Capítulo 02 - Parte dois "Genevieve"

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O elevador demora mais do que o normal para chegar ao último andar, o que me deixa impaciente, batucando os dedos na barra de espaço para cadeirantes. Talvez eu realmente não devesse ter vindo aqui, não tenho motivos reais para vir procurá-lo e lhe fazer um jantar de reconciliação, pelo menos se avaliarmos quem errou. Mas como já estou aqui, sigo em frente com o plano e saio do elevador assim que ele estaciona.

Nesse andar da cobertura se encontram apenas três apartamentos, um deles é o de Adam, que fica de frente para o elevador, tornando a minha passagem pelo corredor perfumado mais curta.

Destranco a porta e encontro o apartamento do mesmo jeito que o vi pela última vez, há algumas semanas. É um típico lugar de solteiro, a estante da sala tem uma tv, home theater e vídeo game para as horas vagas. Algumas fotos nossas estão postas em porta retratos, uma da sua família reunida no natal passado e uma de seus sobrinhos, também, nada que chame muita atenção. Um sofá de dois lugares, uma mesa de centro e duas poltronas espalhadas em cantos opostos completam a decoração da enorme sala com tão poucos móveis.

O que estranho ao observar melhor, é o fato de ter um par de sapatos e meias espalhados pelo chão. Adam sempre foi muito obcecado por limpeza e organização, o que quer dizer que ele estava com bastante pressa para ter deixado tudo nessa situação, provavelmente atrasado para o trabalho.

Deixo minha bolsa sobre a mesa de centro e recolho seus objetos deixando em um canto.

Caminho até a cozinha pensando no que vou preparar. Pacco me ensinou alguns truques para fazer uma comida deliciosa, mas que jamais se comparará com a dele, infelizmente. Pensando nisso, lembro-me de uma vez em meu apartamento quando preparei um jantar e arranquei vários elogios de Adam e dos meus amigos. O prato era a minha massa com camarões ao molho branco. Seria minha especialidade, ou nada.

Mexo nos seus armários e geladeira em busca dos ingredientes, já tenho essa liberdade. Encontro quase tudo que preciso, exceto o mais importante: o camarão. Tenho que descer até o Wal-Mart que fica no final da rua e comprar, mas antes escolho um vinho branco da sua adega e coloco na geladeira para ficar no ponto que julgo ser perfeito.

Vou até a sala pegar minha bolsa, quando noto um buquê de rosas vermelhas jogadas em cima de uma das poltronas. Então foi para comprá-las que Adam esteve na floricultura mais cedo, mas novamente estranho o fato dela estar ali ainda, sem ter sido entregue a mim ou posta em um vaso com água. Permaneço em pé tirando minhas próprias conclusões, ou criando caraminholas, quando escuto algo caindo e se espatifando no chão. Não foi perto de mim, ou o susto teria sido maior, o barulho parecia vir do quarto de Adam.

Em qualquer outro momento eu sairia correndo dali sem ao menos olhar para trás, como sugiro nos filmes de terror quando a mocinha resolve ver o que tem dentro do armário ou de baixo da cama, mas dessa vez resolvo ver o que está acontecendo, não seria ladrão. Qual ladrão conseguiria entrar em uma cobertura de um prédio de luxo aqui em São Francisco?! A segurança é reforçada.

Aproximo-me do corredor onde fica o seu quarto e o banheiro social, quando ouço uma música suave vindo do seu quarto.

- Adam? – chamo, mas não obtenho resposta.

- Adam!? – chamo novamente. Ele não seria tão irresponsável de deixar o som ligado estando fora.

Vou até o quarto descobrir o que há de errado com o som e ver o que caiu no chão, quando me deparo com uma cena que jamais passou pela minha cabeça quando pensei em vir até o seu apartamento preparar-lhe um jantar.

Minha bolsa que segurava com o caso de ser um bicho circulando pela casa cai ao chão, chamando a atenção do casal que protagoniza uma típica cena de filme pornô.

Genevieve está deitada de barriga para cima, mas não livre, ela tem o meu noivodebruçado por cima dela, dando-lhe o prazer que ele sempre me proporcionou. A audácia é tanta que assim que me olha, minha ex cerimonialista trata de me dar um sorriso cínico, sua felicidade é visível.

Eu não presto atenção em Adam ou na sua cara de surpresa. Ele, com certeza, não esperava ser pego no flagra.

Recolho minha bolsa e os pertences que caíram dela assim que ela atingiu o chão. Eu não dou showzinho, ou sequer penso em dizer uma palavra. Meu orgulho é maior. Por que mostrar que ver meu quase marido tendo relações sexuais, ou melhor, trepando com a cerimonialista do nosso casamento me atinge tão duramente no peito?!

Dou as costas para sair e tentar esquecer essa cena desprezível da minha mente, quando percebo Adam saindo do seu transe e quase caindo da cama ao tentar se desvencilhar dos lençóis, seus tão sedosos lençóis de seda que eu escolhi.

Genevieve permanece quieta, com o sorriso nos lábios, ainda na mesma posição, esperando que Adam volte para terminar o seu trabalho e talvez ele realmente fizesse isso, assim que eu saísse pela porta.

Chego ao corredor, quando escuto a voz arfante de Adam me chamar.

- Em, eu posso explicar. – Típica frase de homem traíra.

Novo Remetente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora