Cortina de Aço | Parte 11

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- Bom dia! Ou devo dizer boa tarde? Já almoçou? - Erik estava descontraído.

- Boa tarde! Não, bom dia, ainda não almocei. Na realidade pedi um lanche, vou ficar por aqui mesmo - Passou por Erik para sentar na outra poltrona, mas foi impedida por ele que levantou e segurou seu braço.

- O que quer?- perguntou demonstrando seu cansaço.

- Meu Deus! - disse largando o braço - Que mau humor...

- Estou mesmo. Achei que a farsa já havia terminado.

- Não foi tão ruim assim, foi? - era como se Djey pudesse ver refletido nos olhos de Erik as imagens da noite anterior.

- Prefiro nem comentar. Como Está Mylena?- perguntou mudando de assunto.

- Está bem e pediu para você ligar para ela. Quer vir almoçar comigo?

- Não posso, tenho muito trabalho hoje, obrigada por convidar. Quer dividir o sanduíche comigo aqui? Você que sabe- sorriu mais relaxada. Sabia que Erik não ficaria, mas continuou mesmo assim- Pedi um sanduíche mas, com certeza Carol deve ter pedido um a mais e o suco terá que dividir comigo. Abacaxi com hortelã, gosta?

- Ótimo, vai ser divertido.- falou abrindo um largo sorriso.

Erik não parecia se importar muito com status, para ele tanto fazia almoçar num restaurante de luxo ou comer um simples sanduíche no escritório. Quando o entregador trouxe o lanche, preparou tudo numa bandeja, os dois copos com suco, os sanduíches colocou nos dois pratos dispostos na bandeja e levou para a mesinha redonda no canto da sala com duas cadeiras.

- Podemos almoçar agora? - convidou-o apontando uma das cadeiras enquanto sentava na outra. O espaço parecia pequeno demais com Erik sentado ali. Suas pernas não demoraram a encostar nas de Erik que notou o seu rubor e pareceu se divertir com a situação.

- Hoje você está muito séria Djey. Gosto mais quando se solta. Fica mais bonita ainda sorrindo.

"Sei do que está falando", pensou ela. Porém teria que tomar cuidado com esse homem intrigante.

Os dois estavam famintos, vez por outra suas mãos se cruzavam no pequeno espaço. "Por que essa sensação como se estivesse levando um choque"? Sentia que não podia encostar nele pois cada célula de seu corpo parecia reagir.

- Quando vai visitar vovó?- Erik perguntou depois que acabaram o almoço e sentaram nas poltronas de couro marrom para descansar.

- Ligo para ela marcando um horário ainda esta semana.

- Faça isso, ela irá gostar. Vovó fica muito sozinha naquela casa e gosta de companhia. Pelo que vi simpatizou muito com você.

- Também adorei sua vó. Perdi minha mãe faz três anos e sinto muito a falta dela. Conversar com Mylena me trouxe muitas lembranças.

-  Sinto muito Djey. Gostaria de jantar qualquer dia desses?- perguntou olhando fixamente em seus olhos.

- De repente, é só me avisar- Foi a resposta que conseguiu dar.

- Excelente! Ligo para você marcando- Erik levantou e como um gato enorme e ágil, esgueirou- se sobre ela e depositou um beijo sobre seus lábios. Um leve tremor percorreu seu corpo. Teve vontade de segura-lo e fazer com que sentisse o mesmo que estava sentindo, mas apenas pode vê-lo ir embora , parada, sem nenhuma reação. Tinha vontade de sair correndo atrás dele. Isso parecia loucura, não conseguia entender o que estava acontecendo.
Algum tempo depois Carol voltou perguntando se tudo estava bem e continuou seu trabalho. 

Djey preferiu não mencionar nada sobre Erik ter ido em seu escritório ou sobre o coquetel. Não estava querendo responder nenhum tipo de pergunta ou ouvir opiniões sobre o que fazia ou deixava de fazer.

Seu telefone tocou e foi atender.

- É seu pai Djey.- disse Carol.

- Pode passar a ligação Carol, obrigada- Houve uma breve pausa e ouviu a voz rouca de Harold cumprimentando-a.

- Olá Filha. tudo bem com você?- o tom carinhoso lhe encheu o coração.

- Estou bem papai. Pela sua voz vejo que o senhor também está.

- Sim estou bem. Já almoçou?- perguntou demostrando preocupação.

- Almocei por aqui mesmo, estou bem atarefada.- suspirou.

- Ai, ai, toma cuidado para não adoecer, fica ai se alimentando mal e trabalhando feito uma maluca- Harold já sabia que quando ela almoçava no escritório acabava passando a sanduíches.

- Tranquilo papai, está tudo certo.

- E como foi a festa? Estou curioso.- perguntou Harold interessado.

- Estava muito boa!- não estava mentindo.

- Se divertiu bastante?

- Sim, bastante. Encontrei alguns conhecidos e fiz novos amigos- Se bem que para os conhecidos não teve muito tempo, Erik tinha outros círculos de amigos. Seus "amigos" só ficaram curiosos pelo fato de os verem juntos, Erik e ela.

- Que bom, mas, quando vou te ver de novo Djey?

- Vou tirar um dia pra ligar para o senhor. Assim que as coisas se acalmarem por aqui marcamos um dia para nos ver. Tudo bem?

- Pode ser sim. Te amo minha filha- Harold falou ternamente.

- Também te amo papai. Beijo. 

Não passava mais de uma semana sem ver ou ligar para seu pai. Depois que sua mãe morreu seus laços ficaram mais estreitos. Ao desligar o telefone pensou como era solitária a vida de Harold e a sua. Ainda sentia muita a falta de Eveline Walace, sua mãe, por isso mesmo se envolvia no trabalho o quanto podia. No inicio foi bem difícil para os dois, mas com o tempo a saudade tomou o lugar da dor e os dois aprenderam a lidar com as emoções. Sua mãe sempre teve uma saúde de ferro mas com o tempo alguns problemas foram surgindo. Um deles foi um problema com as artérias do coração. De repente ela teve que fazer uma cirurgia de emergência, com isso acabou com duas pontes de safena, indo quase a óbito durante a cirurgia.

O ano seguinte foi complicado porque era necessário mais cuidado ainda do que já tinham com ela. Num domingo quando estavam tomando o café da manhã ela sentiu-se mal, foi levada para o hospital de urgência e emergência, mas não havia mais o que fazer. A notícia do seu óbito os deixou arrasados. Nunca havia imaginado aquela situação, foi horrível, muita dor e sofrimento. Fez de tudo para esquecer aquele dia. Aos poucos foram conseguindo. Agora era ela e seu pai e sempre que podia reafirmava seu amor por ele.


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