liberty

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No verão dos quatorze, Calum e eu pegamos o barco a motor sozinhos. Foi logo depois do café da manhã.

Luke e Zoe estavam obcecados em jogar tênis e ficavam quase o dia todo competindo na quadra, porque naquela idade eles eram os gêmeos mais chatos que eu conhecia. Tudo era motivo para uma guerra sobre quem era o melhor.

Michael estava empenhado em entrar no time de corrida da escola e vivia correndo pela costa, criando resistência na areia. Ashton convenceu tia Liz a trazer seu quite de bateria, e eu tenho certeza que ela se arrependeu amargamente depois, porque ele ficava fazendo barulho o dia inteiro em seu quarto em Cuddledown.

Sempre sobrava eu e Calum.

Ele me encontrou na cozinha de Clairmont, comendo uma panqueca de banana, e perguntou se eu queria sair de barco.

— Na verdade, não. — eu queria terminar de ler o Orgulho e Preconceito que achei em um sebo de Vermont.

— Por favor! — ele quase nunca pedia por favor.

— Vá você. — disse ao partir a panqueca. A massa estava solada e encharcada de óleo, era a primeira vez que eu tentava reproduzir a receita. Ficou horrível.

— Não posso pegar o barco sozinho. Não parece certo.

— É claro que pode.

— Não sem um de vocês.

— Aonde você quer ir? — perguntei.

— Estou angustiado de ficar aqui. Só quero sair da ilha.

Não sabia quais eram suas angústias, mas mesmo assim me dei por vencida e saímos de Beechwood. Vesti um corta-vento de mangas coloridas por cima de um biquíni verde-água. Depois de um tempo no mar, já bem distante da costa, Calum desligou o motor. Ficamos comendo mirtilo e respirando o ar salgado. A luz do sol brilhava sobre a água.

— Vamos mergulhar. — eu disse, tirando o corta-vento.

Calum pulou e eu fui atrás, mas a água estava tão fria que me tirou o fôlego. Senti todas as extremidades do meu corpo ficarem dormentes pelo choque térmico, que precisei me segurar a Calum para não afundar como um peso morto. Passei o braço sobre seus ombros, o abraçando pelas costas. Envolvi sua cintura com as pernas e encostei meu rosto em seu cabelo molhado, enquanto ele batia os pés para nos manter na superfície.

— Está arrependida? — ele perguntou, nadando até o barco comigo agarrada em suas costas. Calum era magro, mas ainda muito alto. Sentia suas costelas ao prendê-las com a panturrilha.

— Foi uma péssima ideia. — digo com a boca quase encostando em seu ouvido. Meu queixo tremia. — Será que aqui tem tubarões?

Ele me deixa subir primeiro pela escada.

— Não porque você é uma menina, mas porque sou uma boa pessoa. — ele me disse, desviando o olhar para não me ver subir. Certamente, minha bunda estaria na altura de seu rosto. Sorri envergonhada, sentindo as bochechas esquentarem. Sinal que eu não havia congelado por dentro.

— Obrigada. — mostrei a língua quando cheguei ao final da escada e passei as pernas para dentro do barco.

Ele mergulha mais uma vez, e volta a superfície sacudindo a cabeça. A água que sai de seus cabelos respinga em meu rosto quando fico inclinada para perto dele.

— Mas quando um tubarão arrancar as minhas pernas, promete que vai me escrever um elogio fúnebre dizendo o quão incrível eu era?

— Combinado. — afirmo com a cabeça. — Calum Hood foi uma refeição deliciosa para um tubarão em Beechwood.

we were liars - cthOnde histórias criam vida. Descubra agora