Capítulo 17

169 14 0
                                    

CAPÍTULO 17

“O Arqueólogo Adam Hasmussen encontrou o local perfeito para a construção de sua morada. Quando o terreno começa a ser tratado para dar lugar à nova casa, os construtores encontram um misterioso artefato soterrado...”

- ... e você não ouviu nada do que eu falei. – Mel praguejava atrás de mim.

Eu estava sentada ha horas em frente ao bloco de papel tentando dar uma agilizada, ou pelo menos começar aquilo que, no futuro, seria meu mais novo livro. Assim eu esperava. Mas horas se passavam e tudo que eu tinha escrito era aquele paragrafo inicial do prólogo. Eu tinha a ideia, mas ainda não sabia como chegar lá. Como espremer aquela ideia de modo a torna-la uma história que valesse a pena ser lida? E Tudo ficava ainda mais difícil com meu déficit de atenção que me fazia parar a todo momento para observar coisas triviais como o tempo passando, o vento batendo na janela ou Mel praguejando contra mim.

Havia se passado alguns dias desde a festa do meu pai. Até então nada tinha tido modificação alguma em minha vida, mas na vida de Mel as coisas caminharam para uma mudança.

No dia do aniversário do senhor meu pai, minha mãe não podia acreditar que uma mulher tão bela como Mel não tivesse namorando (ao passo que uma pessoa como eu tinha um naquele momento. Ela não falou isso, mas ficou subentendido na minha cabeça.). Então, mamãe cismou que tinha que apresentar Mel para algum homem da high society que estivesse ali presente. Ela, como muitas outras mães, gostava de dar uma de cupido. Algumas vezes ela até acertava, outras vezes só deixava explicito que tinha um péssimo gosto para homens (tirando meu pai que é um pão). Enquanto a vítima dessa busca não era eu, tudo bem.

Naquela noite, Mel foi apresentada a uma gama de homens. Alguns jovens, outros mais velhos. Mas Mel rejeitou a grande maioria. Logo depois de ser apresentada, virava-se para minha mãe e dizia o porquê da rejeição:

- Esse é muito magro, se eu der um abraço nele vou quebra-lo em mil partes. Não quero passar noites juntando cacos de homem no meu chão.

Ou:

- Esse tem a barba muito grande, deve acumular muita sujeira, né?

Ou:

- Esse eu acho que esse nem é homem. Você viu o jeito que ele segura uma taça?

Em um momento Tom e eu estávamos achando aquela peregrinação tão curiosa que resolvemos acompanhar. E as desculpas não paravam:

- Esse é muito velho. Se eu quisesse um velho eu me voluntariava em um asilo e fazia altas amizades.

Ou:

- Esse é loiro. Não gosto de loiros, eles não tem o charme e a pegada de um moreno.

- Não entendi o que você quis dizer, mas achei desnecessário dizer na minha frente – Tom revidou no alto de sua experiência convivendo com cabelos loiros como os primeiros raios de sol do dia.

Passamos horas rodando atrás dos pretendentes que minha mãe arranjava para Melanie e nada de ela se agradar.

- Por isso que está solteira, exigente desse jeito! – falei já exausta daquela epopeia.

- Claro Julia, eu tenho que valorizar meu passe! Passei anos abrindo espaço no meu coração para qualquer um, sem nenhum critério, e ele hoje está como está.

- Como está?

- Eu tô bem e você?

- Não!!!! O Coração, como ele está?

- Ah, está em pedaços, com mais buracos que uma rodovia mal gerenciada. Então o próximo que entrar aqui – bateu a mão no peito – vai ter que ser uma pessoa muito boa. Uma pessoa a altura do trabalho. Uma pessoa a altura de mim!

Querida Folha em BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora