Capítulo 25

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Capítulo 25

Eis que após certa expectativa havia chegado o dia do casamento de Marco Pollo Andrade e Tom de sobrenome-desconhecido-até-então. Era sábado e eu estava no meu quarto me maquiando e ouvindo Mel, sentada na minha cama, jogar confete sobre seu recente namoro com Seth. Sim, eles estavam namorando.

Ao que ouvi insistentemente, Seth convidara Mel para dar uma volta de helicóptero. O Piloto aterrissou em uma bela casa, que estava mais para mansão, segundo Mel. Chegando lá, ela conhecera a família do pai de Seth. Ele a convidou para jantar na casa. Depois do jantar, caminharam até o pátio e, em frente a uma fonte iluminada com cores azuis e vermelhas, Seth ajoelhou-se e a pediu em namoro, como manda a tradição dos príncipes encantados que ainda andam sobre a terra, perdidos. Obviamente, Mel aceitou a proposta com lágrimas borrando-lhe o rosto inteiro.

E Eu estava ali, ouvindo pela milésima vez a mesma história. Gente apaixonada fica repetitiva e até um pouco narcisista por acharem que seu amor é sempre melhor do que o dos outros. Refleti que eu não era como Mel. Não gostava de falar muito sobre minha relação com Tom, mesmo para minhas amigas mais íntimas. Meu amor era egoísta e eu o queria só para mim e tendo-o comigo já bastava. Não precisava espalhar minha felicidade aos quatro ventos. Achava até perigoso fazer isso: nunca se sabe quem pode ouvir.

Enquanto eu pensava sobre o amor, o meu acabava de entrar no quarto. Tom estava em uma excitação incontida dentro do terno preto que nem a gravata borboleta conseguia conter. O Cabelo com um topete brilhava mais que a sombra dourada que eu estava passando em meus olhos. Trazia consigo uma flor branca no bolso como se aquela fosse a noite de um baile de ensino médio.

Eu permanecia sentada, com meu novo vestido azul escuro de cinto preto ao redor da cintura, descalça, com bobs no cabelo, segurando um rímel, com um olho aberto e outro fechado olhando para Tom.

- Tem certeza que você não é o Tom que vai casar com o MP? – eu perguntei, tirando sarro da alegria que ele trazia estampada na cara.

- Julia, já conversamos sobre isso! – respondeu ficando sério. – Além do mais, como eu posso casar com outro se eu quero casar com você?

Tirou a flor do bolso, a deu em minhas mãos e ajoelhou-se no chão perante a mim. Eu fiquei branca da cor da flor na mesma hora. Mel esticou o pescoço quase que 1 metro, com expectativa.

- Prontinho – Tom levantou – Meu sapato estava desamarrado. Imagina se eu piso no cadarço, não ia ser nada bonito. – Olhou ao redor e rindo disse: - Que foi?

- Idiota! – Respondi jogando a flor de volta pra ele e voltando a brigar com meu rímel. Tom agora não parava de rir. Deu-me um beijo na testa.

- Ai Tom – disse Mel trazendo o pescoço de volta. – Eu já estava achando que ia rolar outro casamento.

- Vocês acharam mesmo que eu ia pedir Julia em casamento aqui no quarto? Pelo amor de Deus, ela merece coisa melhor. E vai ter coisa melhor quando chegar a hora certa. – Tom fora interrompido pela vibração de seu celular no bolso esquerdo da calça. Olhou o número na pequena tela e atendeu.

- Fala Sam, já está pronta para o casamento?

- Ah Tom, nem sei se vou mais sabe... – Sam replicava do outro lado da linha.

- Como assim não vai mais? – Tom levantou a voz, parecendo aflito. – Você tem que ir! MP é uma das pessoas mais importantes da editora, amigo nosso. Você vai sim! Por que não quer ir mais?

- Não estou na vibe sabe Tom? Danilo sumiu o dia todo e até agora não chegou em casa...

- Sumiu é... – houve uma pausa - mas você pode ir sem ele. Fica lá comigo e com Julia. Prometo que vai passar rápido e doer pouco. Você pode dar umas vassouradas no Danilo quando voltar, caso ainda esteja com raiva dele. Posso até te ajudar, se quiser. Mas aposto que até o final dessa noite você não vai mais estar com raiva dele.

- Como você pode ter tanta certeza? – Sam perguntou.

É, como pode ter tanta certeza? – Eu pensava em silêncio encarando Tom pelo reflexo do meu espelho.

- Intuição masculina.

- Isso existe?

- Claro que existe, estou te dizendo.

- Pode até existir, mas não é tão boa quanto a intuição feminina. – Eu disse baixinho para Mel – E a minha intuição me diz que aí tem coisa. – Mel não estava entendendo nada do que estávamos falando, mas concordou firmemente.

Tom continuava: - Se ele levou o carro não tem problema, eu passo aí e você vai com a gente.

- Vai me deixar em casa na volta?

- Óbvio! A Menos que você queira seguir na lua de mel de MP. – risos.

- Quando eu era criança pensava que lua de mel era uma lua só minha – Mel me confidenciava baixinho. Eu olhei de volta, intrigada, mas resolvi não falar nada. Uma inocência dessas não se deve ser quebrada assim tão bruscamente.

Tom acabava de desligar o telefone: - Sam vai com a gente. Tem problema pra você, meu amor?

- Claro que não. – Dei uma passada de rímel me fazendo de desentendida. - Danilo sumiu foi?

- Aparentemente...

- Que coisa, parece até você Tom! – Mel, sem se dar conta, soltara no ar exatamente o que eu estava pensando. Soltei um riso discreto para o espelho.

- Pois é... – eu falei sem tirar os olhos da maquiagem.

Tom deu um longo suspiro e disse enquanto colocava o celular de volta no bolso: - Podem desconfiar de mim à vontade e enquanto é tempo. Mas depois de hoje não haverá mais motivos para isso.

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Depois de tudo devidamente pronto, seguimos Tom e eu em direção ao apartamento de Samantha. Paramos em frente à portaria e, do carro, ligamos para ela que minutos depois desceu ainda muito à contra gosto. Veio caminhando com seu vestido longo de um tom lilás escuro, carregando uma pequena bolsa de prata na mão. A roupa estava belíssima, mas a cara não estava tão animada.

Tom desceu do carro para abrir-lhe a porta de passageiros atrás e voltou a sentar-se no banco do motorista. Virei-me para trás e perguntei:

- Mau dia?

- Péssimo. Não sei como deixei vocês me convencerem a vir.

- Vocês nada! – Me defendi. – Por mim eu estaria fazendo uma noite das garotas com você, com muito sorvete e filme romântico que é o que toda mulher precisa em momentos assim. Além do mais, muito em cima da hora mesmo esse casamento. MP nem ia notar.

- Também acho.

- Nossa, mas vocês reclamam demais, viu? – Tom interrompeu. – Eu hein...

- É bom eu ter uma noite extraordinária como você me prometeu Thomas William, senão... você vai ver só uma coisa. – Sam ameaçou.

- Eu prometi isso foi? Não lembro...

- Pois eu vou te dar já um motivo pra você lembrar – Sam deu com a bolsa na cabeça de Tom, que tomou um susto.

- Au! Para com isso, tô dirigindo! Desconte em mim só no fim da noite, se ainda quiser.

- AH mas eu vou querer sim! Me lembre viu, Julia. Se eu esquecer de descontar, me lembre.

- Pode deixar. – Respondi.

- Você devia estar do meu lado, Julia. – Tom falou em suplica.

- Eu não, você tá merecendo mesmo. Você é culpado até que se prove ao contrário.

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