Capítulo 22 - "(Good)bye"

3.4K 413 102
                                    

Estou cantando uma das dezenas de músicas que tenho em uma playlist formada no Spotify, quando um café ao lardo esquerdo da pista me chama atenção. Já estou em São Francisco há alguns minutos e não demorarei muito para chegar em meu apartamento, mas um cheiro ilusório de café me faz estacionar em um dos espaços vagos na entrada da cafeteria de estrada.

Desconecto o celular do som do carro e, com minha carteira em mãos, sigo o cheiro dos grãos de café moído.

O último cover que tocava dentro de meu carro permanece na minha cabeça enquanto peço um café expresso para viagem. Espantando assim a imagem de James na soleira da sua porta enquanto eu dava partida com o meu carro. A vontade real de permanecer estática e com ele não venceu a realidade de que minha vida está em São Francisco e que ainda não saberei se James está inclusa nela.

O café, mesmo com o copo térmico, aquece meus dedos gelados enquanto caminho de volta para o carro.

O porta copos comprido é essencial para segurar o café sem que derrame ou destampe com o balançar do carro, mas após alguns goles, a primeira tentativa de ligar o carro é falha. Observo minha cara de confusão no retrovisor, mas então tento novamente. E outra vez e mais outra, mas em nenhuma das tentativas meu carro dá sinal de vida. Já estou em pânico quando um senhor de cabelos grisalhos que sai da cafeteria e tem seu carro estacionado ao lado do meu me pergunta se está tudo bem.

Ele, como eu, não entende muito de carro, mas sigo uma sugestão que me dá e retorno para dentro da cafeteria. Dessa vez, do lado de dentro do balcão, está uma mulher, aparentemente um pouco mais velha que eu. Uma expressão de deboche marca o contorno dos seus lábios vermelhos quando paro à sua frente, mas isso não esconde o quanto parece cansada e tem linhas escuras abaixo dos olhos.

— Boa tarde. Você saberia me informar se há uma oficina mecânica nas proximidades? — Sua expressão não muda com a minha pergunta.

— Eu não tenho um carro, mas você pode perguntar isso ao meu irmão. — Aponta para o homem que havia me atendido anteriormente e que agora está ocupado, atendendo uma mesa.

Aproximo-me novamente e faço a mesma pergunta.

— As que eu conheço são longe demais para ir andando. Acho mais fácil que você ligue para um reboque ou alguém vir buscá-la — seu olhar é caridoso quando me responde. Agradeço e deixo que siga de volta ao seu trabalho.

O celular é um peso em minhas mãos. Eu não tenho um número de reboque salvo e a primeira pessoa para pedir socorro que penso é Pacco.

Na segunda tentativa, após ter chamado até cair na caixa postal, meu amigo atende.

– Em? Está tudo bem? – Escuto sua voz com um leve eco ao fundo.

– Sim. Meu carro quebrou uns quilômetros depois da entrada de São Francisco, mas estou bem. Tem como você vir me buscar? Ou enviar um reboque?

Alguns segundos se estendem enquanto espero sua resposta.

– Em, agora eu estou preso em uma reunião junto com Stephan e algumas pessoas importantes sobre o novo restaurante e, infelizmente, não posso sair daqui agora, mas posso mandar um reboque ir buscá-la.

– Ah, não, Pacco, não se dê ao trabalho. Ficarei bem, falarei com Jud. Obrigada.

No terceiro toque, minha irmã atende.

– Oi, Em. Já chegou em São Francisco? Eu não estou em casa. – Sua ligação é cortada por um ruído de fundo e escuto sua risada.

– Onde você está?

– Jimmy irá viajar hoje e vim acompanhá-lo até a estação. Está tudo bem?

– Sim, está. Só queria saber se estava em casa – minto, sem querer interromper o seu momento.

Novo Remetente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora