Capítulo Dez - A Festa

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Hawkins, Indiana. Meio de março de 1988.

Desde a discussão com Mike, Will passou a se sentar com Max e El em mesas separadas da do garoto, de Lucas e Dustin. As vezes, El e Max se sentavam com eles o que resultava em um Byers solitário.

Nas aulas, conversava normalmente com os amigos, com exceção de Mike. O evitava o máximo que podia. As sensações esquisitas nunca iam embora.

Dustin e Max o visitavam, e eles juntamente com Jane se divertiam sozinhos, lendo quadrinhos ou aprendendo a andar de skate com ajuda da Mayfield, ou rindo das piadas recém descobertas por El.

Na última semana de março, no início da primavera, o dia da festa chegou. Uma festa normal entre adolescentes, que usavam de desculpa para beberem e se drogarem até os fígados — e todos os outros órgãos — pedirem socorro.

— O que você vai vestir? — El, que usava uma calça jeans clara e uma blusa extremamente bonita para sair, com um pouco de maquiagem (ela ainda estava aprendendo) no rosto, entrou no quarto, percebendo que Will estava de pijama. Ela o olhou com tristeza — Você não vai?

— Você sabe que Mike e eu brigamos. Eu não tenho um convite.

— Quem liga pra convite? Não é como se alguém fosse ficar na porta pra impedir. Entra de penetra!

— Onde você aprendeu essas coisas?! Eu não vou ser bem vindo, vou incomodar. Eu nem gosto de festas. Nem você.

— A Eleven de três anos atrás nem sabia o que era festas. — Jane, sorridente, se sentou ao lado dele na cama, colocando as mãos em seus ombros — A El de hoje, ou Jane como você prefere...Vai experimentar uma festa. Não ouse me deixar sozinha lá. Max é louca.

— Só percebeu agora? — riram — Promete não me deixar sozinho?

— Prometo. Amigos não quebram promessas. Nem irmãos.

  Com o coração um pouco menos pesado, Will a dispensou do quarto e trocou de roupa. Sempre disseram que suas roupas eram coloridas demais. Na outra cidade, tentou mudar, mas lá disseram que ele parecia um gótico satanista. Por que não misturar os gostos? Seu armário era igual um arco-íris em cores pastéis, com roupas neutras e também vibrantes. Escolheu uma calça escura e uma blusa listrada — vermelho e branco.

  Lucas, que com dezesseis aprendeu a dirigir, os buscou. Max no banco da frente; Dustin, El e Will atrás. No rádio do carro tocava Everybody Wants To Rule The World, música popular em 1985.

— E aqui estamos! — Lucas anunciou com um grande sorriso ao parar o carro em frente à uma enorme casa. Estavam em um dos bairros ricos de Hawkins.

Uou. Me lembrem de não conversar com a dona dali. — Max brincou. Ela não apreciava muito pessoas ricas demais. Todos saíram do carro.

  All She Wants To Do is Dance tocava ao fundo, dando um clima animado à festa. Alguns dançavam na sala, outros na cozinha e até mesmo nas longas escadas. A pergunta de onde estaria Mike se repetia na mente de Will, que tentou se distrair justamente por aquilo.

— Podemos pegar alguma bebida? Eu nunca provei. — El pediu, arrastando-o pela festa. Will notou que aquela era uma pergunta com uma única resposta: sim.

  Chegaram na cozinha da casa, onde as bebidas estavam postas na mesa e no balcão. Day in Day Out começou, e Will adorou, pois David Bowie era um de seus favoritos. Se lembrou de Johnatan.

— Isso fede. — Jane cheirava a bebida em seu copo. Ela lambeu, e então virou o copo — E queima. — fez uma careta ao terminar de beber, largando o copo na pia — Odiei. Como gostam disso? Quer provar?

— Eu bebi uma vez. Não conte à Joyce.

Will seguiu Jane pela festa por pelo menos uma hora. Conversaram com desconhecidos e com os amigos, riram de piadas toscas e músicas que não gostavam, da forma como dançavam.

— Will! Vou ter que roubar El de você. — Max não parecia tão sóbria quanto antes. Jane franziu a testa, tentando não rir do jeito que a voz de Max soou. E saíram dali. Dustin, outro garoto que não gostava de festas, estava encolhido em um canto, com o cabelo cheio de spray. Will foi em direção ao amigo.

— Se perdeu de Lucas?

Ele negou, sorrindo para Byers.

— Não, ele encontrou com os outros amigos e eles são burros demais pra mim. E nojentos. Você se perdeu da Eleven?

— Ela e Max fugiram de mim. Garotas... — revirou os olhos de forma divertida e lenta, se apoiando na parede.

— E Mike?

— O que tem ele? — Will tentou parecer descontraído e empolgado pela festa, porém era óbvio o quanto queria ver o garoto.

— Você pode chamar Lucas de idiota. E talvez dizer que El é um pouco...Cega. — Dustin não utilizou da sensibilidade. Aquela conversa já começava a confundir Will — Mas eu e Max percebemos tudo. Temos o dom da observação, meu caro.

Ele havia bebido? Will se questionou.

— Do que você tá falando, Dustin?

— Ah, pelo amor da santa paciência! Você tá evitando o Mike há dias. Seja lá o que ele fez, deve ter sido ruim, porque antes você aceitava as desculpas dele. E eu sei que ele tentou se desculpar, porque ele me contou. Pelo o que, não sei. — Henderson deu de ombros, apontando para Will em seguida — Você, Will Byers, gosta do seu melhor amigo.

One Lover at a Time invadia o ambiente. Aquela música era tortura aos ouvidos de Byers. O discurso de Dustin também. Seus amigos sabiam.

— Eu sei que é...

— Nem vem! Não tem nada de errado. Não pra mim. Ou pra Max. Ela e eu conversamos sobre.

Aquilo surpreendeu William. Seus amigos...O aceitavam? Ele ia levar o segredo para o túmulo e Dustin estava estragando todo o seu plano. Jamais daria certo tentar algo com Mike. Era errado. Não importava o quanto dissessem que não.

— E Lucas...?

— Lucas não sabe de nada porque não cabe à mim contar sobre algo que não é da minha conta. Eu só...Estou exausto da burrice de vocês. — Dustin suspirou, revoltado — Mike deve estar tão confuso quanto você.

— O que você quer dizer?

Dustin riu com a pergunta. O volume da música ficou mais alto e ele teve que se aproximar mais para dizer o que contou em seguida.

— Will, sua lerdeza me deixa pasmo! Mike namorava com El, ele a amava, certo? Pelo o que me contaram, ele disse que a amava. Imagine ficar anos achando que você ama alguém e então...Gostar do seu melhor amigo.

— O que? Mike não gosta de mim! — Will pronunciou, achando a ideia um absurdo. O natal de 1985 foi um momento de carência — E eu não gosto dele.

— Mentiroso. Por que ele e El nunca voltaram? Só...Resolveram as coisas? Você já perguntou à ela o motivo?

— Ela me disse que não sentia mais nada por Mike, mesmo sabendo que o amaria pra sempre. Que ele optou por deixá-la ir. Ser livre para outros relacionamentos. — Will cruzou os braços, desconfortável — Podemos mudar de assunto?

— Claro. Não posso te obrigar a nada. Só não exclua seus amigos por causa do idiota do Mike.

Dustin foi para a multidão de adolescentes, sem ouvir a resposta de Will, que estava perplexo.

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