Capítulo 11

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CAPITULO 11

Ainda naquela sexta-feira, segui o mesmo protocolo dos últimos dois dias e procurei um lugar distante das pessoas da editora para que eu pudesse almoçar sozinha. Encaminhei-me para fora do prédio e sentei no banco que ficava do outro lado da rua, protegido pela sombra de uma arvore frondosa. Dali, eu tinha uma visão completa do prédio da editora e até da minha estátua de pedra preferida. Abri a tupperware de plástico redonda onde estava o almoço que tinha comprado essa manhã em um restaurante self-service e comecei a comer. Isso me lembrava que eu realmente precisava comprar comida lá para o apartamento. Talvez faça isso hoje mesmo. Ou Talvez eu empurre essa tarefa mais um pouco com a barriga, mas barriga vazia não consegue empurrar nada por muito tempo.

Fiquei pensando na carta. Será mesmo que eu devia tê-la aberto e lido seu conteúdo? Não, melhor não. Não? Não mesmo! Meus pensamentos estavam a um passo da bipolaridade de tanto pensar no assunto. O Mais chato dessa história toda era que o clima lá na sala de trabalho estava insuportável. A Tensão no ar era palpável e qualquer um, mesmo quem não trabalhasse lá, podia perceber só de olhar.

Talvez eu devesse voltar lá e ler essa maldita carta e perdoar Tom logo de uma vez. Mas ele não merece! Talvez mereça. Não merece!

- NOSSA, CALEM A BOCA! – Gritei para meus neurônios pararem de discutir. O Problema é que eu gritei de verdade, não em pensamento, como meus neurônios sabiamente estavam fazendo. Um casal que passava na rua subitamente se assustou e olhou para mim, cogitando a possibilidade de eu ser louca. Dei um sorriso para eles e falei:

- Não foi para vocês esse grito, foi para as vozes – apontei para minha cabeça.

Julia, isso é coisa que se diga? Agora com certeza vão saber que você está louca, ouvindo vozes inexistentes e discutindo com as mesmas em praça publica.

Erro meu.

Voltei a observar a rua. O Movimento estava tranquilo devido ao horário de almoço. Havia mais pessoas que carros, andando preguiçosos pela rua, na esperança que o tempo também ficasse com preguiça e se esquecesse de passar. O Vento, que deixava o clima mais fresco, também soprava todas as folhas que caíram das arvores. A Estátua de pedra estava tomando aquele mesmo vento e o sol do meio dia e se desgastando um pouco mais. Pobre do homem e da sua águia. Pelo menos a tarde o sol não batia neles com tanta intensidade devido ao bloqueio do prédio. Será que o homem da água ouviria as desculpas de Tom? Que bobagem a minha: Tom nunca iria fazer uma palhaçada daquelas com um homem tão imponente quanto o homem da águia. Eu devia andar com uma águia também, talvez as pessoas me respeitassem.

Enquanto eu tinha ideias mirabolantes, Sam se aproximava de mim sem que eu notasse. Sentou ao meu lado no banco:

- O Que você está fazendo aqui sozinha?

- Pensando na vida. O Que você acha de eu comprar uma águia pra mim?

- O Que você acha de eu te internar em uma clinica psiquiátrica logo depois de ver você entrando no prédio com uma águia?

- É justo.

- Tenho notado que você se distanciou da gente essa semana. É por causa do Tom, não é?

Não tinha visto Sam naqueles dias que sucederam a festa. Ela estava cobrindo Brian e ficou sobrecarregada de trabalho. Passava horas trancada na sala dele, fechando contratos por telefone e por e-mail, e quando não, estava fora, em reuniões. Mas vi que ela já sabia do que se tratava. Na verdade todo mundo já sabia. Até o zelador da editora veio me perguntar o que estava acontecendo. E eu contei. E Ele ficou do meu lado, mas no outro dia disse que eu devia ouvir a outra parte. Passou para o lado negro tão rápido!

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