Capítulo Um - Noite de filme

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  Hawkins, 10 de dezembro de 1985

A pequena cidade, ainda que em climas pesados e tensos, sem um prefeito, sem um xerife, já se encontrava em humor natalino. Donos de lojas se empolgavam, pois com o fechamento do Starcourt Mall e a chegada do natal, as vendas aumentariam e a falência não seria mais realidade. Os estabelecimentos que já haviam sido trancados, por outro lado, permaneceriam daquele modo.

Ao som de I Want To Break Free de Queen, música que ainda fazia sucesso após um ano de lançamento — e continuaria fazendo — Robin e Steve chegavam mais uma vez na Family Video, local onde trabalhavam depois do "incêndio" no shopping. No fundo, estavam contentes por não terem que trabalhar mais naquele fim de mundo que era a soverteria Scoop's Ahoy, não tendo que aguentar pirralhos irritantes o tempo inteiro, em principal Erica Sinclair, que ainda queria ser paga pela situação de risco que foi exposta meses antes.

Keith os esperava e não deu outro sermão em Harrington, que se comportava para não perder o segundo emprego. Não queria decepcionar o pai e não teria outras opções caso fosse despedido. Antes mesmo de ir fazer suas tarefas, o sino que ficava sobre a porta e indicava quando a mesma era aberta tocou, balançando de um lado para o outro, chamando a atenção do acastanhado e da garota ao lado. Robin se virou, e deu um sorriso de canto, empurrando o ombro de Steve sem usar muito da força com o próprio. Dustin e Lucas entraram, ambos tinham crescido, enquanto uma garota ruiva, com um skate sob o antebraço e um garoto com cabelos encaracolados e negros discutiam do lado de fora, expostos aos outros pelo vidro do local. Steve revirou os olhos, já sabendo o que queriam. As vindas eram frequentes.

Não, Henderson. Nem pensar. De novo não. Aqui não é a porcaria do cinema. — ele se debruçou atrás do balcão, antes dando uma conferida atrás de si. Keith não estava ali mais.

Steve, qual é. Parceiro. Você nem fez nosso aperto de mãos. — Dustin reclamou, tentando convencer o mais velho.

— Cansei de fazer ele todas as semanas. Porque vocês não param de vir aqui!

— Não conseguimos juntar todo o dinheiro necessário! Só mais uma vez. Eu nunca te deixei na mão.

Robin tentava não rir do outro lado da bancada, fingindo ajeitar filmes de ação em uma das prateleiras. Não lia nenhum dos nomes, entretida na conversa.

Steve, deixe de ser tonto e empreste mais um a eles. O outro tonto não vai notar. — Robin pediu com o humor habitual e o sorriso travesso que sempre habitava seus lábios. Ela nem percebia. Harrington passou a mão esquerda pelos cabelos castanhos e perfeitamente arrumados — seu charme, como afirmava — soltando um suspiro de derrota.

Última vez. Estão me ouvindo? Ou eu...

— Mata a gente?

— Sim.

Lucas, antes calado, chamou Dustin e se pôs a andar com pressa pelos corredores, procurando pelo filme que tanto queriam ver. De volta para o futuro se encontrava na prateleira designada para filmes de Ficção-científica, o gênero favorito dos garotos, principalmente do rabugento do Wheeler, que brigava com Max do lado de fora. As brigas eram uma rotina e nunca mudavam o tópico, como um disco velho repetindo o verso da música até estragar. Jane. Ou melhor, El. Mike sentia falta da ex-namorada, ainda mais depois do "eu também te amo". A declaração repentina e sem avisos prévios mexera com o de fios castanhos escuros, lhe trazendo uma confusão que ninguém entendia. Se ambos se amavam, se era recíproco, por que enrolar tanto para voltarem? Do que mais precisavam? Do que mais Mike precisava? Um anel de compromisso que não era, Eleven e ele nem consideravam aquilo.

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