Depois - Capítulo 25

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São Paulo, maio de 2018


Alanis

Não consigo me mexer.

Quero sair correndo, mas meu corpo não obedece aos meus comandos.

Meus olhos enchem de lágrimas, eu nem consigo piscar.

Vejo Guilherme subir ao palco sorrindo, aquele mesmo sorriso da época da banda.

Droga de sorriso que ainda me desmonta.

- Alanis, fala comigo. – Samira parece preocupada.

Minha voz não sai. Minha boca até se mexe, mas estou travada.

Ele ainda é o mesmo. Só cresceu um pouco, ganhou barba e parece mais responsável. O rosto, o cabelo bagunçado e o estilo não mudaram nada.

- Boa noite, sou o Guilherme. Alguns de vocês já me conhecem, outros não, então... Oi! – as pessoas riem enquanto ele fala. – hoje eu vou cantar com esses caras incríveis a música Despedida e eu espero que curtam.

Será coincidência ele cantar a música que eu mais ouço lembrando dele?

- Vamos embora, Alanis... – Samira diz pegando na minha mão.

- Espera. – murmuro.

Preciso ver isso.

Eles começam a tocar e Guilherme canta. A voz dele ainda me faz bem.

Por um instante até esqueci que faz dez anos que não nos vemos e não nos falamos.

- Eu conheço o final, seus olhos me dizendo adeus, como se os meus sonhos nunca fossem seus. – ele canta e eu começo a chorar sem perceber.

De repente a voz dele some. Ele se perde na letra e o vocalista da banda pega o microfone. E assim como eu, Guilherme não consegue se mexer.

Ele está me vendo.

Meu coração começa a acelerar ainda mais, me falta ar.

- Alanis, você está me assustando! – Samira segura meu rosto e dá leves tapas, fazendo voltar minha atenção pra ela.

- Eu... Eu... Preciso sair daqui.

Sem pensar duas vezes, ela e Renan me tiram de lá.

Andamos até onde o carro estava estacionado e Renan teve que dar a volta na rua, passando em frente a casa de shows. E eu o vi novamente.

- Alanis!!! – Guilherme gritou ao me ver.

Fiquei olhando pelo vidro traseiro do carro Guilherme ficando para trás e meu coração apertou.

Eu queria falar com ele, queria um abraço, mas não sabia como lidar. Passei anos desejando esse momento, até entender que ele não fazia a mesma questão que eu.

Quando vim pro Brasil decidi enterrar o Guilherme, ou pelos tentar. Mas agora ele apareceu na minha frente. Eu definitivamente não esperava por isso.

Nem sabia que ele estava no Brasil.

- Desde quando ele está aqui? - pergunto ao casal.

- Alanis... – Samira diz receosa.

- Conta, ela precisa saber. – Renan fala enquanto dirige.

- Ele voltou pro Brasil pouco depois de você ir pra Dublin.

- E por que ninguém me disse?

- Você disse que não queria saber nada sobre ele, e respeitamos a sua vontade. Desculpe...

Meu garoto do violãoOnde histórias criam vida. Descubra agora