Bess Eastman, a psiquiatra, nunca me olha enquanto estou falando. Através das lentes do óculos de armação de tartaruga, a mulher encara o bloco de papel em que escrevia informações pontuais sobre o avanço do meu tratamento. Parece minha mãe quando contabiliza tudo o que eu como em cada refeição durante o dia.
Café da manhã: meio pão de aveia; 125 ml de chá de tília com mel. — e cola o post-it na planilha da geladeira.
— Pode repetir, por favor? — Eastman suspira cansada.
Minha mãe me encontrou na areia, encolhida como uma bola, com metade do corpo ainda na água. Eu tremia descontrolavelmente. Minhas tias me enrolaram em cobertores. Tentaram me aquecer em Cuddledown. Me deram chá e roupas quentes, mas, quando viram que eu não falava nem parava de tremer, me levaram para um hospital na cidade, onde fiquei em observação por algumas semanas sendo submetida a uma sequência infinita de exames. Hipotermia, problemas respiratórios e um ferimento indecifrável na cabeça, que sequer aparecia na tomografia. Mas eu sabia que estava lá porque a dor era tão forte que anestesiava todo o meu corpo.
Eu lembro do rosto triste da minha mãe e das minhas tias nos horários de visita. Eu me lembro de sentir os pulmões pesados como uma esponja encharcada de água, bem depois de os médicos dizerem que estavam limpos. Eu me lembro de achar que nunca mais ficaria aquecida, mesmo quando o termômetro indicava que minha temperatura era vital e saudável. Minhas mãos doíam. Meus pés doíam.
Minha mãe me levou para casa, em Vermont, para eu me recuperar. Eu ficava deitada no escuro e sentia uma pena desesperadora de mim mesma. Porque estava doente, e mais ainda porque Calum nunca ligou.
Ele também não escreveu, ou sequer lia meus e-mails.
Antes do acidente, minha vida era um conto de fadas — exatamente pela fantasia de perfeição quando, na verdade, é cheia de bruxas, feitiços traiçoeiros e reis covardes. Venho de uma família que cultua tradições e vive de aparências, mas eu era nova demais para perceber. Os Sinclair acreditam em exercícios ao ar livre, são colecionadores de estátuas de marfim, itens de decoração e acreditam que o tempo cura.
Acreditamos, embora não digamos de maneira tão explícita, em remédios controlados e drinques antes do jantar. É possível que apreciemos o modo como as pessoas ficam curiosas a nosso respeito porque não abrimos nosso coração. Mas eu havia aberto meu coração a Calum.
Foi quando tudo começou a dar errado.
O patrimônio acumulado dos Sinclair é suficiente para manter uma pequena ilha particular em pleno funcionamento quando é verão. Meu avô, Harris Sinclair, ao sair de Harvard, enriqueceu com o mercado de ações negociando propriedades e apostando na bolsa de valores. Uma das propriedades era a ilha, onde construiu uma casa para cada uma das três filhas: India, minha mãe, e as tias Liz e Paige. A ninhada as reduzia em mulheres bonitas e educadas, que se exibiam em veleiros usando pérolas e competiam umas com as outras para ver quem casaria primeiro para legitimar o herdeiro da família Sinclair.
Minha mãe foi a primeira. Logo, eu sou a herdeira como a neta mais velha da família Sinclair. A primogênita.
Construíram, então, uma casa para cada filha na ilha e deram nome a cada uma: Windemere para India, Red Gate para Paige e Cuddledown para Liz.
O que mantinha meu convívio feliz com a família era o grupo dos Mentirosos — apelido carinhoso dado a relação entre eu e meus primos. Somos todos de quase mesma idade por causa da competição do primogênito, e fazemos aniversário no outono. Michael, da tia Paige, e Luke, Ashton e Zoe da tia Liz. Quase todos os anos causamos problemas na ilha por pura diversão. Até o dia do acidente.
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we were liars - cth
FanfictionÉ sobre o encantamento da ilha de Beechwood que Lola Sinclair se apaixona desesperadamente por Calum Hood. Lola é brilhante, mas secretamente frágil e atormentada. Calum é determinado, mas abertamente impetuoso e inconveniente. O que, de certa forma...