Uma de nós

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 Vários pensamento em sua mente, muitas coisas acontecendo de uma vez só. Um misto de medo e confusão rondavam em sua cabeça enquanto olhava a paisagem pela janela do trem. Nem mesmo a vista conseguia distrair a garota. 

Ochako fora tirada de seus pensamentos por Nemuri, que estava sentada na poltrona ao lado da sua. A mais velha lhe ofereceu um pouco de água e alguns biscoitos, na tentativa de acalmá-la e tentar interagir um pouco com a jovem. Ochako, no entanto, recusou o lanche, voltando a encarar a vista da janela, cabisbaixa. 

Não se pode culpar a garota por esse comportamento. Afinal, não é para todos descobrir ser uma bruxa e ter que abandonar toda sua vida para ir viver em outro lugar. Sua cabeça estava a mil. Ochako ainda ansiava pela hora em que iria acordar e ver que tudo aquilo não passava de um sonho maluco. Mas a cada minuto em que passava naquele trem ao lado daquela mulher lhe fazia perder ainda mais essa esperança.

Tudo isso começou na tarde do dia anterior. Ochako ainda estava no trabalho. Ela trabalhava em um restaurante como garçonete. Tudo ia bem em seu dia de trabalho, quando houve um erro no pedido que ela trouxe para um dos clientes. A reação do mesmo em relação a esse erro não foi uma das melhores.

— Que merda é essa aqui? — O homem sentado a mesa olhou indignado para o prato.

— P-perdão? — Ochako o questionou, um tanto apreensiva.

— Eu pedi o macarrão com queijo. Onde é que tá a merda do queijo? — O homem falava, grosseiramente.

Ochako olha para o prato de macarrão, o mesmo não havia queijo. Isso realmente foi um erro. Entretanto, a maneira como o homem a tratou foi horrível. Aquilo a deixou muito chateada.

— Eu peço uma coisa é você me trás outra. Qual o seu problema? — O homem continuou.

— Querido, por favor… — A mulher sentada à mesa junto dele o chamou a atenção, super constrangida.

— Cala a boca! — A interrompeu, voltando sua atenção para Ochako. A jovem foi pegar o prato da mão do homem, e o mesmo o joga no chão ao invés de entregá-lo nas mãos dela. — E ainda por cima deixa o prato cair. É nisso que dá contratar jovenzinhas. Só têm o rostinho bonito e mais nada. 

Ochako se abaixou para limpar aquela bagunça, sentindo-se muito envergonhada. Aquilo foi muito humilhante. Todos em volta olhavam para aquela cena, fazendo-a se sentir ainda pior. Aquele homem continuava a dizer coisas horríveis sobre ela, e sobre aquele restaurante. Aquilo a deixou muito irritada. Quem ele pensa que é para tratá-la desse jeito? Aquilo foi maldoso e muito desnecessário. Tudo que ela queria naquele momento era jogar aquele macarrão juntamente com os cacos do prato bem na cara dele e gritar como se não houvesse amanhã, porém, obviamente, não o fez. Entretanto o pior ainda estava por acontecer. 

Ochako olho para o garfo que havia caído junto com prato. O garfo começou a se mexer no chão. Aquilo certamente foi muito estranho. Mas o mais estranho ainda foi quando o garfo simplesmente voou sozinho, acertando em cheio a garganta do homem, fazendo ele e todos em volta se desesperarem, inclusive a própria Ochako. A garota o olhou assustada, observando aquele garfo na garganta dele, e todo o sangue jorrando. Ela havia feito isso? Como poderia se nem sequer tocou no talher? Ela havia simplesmente olhado para ele. Nem ela, e nem mesmo os outros souberam como isso aconteceu. O garfo simplesmente voou na garganta do homem. Aquele garfo que antes estava no chão, próximo de Ochako. Logo, a garota foi culpada por isso. 

A polícia foi chamada no local, e Ochako foi levada para a cadeia. Mais tarde havia saído a notícia de que o homem havia morrido. Aquilo não era nada bom para ela. Mas o que exatamente havia acontecido? A jovem permanecia confusa. Ela não tocou no garfo em momento algum. Aquele objeto se mexeu sozinho. Ela encarou o garfo no momento em que estava sentindo muito ódio do homem. Então, tecnicamente, ela havia o matado? Tudo aquilo era muito estranho. Muito assustador. 

As testemunhas do local também acharam estranho. O garfo voou muito rápido. Rápido de mais para perceberem se ela o jogou ou não. Porém o mais lógico seria alegar que ela havia jogado. No vídeo da câmera de segurança do restaurante mostrava a mesma coisa. Não era possível ver o momento em que ela pegou o garfo e o jogou. Para a sorte da garota, essa notícia, juntamente com o vídeo chegaram no conhecimento da pessoa certa.

No dia seguinte, Ochako ainda estava na cadeia. Estava deitada na cama de sua cela. Estava chorando. Desde o dia anterior, pra falar a verdade. Seu rosto estava inchado, e sua cabeça doía. Os policiais fizeram questão de contar a ela que o homem havia morrido. Estava se sentindo péssima, confusa e assustada. Foi tirada de seus pensamentos quando ouviu barulho de passos. Passos esses que pareciam de sapatos de salto alto, bem diferente do barulho dos passos dos policiais. Logo depois ouviu um barulho que parecia ser o de unhas bem grandes passando pelas grades da cela.

— Não se culpe, meu bem. Aquilo foi um acidente. — Ela se levantou rapidamente, olhando para o lado de fora da cela, dando de cara com uma bela mulher com longos cabelos negros e roupas tão escuras quanto suas madeixas. — Não tenha medo. Não vou te machucar.

— Quem é você? — Ochako perguntou, estranhando sua presença no local.

— Me chamo Nemuri Kayama. E você deve ser Ochako Uraraka, certo? Eu soube o que aconteceu no restaurante. Por isso estou aqui. 

— Você é advogada? — Nemuri deu uma pequena risada pela ingenuidade da garota.

— Não, meu bem. Não sou advogada. Mas eu vim tirá-la daqui.

— Como? — Questionou.

De repente a cela foi aberta como em um passe de mágica. Nemuri, no entanto, permaneceu parada todo esse tempo. A cela havia sido destrancada e aberta sozinha. Ochako logo arregalou os olhos em um gesto de surpresa.

— O-o que você fez? — Perguntou, assustada.

— Eu abri a cela. Agora você já pode sair. Vamos.

— Quem exatamente é você e como fez isso? — Ochako segurava o travesseiro como se estivesse prestes a arremessá-lo em Nemuri.

— Exatamente como você jogou o garfo naquele homem. Com a telecinese. — Ochako olhou para ela, confusa. — Eu vim tirá-la daqui pois você é uma de nós.

— "Nós" quem? — Indagou, abaixando o travesseiro.

— Você é uma bruxa, assim como nós. — Ochako não foi capaz de responder nada. Aquela bomba explodiu em sua cara sem aviso prévio. — Venha comigo. Você deve se juntar ao coven para aprender a usar seus poderes. Não estará segura sozinha. 

Aquilo era muito confuso para sua cabeça. Bruxas existiam? Ela era uma bruxa? Aquilo era um sonho? Ochako ainda tentava digerir essa informação. Estava em dúvida se iria ou não com aquela mulher. Ela deveria acreditar em uma completa estranha que lhe disse ser uma bruxa? Por outro lado, ela estaria condenada a sabe lá quanto tempo de cadeia se não aceitasse sua ajuda.

Nemuri estendeu a mão para Ochako, lhe prometendo que tudo ficaria bem. A jovem hesitou por um momento, mas acabou por aceitar sua ajuda. As duas então saem da cela, andando pelos corredores da delegacia. Antes que pudessem chegar a saída, foram vistas por um dos policiais.

— Ei! O que pensam que estão fazendo? — O policial correu na direção das duas.

Nemuri balançou levemente a mão, e então o policial caiu desacordado no chão. Ochako olhou, assustada, o policial caído.

— Não se preocupe, ele só está dormindo. Quando acordar não se lembrará disso. Vamos logo! — Caminhou até a saída, sendo seguida pela garota.

E cá estava ela, viajando de trem para outra cidade com uma mulher que havia acabado de conhecer. Já haviam se passado mais de duas horas que haviam saído da cidade de Tóquio. Logo fora anunciado no alto falante do trem que a estação da cidade de Kuroimachi estava próxima. A vista da cidade até que era agradável. Pelo visto aquele seria seu novo lar. A jovem mal imaginava pelo que passaria dali pra frente. 

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