Capítulo Doze - Como se fosse a primeira vez

522 64 112
                                    

Palavras: 860

🥀

Hawkins, Indiana. Meio de março de 1988.

— Eu não quis dizer aquilo. Eu não acho que tenha sido um erro te beijar. — assumiu com tanta sinceridade na voz que quase convenceu Will. Quase.

— Você me beijou, enquanto Jane dormia. Do nosso lado, Mike. Foi estúpido!

— Ela nem era minha namorada mais! E eu...Eu quis aquilo. Você quis. Eu precisava...precisava saber como era.

Eles se encararam. Will passara por diversas coisas, e ainda assim, um de seus maiores problemas era um garoto.

— Eu sou um garoto, Mike. Isso...Não é certo. Você não gosta de mim, gosta da sensação de ter alguém te apoiando.

— Will, isso não é verdade.

— Então não me acha nojento? Não acha isso — ele indicou freneticamente com um dos dedos a si mesmo e Mikenojento?

— William, não seja idiota. — Mike pediu, a voz, já fraca, vacilando.

Will suspirou, querendo encerrar a conversa o mais rápido possível.

— Você não me respondeu.

Não. Não acho nada aqui nojento. Eu jamais te acharia nojento.

Will evitou sorrir como queria.

— Mike...Você gosta de garotas. Não brinque comigo como se eu fosse...Uhr, isso é errado. Totalmente...

— Pare. — Mike interrompeu, a cabeça balançando em negação. Puxou o ar, profundo e naturalmente, ignorando o quão acelerado eram seus batimentos cardíacosEu gosto de garotas, sim. Mas...também gosto de você. Um garoto. Talvez eu goste dos dois. Isso existe. Certo?

— Você ama a Jane. — Will insistiu.

— Eu e El crescemos e seguimos rumos diferentes. Eu e ela tivemos nosso tempo juntos e agora não temos mais. Se passaram três anos! É tão difícil de entender? Eu me arrependo de tudo de ruim que disse a você, Will.

Mike tentou ficar mais próximo de Will, e o garoto permitiu. As mãos de Wheeler pegaram as suas e a mente de Byers começou a envenenar seus pensamentos.

— Os outros vão ver. — disse preocupado, olhando ao redor, procurando por julgadores.

— Amigos pegam nas mãos dos outros.

— Não assim. — Will olhou para as mãos juntas, os dedos se entrelaçando lentamente, como em algumas noites de filmes, quando as escondiam sob o cobertor grosso e as juntavam, sem pensar no significado. Aproveitando as sensações estranhas, somente.

— Eu gostei do nosso beijo, Will.

— Podemos conversar em um lugar mais afastado, Mike? Eu...Eu não quero que tenham mais motivos pra falar de mim. Ou de você, principalmente de você.

— Eu não me importo com o que falam...

Will separou as mãos, dando dois passos curtos pra trás. Seu coração estava frenético.

— Eu me importo. Eu não vou pedir outra vez.

O menor saiu dali, subindo as escadas. Mike o seguiu, desviando de algumas pessoas no caminho e tentando não se perder de Will. Quis segurar o pulso dele, a mão, para irem juntos, mas não o fez. Era perigoso. Todos já achavam que Byers era uma bicha, e Mike não queria dar mais motivos a eles.

Se enfiaram no primeiro quarto vazio que acharam. Mike trancou a porta, para ninguém entrar sem querer, apesar que só conversariam — era o que imaginavam. Will se aproximou da cama e verificou se os cobertores estavam limpos. Se sentou, olhando para os diversos copos sujos jogados pelo carpete e pelo tapete. Mike abriu a porta do banheiro, se certificando de que estavam sozinhos mesmo.

— Tudo limpo. Não literalmente, mas você entendeu.

— Mike, só diga o que tem pra dizer logo. — Will cruzou os braços.

Mike se sentou ao lado dele. As molas do colchão fizeram barulho.

— Eu gostei. Do beijo. Muito.

— Você já disse... — as bochechas de Will estavam ficando vermelhas. Mike se perguntou se o coração do amigo estava batendo tão rápido quanto o seu. A resposta era sim.

— E eu sei que nossa amizade não é a mesma. Você cresceu, e-eu cresci. Não jogamos mais D&D com o mesmo ânimo de antes. — iniciou, procurando por palavras que expressassem direito o que sentia. Michael sempre foi assim. Péssimo em transformar seus sentimentos em palavras, por melhor que fosse em escrevê-las — Eu fui um babaca. Não só com você. Não sei como Max ainda é minha amiga, eu fui um idiota com ela.

— Sim, você foi.

— E com El. E com Dustin. Eu me arrependo muito, e quero...Consertar meus erros.

— Se você não acha que nosso beijo foi errado, por que tá' falando sobre consertar seus...

Mike o interrompeu, colocando a mão direita no rosto de Will, que pareceu chocado com o ato. Delicadamente, deslizou o polegar pela maçã do rosto dele, tomando coragem.

— Meu erro foi não ter te beijado depois, William.

Will tinha certeza de que, naquele momento, seu coração errou uma das batidas. Mike se aproximou, e o outro garoto fez o mesmo, então seus lábios se tocaram. Um toque genuíno, calmo e estático. Não se mexeram por um momento, até Will fazer o primeiro movimento.

Sua mão esquerda foi para a nuca de Mike, enquanto se beijavam com tranquilidade e ao mesmo tempo com pressa. Não sabia que era possível, mas era. A mente de Byers dizia o quão errado aquilo estava sendo, porém pela primeira vez, não se importou. Estava beijando Michael Wheeler, como se fosse a primeira vez.

stranger feelings x byler Onde histórias criam vida. Descubra agora