Feitiço de prosperidade

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Depois de um dia cheio de aulas, e de um bom lanche da tarde, todos descansavam no grande sofá da sala de estar. Midoriya havia contado sobre a experiência que teve na noite anterior, revelando seu recém descoberto dom para a projeção astral. Em relação aos psicopompos, Nemuri havia dito que era só questão de prática para que ele pudesse ficar mais tempo, porém, para uma primeira vez ele havia arriscado deixar tantos aparecerem para então voltar.
O rapaz conversava com os outros sobre ter visto Shoto no sonho, alegando que ele também estava em projeção astral. Aquilo gerou um questionamento em todos, pensando se ele também seria um deles.
— Você tem certeza mesmo de que ele estava consciente? — Tsuyu o perguntou.
— Tenho sim. Ele até me respondeu.
— Mas você poderia ter falado com qualquer um do sonho, não poderia? — Momo constatou.
— Bom… acho que sim. Mas eu tenho certeza de que ele estava consciente. Só não sei como ele conseguiu. Já que ele não tinha conhecimento do tempo que poderia ficar, não deve ter estudado direito pra isso.
— Ainda bem que você estava lá então. Imagina só se acontecesse algo com ele? Não gosto nem de pensar. — Todos concordaram com Momo.
— Será que ele já manifestou algum poder na nossa frente e não percebemos? — Jirou se questionou. — O Bakugou já falou algo sobre ele? — Ela perguntou para Ochako.
— Só mencionou que acha ele estranho. O que eu achei bem maldoso, pois ele me parece normal. — Respondeu, envergonhada de ter falado de Shoto pelas costas.
— Mas então, o que vamos fazer? Vamos só chegar nele e falar "Oi. Então, sabemos que você é bruxo. Vem com a gente."? — Mina perguntou, o que deixou o resto pensativo quanto a isso.
— Engraçado que foi mais ou menos assim que a Nemuri chegou em mim. — Ochako completou.
— E se ele não aceitar? Quer dizer… ele sempre pareceu querer viver a vida dele normalmente, não é? — Mina perguntou novamente.
— Bem, não tem como saber. Talvez essa seja a primeira manifestação de poder dele, e a partir daí ele tenha mais interesse. — Shinso supôs tal situação.
— Seria tão mais fácil se ele viesse até a gente. — Jirou suspirou com toda essa discussão.
— Espera… — Momo parecia refletir sobre o que Jirou havia dito. — É isso! Se ele realmente for o que pensamos, então vamos fazê-lo vir até nós.
— Mas como? — Ochako perguntou, ainda sem entender.
— Venham comigo. — Momo se levantou do sofá, sendo acompanhada pelos outros.
Todos a seguiram até o andar de cima, indo para a biblioteca. Viram ela procurar algo em uma das estantes do local, ainda curiosos. Ela finalmente pareceu encontrar o que procurava, retirando um livro da estante.
— Algum dos feitiços padrões vai nos ajudar? — Tsuyu perguntou olhando para o livro.
— Eu me lembrei de uma oração bem simples para prosperidade. — Ela abriu o livro e folheou até a página desejada. — Estão vendo? Essa daqui, em que usamos o poder dos quatro elementos, e pedimos à deusa mãe.
— E trocando só algumas palavras para direcionar a oração para ele. — Mina completou seu raciocínio, e então todos ali pareceram entender.
— Yaomomo, você é um gênio! — Jirou disse, animada, fazendo-a sorrir.
— Então vamos fazer isso. Do que precisamos? — Midoriya perguntou, animado para começar.
— Precisamos de algo que represente cada um dos elementos. Acho que aqui deve ter algo. — Momo foi verificar em um dos armários da biblioteca.
— Vou pegar água na cozinha. — Tsuyu falou, saindo do cômodo.
Depois de terem reunido tudo que precisavam, eles se sentaram no chão, formando uma roda. No meio dessa roda, colocaram os objetos que reuniram. Um incenso para representar o elemento ar, uma vela para representar o fogo, um potinho com água para representar a própria água, e um vasinho com uma planta para representar o elemento terra. Bem no meio desses objetos, colocaram um pedaço de papel escrito o nome de Shoto. Preparado tudo, todos deram as mãos e começaram:
— Grande deusa mãe: guie este indivíduo com sabedoria… — Momo deu início à oração.
— Faça com que ele compreenda o que não tem explicação… — Tsuyu deu continuidade na reza, que seguia em sentido horário.
— O conforte em teus seios quando preciso for… — Logo foi a vez de Jirou.
— Dê a ele luz para clarear a mente dos que não entendem… — Mina falou logo depois.
— O encha de coragem para enfrentar o preconceito de cabeça erguida… — E logo depois, Ochako.
— O ilumine para que ele possa se encontrar...
— Ajude-o a ver com teus olhos, todo o conhecimento… — E depois, Midoriya.
— E eu te peço para que mostre a ele o caminho da tua verdade… — E por último, Shinso.
— Que assim seja, e assim será! — Todos recitaram a última parte ao mesmo tempo, finalizando a oração.
Por fim, usaram a água para regar a plantinha, e deixaram a vela e o incenso para terminarem de queimar em um lugar seguro.
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No dia seguinte, já na sexta-feira, Shoto já terminava seu expediente no horário combinado com seu chefe. Ele saiu do trabalho um pouco mais cedo do que o usual, pegando suas coisas e indo para a casa do amigo.
Não era tão longe do centro, então não demorou muito para chegar. Era tão bonita por fora quanto era por dentro. Viu o carro do pai de Inasa estacionado na frente, supondo então que ele estaria em casa. Shoto tocou a campainha, vendo o pai do amigo o atender. O bicolor se assustou, olhando para ele de uma forma desconfiada. Não ia nem um pouco com a cara dele.
— Inasa, é pra você! — Ele apenas gritou pelo filho, passando pelo rapaz, e indo em direção ao carro.
Shoto o observou, vendo-o entrar no carro e dar a partida. Sequer podia imaginar para onde iria à essa hora.
— Shoto! Que bom que chegou. — Inasa o tirou de seus pensamentos. — Vem, pode entrar. A Camie e o Seiji já estão aqui. — Deu passagem para que ele pudesse entrar.
Shoto adentrou o local, o vendo exatamente como na projeção astral. Os mesmos móveis, as mesmas portas, e até mesmo o local perto da mesa, no qual Inasa havia se sentado para chorar. Exatamente como lembrava.
— Não sabia que seu pai saía tão tarde. Ele trabalha à noite? — Perguntou, tentando soar despretensioso.
— Ele trabalha a qualquer hora, na verdade. — Respondeu, nem dando bola para a saída do pai.
— Gente! E não é que ele veio mesmo? — Camie chegou no hall de entrada da casa, vendo que Shoto estava ali.
— Ah, não fala uma coisa dessas, Camie. É claro que ele viria. — Inasa riu da garota.
Todos foram para a sala de estar, onde colocaram um vídeo game de terror. Todos acabaram jogando um pouco. Shoto jogou até ficar agarrado em uma certa fase, dando o controle para Seiji, que ficou alternando entre ele e Camie para ver se conseguiam passar.
Depois de um tempo, Shoto e Inasa foram até a cozinha para pegar algo para beberem junto da pizza, deixando os outros dois terminarem a fase.
— Aqueles dois não vão dormir enquanto não zerarem o jogo. — Inasa riu dos amigos empenhados na sala.
— Eu já teria desistido. Não levo jeito pra jogar video game. — Shoto falou, vendo a expressão de surpresa no rosto de Inasa.
— Sério? Eu jogava sempre que podia. Pode-se dizer que eu era viciado.
— Eu só jogava com o meu irmão quando eu era pequeno. Isso já faz tempo.
— Seu irmão? — Inasa perguntou, tentando se lembrar. — Ah sim, o Natsuo. Já faz tempo que não o vejo. Na verdade, faz tempo que não vejo sua família. — Shoto engoliu seco com a fala do amigo, pois Inasa não via seus familiares desde o momento em que Shoto decidiu tentar afastá-lo por conta de seus poderes que herdou da mãe. — E como eles estão? Seus irmãos, sua mãe.
— Meus irmãos estão bem. O Natsuo se casou e está morando em Tóquio, e a Fuyumi já está quase se formando em gastronomia. A minha mãe… — Ele deu uma pausa. — Bem, ela está morando com meu avô em Chōsei pra… pra tratar dos problemas dela.
— Ah… — Inasa se sentiu mal em ter perguntado. — Sinto muito! Acho que não devia ter perguntado.
— Tudo bem. Eu tenho mesmo que lembrar de tirar um dia para visitá-la, então…
— Amanhã você tá livre, não é? Ou vai ter que trabalhar no sábado?
— Amanhã eu não trabalho não. Mas não sei se conseguiria comprar passagem de trem tão em cima da hora.
— Ah eu posso te levar se, se você quiser. O tanque do carro da minha mãe tá cheio, e ela não liga se eu usar. — Inasa logo se ofereceu para ajudar.
— Tem certeza disso? Não quero que se incomode.
— De jeito nenhum. Além do mais, amanhã eu também tô livre.
— São mais de duas horas de viagem, e, bem… não tem muito o que fazer lá. Meu avô mora praticamente em uma fazenda.
— Tá tudo bem, eu gosto de fazenda. É bom pra relaxar da loucura que é a cidade grande.
— Tudo bem então, se não for te incomodar. Muito obrigado! — Shoto o agradeceu.
— Que isso! Eu faria de tudo por um amigo. — Inasa sorriu.
Shoto sorriu de volta para ele. Os dois então pegaram as bebidas e voltaram para a sala.
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O relógio já marcava dez e meia da noite na academia. Depois de um dia inteiro de aula, tanto prática quanto teórica, todos ainda estavam reunidos na biblioteca, revidando mais algumas coisas antes de irem dormir. Todos já estavam pegando o jeito para línguas antigas, então estavam apenas revendo alguns dos feitiços nessa língua para a aula no dia seguinte.
— E agora só mais essa página. — Momo entregava alguns papéis para todos.
— Mais uma? — Mina falou, incrédula.
— Vamos, Mina. A gente tá conseguindo. Falta só mais essa. Olha só. — Tsuyu a encorajou, pegando uma das rosas. — Color Inmutatos.* — Ela revirou as palavras, fazendo a rosa, que antes era branca, ficar vermelha.
— Se eu te trouxer um chá, você faz só mais essa página? — Momo tentou convencê-la.
— Tentando me comprar com bebida quente? — Mina arqueou a sobrancelha. — Tudo bem, eu aceito! — E por fim, se rendeu.
— Alguém mais vai querer? — Momo perguntou, vendo mais alguns pedirem também.
Ela riu, saindo da biblioteca e descendo as escadas. Estava indo para a cozinha, quando ouviu um barulho vindo justamente de lá. Essa estranhou, vendo que a luz do local estava apagada, logo não poderia haver alguém ali. Ela andou até a cozinha, devagar, tentando ouvir se o barulho se repetia. Ela acendeu a luz, não vendo ninguém. Apenas o que viu foi a janela aberta que batia com o vento.
— Quem foi que deixou a janela aberta? — Ela suspirou, indo até lá para fechá-la.
Novamente, ela ouviu outro barulho atrás de si. Um barulho bem diferente. Ela gelou, arregalando os olhos, e se virou para trás, devagar. Lá, um rapaz desconhecido olhava para ela, com um sorriso vitorioso enquanto lhe apontava uma arma.
— Não vai escapar de mim, bruxa! — Ele falou, apertando o gatilho.
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Tradução:
- Color inmutatus: Cor trocada em latim.

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