Capítulo 5

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CAPÍTULO 5

Tom e eu entramos no apartamento que, ao contrário de Melanie, era até bastante organizado. Tinha um amplo espaço, 2 quartos, um banheiro, cozinha acoplada com a sala com balcão e tudo, tipo cenário de filme, e uma varanda muito bonita e bem ornamentada com vasos de flores pendurados na sacada. As paredes eram cobertas com papel de parede de um estampado vintage de bolinhas pretas e brancas sobre um fundo cinza. Era um cenário muito caprichado. Parecia mesmo com o lugar que eu gostaria de morar.

- E então, gostou do lugar? – Tom me tirou do devaneio.

 - Tom, isso aqui é o máximo! Com certeza eu me vejo morando aqui. Só falta eu falar com a Melanie para resolvermos tudo.

- Você vai espera-la? Se quiser pode ficar lá em casa esperando porque acredito que ela vá realmente demorar.

- Não. Vou deixar a chave dela com você e vou para casa terminar de empacotar minhas coisas. Já que amanhã é domingo, passo aqui para falar com ela com mais calma.

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Segunda-feira. Mais uma semana começava. Muita gente detesta esse dia, mas eu não. Eu gosto. Considero a segunda-feira um recomeço. Uma nova chance de fazer tudo certo e tentar não repetir os mesmos erros de sempre. A Segunda é como a primeira impressão da semana: se você iniciar seu dia achando que vai ser ruim, isso pode arruinar todo o resto da sua semana. E Isso não é questão de otimismo ou pessimismo, é hábito de julgamento. Sempre julgamos o todo de acordo com a primeira impressão. A Primeira impressão é a que fica e julgamentos iniciais dificilmente são desfeitos.

Caminhei em direção ao prédio da editora. Havia uma estátua de pedra na entrada. Um homem vestido com roupas do século passado: um terno aberto deixando um colete à mostra. A figura, um homem no alto de seus 40 anos, com um grosso bigode, usava um lenço amarrado em seu pescoço. Na mão esquerda segurava uma espécie de cajado ou bengala bem ornamentada na ponta superior onde sua mão alcançava, ficando a outra ponta apoiada no chão. No braço direito tinha uma grande e imponente águia prostrada em posição de ataque. Há quatro anos passava em frente a essa estátua e nunca havia parado para observa-la da maneira que ela merecia. Agora olhava para ela e tinha a sensação de que a conhecia, de que sabia o que se passava naquela cena tão peculiar que mereceu ser esculpida em pedra e deixada como ornamento de boas vindas em frente ao prédio da editora. Os olhos bem esculpidos daquele estranho pareciam me observar por onde andava e saber exatamente o que eu pensava. Era estranho, mas eu gostava daquilo.

Entrei na sala da editora e fui recebida por Tom, que largou o café que estava tomando em cima de uma mesa qualquer e veio em minha direção com seus olhos azuis clamando por novidades. Era engraçado porque Tom e eu nunca fomos tão próximos quanto estávamos agora. Só ressalta o fato de que é no meio de uma bagunça que a gente se encontra. Nesse cenário, a bagunça é a minha vida e o encontro foi meu e de Tom.

- Então, como foi com a Mel? – Perguntou, com os olhos brilhando de curiosidade.

- Gostei muito dela, acredito que vai dar muito certo eu morar junto com ela. Até já levei minhas coisas para o apartamento ontem. Mas não pude deixar de reparar que ela é, digamos, um pouco lenta no raciocínio.

- Como você chegou a essa conclusão? – disse Tom, segurando o riso ao máximo que podia.

- Pela sua cara de quem vai explodir de dar risada, vejo que isso não é nenhuma novidade para você.

Tom irrompeu a rir até ficar vermelho. Quando tomou fôlego para voltar a falar, pediu: – Serio, conta.

E Eu contei: - Eu percebi isso quando falei para ela - “Mel, chega de arrumar as coisas. Tenho que dormir porque amanhã preciso chegar bem cedo na editora e terminar um projeto que eu sugeri de fazer o lançamento de uma edição especial para colecionador com as obras de Shakespeare” – e ela me respondeu – “Ah, tudo bem. E o Shakespeare hein amiga, por onde anda? Tá sumido, faz tempo que não lança algo novo. A Ultima vez que ouvi falar dele foi na escola e desde então nunca mais vi a cara dele, quer dizer, se aposentou será?” – achei que ela estivesse brincando, então respondi – “Pois é, parece que já fazem 398 anos desde a ultima vez que o vi. Como o tempo passa rápido” – falei isso porque realmente fazem 398 anos que ele morreu, só que comentei isso brincando. E ELA CONCORDOU COMIGO! E Concordou com uma cara de seriedade, foi quando eu percebi que ela estava falando serio. Não falei mais nada nesse assunto, dei tchau e fui dormir.

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