Capítulo 6

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CAPITULO 6

- Quer que eu ligue o rádio?

- Pode ser...

O Caminho da editora até o edifício Redenção nunca foi tão longo. O Tempo parecia não passar como se tivéssemos caído numa fenda do tempo. Dentro do carro eu só conseguia pensar em inúmeras hipóteses que minha cabeça estava formulando a respeito do misterioso Tom. Nitidamente ele estava me escondendo algo. Quer dizer, escondendo algo de todos nós, seus amigos. Ele estava escondendo algo ou eu estava ficando louca e essas duas possibilidades eu só descartaria mediante provas concretas.

Enquanto eu me afogava em insanidades, ao meu lado Tom estava impassível, tranquilo como um monge tibetano. Não dava para ler em seu rosto o que ele estava pensando. Ligou o som do carro em uma rádio qualquer que transmitia o que parecia ser um especial de musicas de décadas passadas, acredito que era especificamente anos 50, pois Elvis Presley agora se fazia presente no carro, cantando “Blue Suede Shoes”.

- Gosto muito das musicas dessa época. São ótimas para dançar.

- Você Sabe dançar?? – O Olhei mais pasma ainda.

- Não entendi a surpresa! Gosto muito de dançar e danço muito bem, se você quer saber. Principalmente se eu estiver acompanhado de uma bela mulher que dance bem também. – Piscou pra mim, me fazendo enrubescer. - As musicas dessa época são perfeitas para dançar em par. Você sabe dançar, Julia?

- Eu dou meus pulos, sim. Também gosto de musicas antigas. São claramente melhores que as de hoje em dia. E Nem diga que os tempos são diferentes, pois os tempos são os mesmos, as pessoas que ficaram diferentes. Com um mau gosto maior.

- Não discordo completamente de você, mas acredito que os tempos são diferentes sim. Os tempos influenciaram grandes artistas que fizeram suas musicas baseadas em fundo politico, em repressões e em busca de liberdade. Mas, as musicas que eram destinadas somente para entretenimento das massas, essas também tinham fundo histórico. Eram voltadas completamente para a cultura da época. Blue Suede Shoes, por exemplo, fala de um cara que frequenta bailes, que pega todas as garotas, fazendo-as brigar entre si por ele, mas ele quer passar uma imagem de rei da festa. Ele permite que as garotas façam tudo com ele, contanto que elas não toquem, ou sequer cheguem perto de seus sapatos. É uma questão cultural dos Estados Unidos dos anos 50. Você foi muito radical no comentário. Existe sim musica boa hoje em dia, mas estas são como pérolas: é preciso encontrar as verdadeiras joias no meio de centenas de milhares de ostras estragadas. Mas a maioria vale a pena dançar, pois a dança não é um ato diretamente ligado à letra da musica e sim uma expressão de felicidade.

- Eu danço sem musica também.

- Você é louca. Gosto disso.

Rimos. Minutos depois chegamos ao prédio. Seguimos a rotina de pegar o elevador até o oitavo andar e nos despedimos com um beijo no rosto no corredor. Ele seguiu para seu apartamento e fui para o meu, respectivamente.

Abri a porta e Mel estava sentada no sofá, apoiando os pés na mesa de madeira que ficava no centro da sala, com um prato de comida em cima de suas pernas. Olhava atentamente para a televisão e tinha lágrimas em seus olhos.

- Ei! – Acenou para mim limpando os olhos com as mãos.

- Olá, primeiramente boa noite. Tá assistindo o quê?

- Sentimentos Proibidos.

- Claro, Sentimentos Proibidos.

Sentimentos Proibidos era uma novela mexicana, um dramalhão daqueles com direito a muito choro e tapa na cara. Fazia muito sucesso na televisão no horário das 8 da noite. A Cena que estava sendo transmitida naquele momento envolvia o mocinho da trama, Jorge Mauricio, que discutia com o amor de sua vida, Lucrécia Mattarazzo. Lucrécia estava despedaçando o coração de JM ao revelar que ela, na verdade, estava perdidamente apaixonada pelo irmão de Jorge, Pedro Ignácio. Pedro Ignácio fora o amor de infância de Lucrécia, antes de ela mesmo conhecer JM. Pedro Ignácio havia sofrido um acidente que o deixara em coma durante 10 anos, porém recentemente, ele havia acordado e Lucrécia não pôde mais esconder que ainda nutria sentimentos pelo seu, até então, cunhado. Era uma história. No meio da confusão existia realmente uma história de amor que fazia o publico chorar e comentar o enredo de seus capítulos no dia seguinte, em meio a rodas de amigos.

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