Dilema

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 Duas semanas haviam se passado desde a chegada a Kuroimachi. As coisas corriam bem, e até rotineiras. Na casa eles tinham aulas tanto práticas quanto teóricas. Todos ali já pareciam ter pelo menos o mínimo de controle sobre suas habilidades. Ochako e Midoriya, por exemplo, já conseguiam mover os objetos, ainda que não muito grandes, para onde quiserem, e no momento trabalhavam mais a velocidade em que eram movidos. Já Jirou parecia controlar mais suas habilidades telepáticas, e receber vários pensamentos de uma vez em sua cabeça já não era um problema mais.

A aula da vez era a que a maioria ali não gostava, línguas antigas. De acordo com o professor Hizashi, que era quem dava essa aula a eles, feitiços receitados em línguas antigas, como latim, são muito poderosos, pois suas palavras carregam muita história e têm muito impacto. O professor era animado e tentava passar essa animação para os alunos também, o que não adiantava muito para alguns que ainda tinham dificuldade.

— Eu tô pronunciando isso certo? — Jirou lia as palavras que escreveu em latim.

— De jeito nenhum. Essa palavra se pronuncia com a letra L. Tem que fazer assim com a língua. — O loiro demonstrava.

— A escrita ocidental me confunde um pouco ainda. — Mina comparava o alfabeto romano com o alfabeto katakana.

— A pronúncia é tudo na hora dos feitiços. As palavras devem ser ditas corretamente para funcionar. — Hizashi repassava a lista de palavras mais usadas.

O restante da aula ocorreu bem. Depois de muito persistir, leram e escreveram todas as palavras e frases da lista. Após finalizarem os estudos do dia, estavam todos sentados em puffs na biblioteca enquanto discutiam sobre o que aprenderam até agora.

— Já falei que tô amando esse lugar? É porque eu tô mesmo. — Mina, como sempre, era a mais animada.

— Isso aqui é muito melhor que a faculdade. — Tsuyu reforçou seu entusiasmo por tudo que aprendeu.

— Tirando a parte do latim, é tudo maravilhoso aqui. — Midoriya retomou o assunto da aula que tiveram.

— Ai, sinceramente. Vou trancar o latim. Isso não é pra mim. — Todos tiram com a fala de Jirou.

— Tenham paciência. Pensem no que poderemos fazer quando dominarmos a língua. — Momo encorajou os amigos. De todos, era a que mais se deu bem com o idioma.

— Vou testar algum feitiço em latim depois. Preciso treinar mais a pronúncia. — Ochako tenta trazer um dos livros até si com a telecinese. O livro veio um pouco rápido demais, mas por sorte ela conseguiu pegar. — E pelo visto a telecinese também. — Riu.

— Pelo menos você tem. Queria poder mover as coisas também. — Mina resmungou.

— Não se esqueça do que a Nemuri disse na aula ontem. Telecinese é um poder bem comum entre as bruxas. Uma hora ou outra nós vamos despertar isso também. Não se preocupe. — Momo a tranquilizou.

— Que feitiço você vai testar Ochako? — Tsuyu perguntou.

— Ah, qualquer um bem simples. Algum para proteção ou concentração, sei lá. — Falou, descontraída.

Ochako fingiu ao máximo, mas sabia muito bem qual feitiço queria fazer. Algum tempo depois de ter encontrado Bakugou na cafeteria, estava decidida de vez em esquecer do rapaz. Com a ajuda de Jirou, Ochako foi atrás de uma solução mágica para isso. Sua amiga então lhe sugeriu algo que viu no livro de feitiços simples. O feitiço consistia em escrever seu nome e o de Bakugou, um em cada vela, ambas ligadas pelo mesmo pavio. Em seguida acender o pavio e deixar que o mesmo se queime por inteiro, assim separando as velas. Para a infelicidade da garota, nada mudou. Talvez o feitiço fosse tão simples que chegasse a ser fraco. Por isso tentaria de novo aplicando o que aprendeu na aula para dar mais força.

— Por falar em feitiço, depois do jantar eu vou na livraria Sabbath Gore comprar algumas coisas. Se alguém quiser alguma coisa…

— Na verdade acho que eu vou com você. — Ochako lembrou que precisaria comprar mais velas já que usou as últimas.

— Eu até iria também, mas eu tô com preguiça. — Jirou se espreguiçou no puff.

— Não tem problema, pode só me dar uma lista do que quer.

Após o jantar, o restante das garotas entregaram a lista do que queriam para que Midoriya e Ochako pudessem comprar. No caminho conversavam animadamente sobre a evolução de seus poderes. Estavam ansiosos para verem até onde poderiam evoluir. Entraram na loja e a primeira coisa que Ochako verificou foi se Bakugou ainda estava lá, e sim, estava. O cumprimentou com um sorriso fraco de longe só para não piorar a situação, já que evitava falar com ele sempre que o encontrava. Concentrou apenas nas compras.

— Onde ficam as pedras de quartzo rosa mesmo? — Midoriya pergunta lendo a lista.

— Bem ali. — Ochako andou até onde estavam. — Precisa de mais alguma?

— Não, só essas mesmo. — Voltou a ler a lista. — O tarô é pra quem mesmo?

— É pra Momo. A Nemuri disse que o tarô é ótimo para trabalhar a adivinhação. — Ochako pegou o tarô também.

— Acho que já foi tudo. — Ambos foram ao caixa para pagar. — Que tal se a gente levasse alguns bolinhos? — Ele perguntou a Ochako que concordou na hora.

— Não temos bolinhos prontos agora. Mas se quiser esperar, a próxima remessa fica pronta em 10 minutos mais ou menos. — Todoroki os avisa de trás do caixa.

— Se quiser pode ir levando as coisas pra casa que eu fico aqui esperando. — Ochako entregou a sacola para o amigo.

— Tem certeza?

— Tenho sim. Pode ir que eu espero. — Ochako confirmou.

Midoriya certificou-se de que a amiga ficaria bem e então foi na frente. Ochako se sentou em uma das mesas para esperar enquanto lia um livro qualquer que viu na mesa enquanto passava o tempo. Depois de alguns minutos de silêncio, ela ouviu a porta da cozinha sendo aberta, vendo Bakugou saindo apressado, deixando uma bandeja de bolinhos no balcão.

— Preciso resolver algumas coisas. Fecha a loja? — O loiro entregou as chaves para Todoroki que concordou.

Bakugou pegou o celular e saiu. Ochako não pôde negar que ficou curiosa. O que teria feito ele sair tão apressadamente assim?

— Os bolinhos estão prontos. — Todoroki disse, colocando-os em um saquinho.

Ochako agradeceu, pagou pela comida e saiu. Do lado de fora, viu Bakugou perto de sua moto, falando ao telefone.

— Calma, fala devagar… — O loiro falou, irritado. — No cemitério perto da floresta? — Ele tinha uma expressão preocupada no rosto. — Tá, eu já tô indo pra lá! — Desligou o celular e subiu na moto.

Quando a moto partiu, Ochako sentiu uma presença estranha. Olhou para cima e viu um vulto pulando por cima das casas. O vulto parecia seguir Bakugou. Aquilo a preocupou muito. Sentia que o rapaz corria perigo. Ela então se viu num dilema. Deixar isso pra lá e voltar pra casa, ou seguir sua intuição e ir atrás do loiro.

— Merda! Eu com certeza vou me arrepender disso. — Disse, já decidida.

Season of the WitchOnde histórias criam vida. Descubra agora