Capítulo 13

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CAPÍTULO 13

Estava no meio da pista do Armazém 45, olhando pra cara de Tom que me estendia a mão em um pedido singelo de dança, enquanto as luzes do globo iluminavam meu corpo que quase perdia os sentidos no meio daquela cena. A Gente nunca pensa que esses momentos que só acontecem em livros e filmes um dia irá acontecer conosco. Por isso nunca estaremos preparados para reagir de uma maneira racional diante disso. Eu pelo menos não estava preparada.

Ainda junto a porta estavam nossos amigos que acompanhavam, curiosos e distantes, em uma tentativa quase frustrada de nos dar privacidade. Claro que estávamos os vendo, mas fingimos que não.

- Você não vai querer dançar uma musica lenta comigo, não é? Eu estou toda suada, não me deu tempo nem de tomar um banho antes de tropeçar e cair no seu joguinho.

- Claro que eu vou querer! – Tom me puxou pelas mãos para perto dele. Depois posicionou as suas na minha cintura enquanto eu entrelaçava meus braços ao redor de seu pescoço.

Eu sequer conseguia esconder minha felicidade camuflada de nervosismo: minhas pernas estavam trêmulas, minhas mãos estavam geladas e, em meu estômago, eu sentia como se estivesse em queda livre. Já tinha tido todas essas sensações, mas era a primeira vez que ocorriam ao mesmo tempo. Era gostoso sentir como uma pessoa podia causar todo aquele turbilhão de emoções em você.

- Como você conseguiu fazer tudo isso em uma tarde? – perguntei sem tirar meus olhos dos dele.

- Não fiz em uma tarde. Na verdade comecei ontem e tive grandes ajudas, como você deve ter percebido. O Que eu posso fazer Julia, sou uma pessoa muito bem relacionada. – respondeu me girando em um passo de dança, mas me trazendo de volta para seus braços logo em seguida.

- Se acha! Então todos sabiam? – falei apontando discretamente com a cabeça para nossos amigos voyeurs presentes no recinto.

- Todos menos Mel, que não sabe disfarçar e podia acabar entregando o plano todo mesmo sem querer; e Leo, porque eu não queria correr o risco de ter outro encontro com você sendo estragado por ele.

Sorri e desviei meu olhar do dele, deixando transparecer uma timidez tola.

- Tom, mas por que eu? Por que agora?

- Se você pensa que eu gosto de você há apenas uma semana, engana-se. Há uma semana você percebeu, mas há quase um ano que venho nutrindo sentimentos por você.

- Pois não parecia! Você sempre foi o que mais implicava comigo no trabalho.

- Eu não implicava, eu brincava com você, é diferente. E Brincava na tentativa de fazê-la conversar comigo. E convenhamos, você nunca foi uma das pessoas mais fáceis de lidar. Muitas vezes te convidei para sair à noite e você recusava e, pra quê? Para ir para casa e ficar sozinha, sentada em frente a um computador navegando na internet até desmaiar de sono. Tentava conversar com você como uma pessoa normal nos horários de almoço, mas sempre perdia sua atenção para um aparelho celular.

- É Realmente uma pena que você não tenha tantos aplicativos como tinha meu celular. – suspirei em tom jocoso.

- Tá vendo, sempre te levei a sério e você sempre me levou na brincadeira. Eu já tinha quase desistido e me contentado com essa amizade torta. Quando o Brian te proibiu de usar qualquer aparelho com acesso a internet que não fosse o computador da editora e mandou você acordar pra vida foi que eu tive um vislumbre de esperança. Eu não ia perder tempo até que você voltasse a se trancar dentro do seu mundo onde visitas são proibidas de novo.

Ele tinha razão. Tinha que parar com essa mania de colocar obstáculos entre minha vida e as outras pessoas. Na medida em que eu dificultava tudo de um lado, do outro Tom se agarrava a aquela que talvez fosse à única oportunidade que apareceria em anos, e eu o admirava por isso. Admirava e respeitava sua insistência. Eu jamais teria feito o que ele fez por mim nesses últimos dias.

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