Capítulo 1

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CAPÍTULO 01

- Você podia escrever outro livro Julia, que tal?

Estávamos no meio de uma reunião e meu chefe levantou a ideia. Conversávamos a respeito do mercado e de como havia caído o numero de autores que enviavam obras para a editora em que trabalhávamos, a 100 palavras. E Como ninguém havia dado sugestão alguma de como mudar essa história, Brian jogou a bomba no meu colo.

- Sei que você é uma editora, mas da ultima vez em que lançou um livro de própria autoria, foi um sucesso. Você poderia escrever mais. Seria bom para todos, o que acha?

O Que eu acho? Acho que você está mesmo desesperado!

Meu nome é Julia Hale e eu sou editora e escritora. Escrevi dois livros infantis há algum tempo, mas só por passatempo. É relativamente mais fácil escrever para crianças, elas não se importam se a história não é densa, se deixou pontos soltos ao longo do caminho ou se o personagem principal é um cara que se deu mal a vida inteira para ter um final feliz e passar uma lição de moral chata e clichê antes do encerramento do livro. Elas estão mais interessadas se na história há monstros aterrorizantemente coloridos, heróis que voam e lutam ou brinquedos que falam e as fazem rir. Mas o motivo daquela conversa era que o mercado estava exigindo uma obra que prendesse a atenção de crianças e adultos. Brian continuou:

- Repara bem nos livros que fazem sucesso hoje. Envolvendo fantasia ou realidade, história ou ficção, são livros primordialmente cativantes. Seria ótimo lançarmos uma obra nesse caminho aqui pela editora. Faz tempo que não aparece nenhum autor para publicar uma história nesse caminho. Você podia escrever uma nesse estilo, sei que você é boa com esses temas.

- Espero que você não esteja querendo que eu escreva uma história com vampiros que brilham e se apaixonam por humanos ou rapazes sarados sem camisa que viram lobo porque realmente essa não é minha praia. – Tentei cortar o barato, mas aparentemente não consegui porque Brian continuou a tentar me convencer.

- Não precisa ser exatamente como as histórias que já fazem sucesso, ninguém quer nada parecido com isso. Ou quer, não sei, deve haver muitas adolescentes que querem, mas eu não quero. Quero uma coisa mais real...

- Quem sabe pode ser uma boa um novo livro. – Respondi meio que jogando a toalha da desistência sobre a mesa. – Mas criar uma narrativa sobre a realidade, como você disse, e que as pessoas se identifiquem é muito difícil. Fazer também com que as pessoas se empolguem com ela é mais difícil ainda.

- Julinha, olhe nos meus olhos que eu vou lhe dar uma dica agora e quero que você siga: não dá pra você escrever uma história que seja cativante sem que você conheça a realidade, pois é na realidade que se encontra a inspiração para a mais fantasiosa e inexistente epopeia que pode ocorrer na cabeça de uma pessoa.

- Uou! – Pareceu uma afirmação muito pessoal. - Aonde você quer chegar, Brian?

- Vamos ser honestos Julia. Você tem 24 anos e mora com seus pais. Você leva a mesma vida que levava desde quando era criança. Não tem muitos amigos e sei que só conseguiu escrever seus dois livros porque tem uma sobrinha de quatro anos, que deve ter uma vida social mais ativa que a sua. Se te conheço bem você não gosta de sair e não conhece nem a sua própria cidade direito. Do jeito que você está, sua história não vai atrair nem o nerd mais chato que frequenta feiras geek trajado de super-herói pra evitar conversas sobre a própria vida.

Droga! Brian me conhece muito bem. Nos quatro anos que trabalho para a editora 100 palavras ele conseguiu compreender meu eu interior a ponto de deixar meu eu exterior constrangido por passar tanto tempo sem conhecer o próprio vizinho.

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