Pai: Todos prontos?
Respondemos um "sim" todos ao mesmo tempo.
Fomos em direção ao carro dele e o mesmo falou:
Pai: Vi seu carro na garagem filha, ele é lindo, meus parabéns
Ana: Obrigada - respondi seca
Pai: Bom, depois que sairmos da igreja, vou levar vocês para comer uma pizza, já que não passamos muito tempo juntos.
O resto da noite foi agradável, porém não troquei muitas palavras com meu pai. Ainda estava magoada e ele não me pediu desculpas e, conhecendo ele, sei que não vai.
Estávamos todos na pizzaria quando um casal gay entrou de mãos dadas. Meu pai logo fechou a cara, pagou a conta e nos levou de volta pra casa. Mal entramos e ele já começou a falarPai: Aquilo é uma pouca vergonha. Deveria ser proibido esse tipo de coisa em público - falou bravo, cuspindo as palavras
Mãe: Do que está falando querido?
Pai: Tô falando daqueles dois homens sem vergonha que entraram de mãos dadas na pizzaria
Gustavo: E qual é o problema pai?
Pai: Jura que você não consegue enxergar? Pelo amor de Deus Gustavo, aquilo é uma verdadeira aberração.
Gustavo: Você não sabe o que fala. Ao menos está ouvindo o que tá dizendo?
Pai: Vai ficar defendendo agora moleque? Eu jamais vou aceitar esse tipo de coisa. Isso é inacreditável, falta de uma boa surra, bom senso e vergonha na cara
Gustavo: Sabe o que é uma vergonha papai? O seu preconceito, a forma como julga os outros só pela orientação sexual. Você nem sequer conhece eles dois, não sabe do caráter deles pra tá falando esse monte de besteiras. O fato deles serem gays não os faz ser menos humanos do que a gente.
Pai: Você está nos comparando com aqueles dois? Escuta aqui moleque, eu não vou permitir que você defenda esse tipo de coisa, aqui dentro da minha casa. Eu jamais vou aceitar isso, entendeu? JAMAIS - gritou
Ele levantou a mão e deu com força na cara do meu irmão, com certeza iria ficar marcado. Aquilo me causou uma dor tão grande, que eu não sabia descrever, porém não tive reação pra fazer absolutamente nada e me senti uma inútil por isso.
Pai: Isso é pra você aprender a não contrariar o seu pai, não criei filho meu pra apoiar esse tipo de coisa. Agora suba pro seu quarto e repense em tudo o que você falou essa noite. Quem sabe esse tapa não sirva pra fazer você mudar de ideia.
Gustavo: E criou filho pra que? Pra ser preconceituoso igual você? Você pode me dar quantos tapas quiser, mas eu JAMAIS vou pensar igual você - Falou subindo as escadas - QUE SEJA VÁLIDA TODA FORMA DE AMOR - gritou e sumiu no meio do corredor
Ana: Você não deveria ter batido nele - falei com lágrimas nos olhos
Pai: Vai defender seu querido irmão também? Vai querer me contrariar? Porque se fizer isso, vai acontecer a mesma coisa com você.
Mãe: CHEGA CARLOS - Gritou - isso já passou dos limites. Filha, sobe pro seu quarto.
Eu nada falei, apenas subi as escadas e fui para o quarto do meu irmão. Entrei sem bater, ele estava sentado na cama, com a cabeça baixa e as duas mãos no rosto
Ana: Você tá bem? - me aproximei e sentei ao lado dele
Gustavo: Estou, não esperava menos dele. Sei que é nosso pai, mas ele é um completo imbecil.
Ana: Desculpa não ter conseguido te defender
Gustavo: Tá tudo bem, se você fizesse isso, ele iria te bater também. Fazer comigo eu até aceito, mas no dia que ele levantar a mão pra você, eu não respondo por mim
Ana: Ele até ameaçou me bater também, mas não o fez. Não consigo entender porque ele age assim, porque nos trata dessa maneira.
Gustavo: Porque é um preconceituoso, vive na ilusão de família perfeita, achando que porque é nosso pai, temos que pensar igual ele e concordar com tudo o que ele fala.
Eu abracei ele de lado e um silêncio se fez presente. Ficamos assim longos minutos, até que ele resolveu quebrar
Gustavo: Posso te fazer uma pergunta?
Ana: Pode sim
Gustavo: O que você sente pela Luiza?
Ana: Co-como assim? - perguntei surpresa
Gustavo: Não sei, eu vejo o jeito que vocês se tratam, parece que se gostam
Ana: Eu não sei Guh, de verdade. Ela me faz bem, até demais. Me sinto bem quando estou com ela, me faz dá risada e tá sempre cuidando de mim. Mas não podemos ser nada, além de amigas
Gustavo: E por que?
Ana: Qual é Guh, nosso pai fez um escândalo por eu estar usando uma camisa masculina, você levou um tapa só por defender um casal gay. Nem imagino o que ele faria se soubesse que eu gosto de uma menina. Além do mais, nossa religião deixa claro que isso é errado. Então, mesmo se eu gostasse dela, não poderia haver nada entre nós.
Gustavo: Sabe o que é errado Beatriz? O preconceito das pessoas e você se privar de ser feliz por conta do que elas vão achar. Quanto a esse tapa, levaria muito mais se fosse pra defender o amor.
Ana: Isso é tudo muito confuso na minha cabeça. Papai jamais aceitaria e eu também não iria aceitar gostar de uma menina
Gustavo: Não existe nenhum problema em gostar de alguém do mesmo sexo. O problema está em não se permitir sentir ou viver um amor. O problema está em as pessoas verem isso como algo errado, quando não é.
Ana: Chega, não quero mais falar sobre isso, vou para o meu quarto
Gustavo: Você quem sabe, mas pelo menos pense no que eu te disse e jamais - segurou meu queixo, fazendo-me olhar pra ele - escute bem, jamais se prive de ser feliz, por medo do que as pessoas vão pensar ou falar. E tire da cabeça que isso é algo errado, porque não tem nada de arrado nisso.
Não falei mais nada, ele então deu um beijo na minha testa e eu fui para o meu quarto. Fechei a porta, troquei de roupa, deitei na cama e comecei a pensar na minha conversa com o Gustavo.
Será que eu realmente gosto da Luiza? E se ele estivesse certo? Será que é mesmo errado duas pessoas do mesmo sexo se relacionarem? Estaria eu sendo egoísta me privando de ser feliz por medo?
São tantas perguntas sem respostas, tantos questionamentos, eu já nem sei mais quem eu sou. A vida não seria mais fácil se eu me apaixonasse por um cara e vivesse um namoro dentro dos padrões? Sim, ela seria. Então por que tem que ser tão difícil?Não pude evitar que lágrimas começassem a escorrer pelo meu rosto. Fiquei assim por longos minutos, até que ouvi o barulho da porta sendo aberta, a luz sendo acesa e meu irmão adentrando a mesma.
Quero deixar claro aqui que o Carlos é meu ranço e o Gustavo o meu amorzinho. Capítulo um pouco tenso, me perdoem por isso. Os comentários estão abertos pra xingarem o Carlos, se desejarem.
Bom, é só isso mesmo, até amanhã
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O sabor da liberdade
Teen FictionSinopse: Essa não é uma história fácil de ser contada, mas se faz necessária. Sei que, como eu, muitos se questionam com relação a sua sexualidade, principalmente quando você convive com família e amigos super religiosos e em um ambiente familiar co...