Tia Liz está nos esperando em Woods Hole, a cidade portuária. Sem rastro algum dos Mentirosos ao seu alcance. Ela me dá um abraço demorado, e sentir seu cheiro de café e perfume caro me traz recordações de verões passados.
— Você está mais linda do que nunca. — ela diz. — E que bom que veio.
Meu estado é deplorável. Perdi alguns quilos desde o acidente por causa da restrição alimentar e meu súbito desinteresse por comida. A sensibilidade à claridade me mantem afastada do sol, então estou pálida como um saco de farinha. Não me lembro da última vez que cortei o cabelo, e o comprimento loiro está cheio de pontas apagadas. Gosto de tia Liz porque ela sempre tenta me agradar, mas sei que seu comentário é pura mentira.
— Sentimos sua falta, querida. — ela menciona enquanto nos ajuda a tirar as malas do carro, puxando as mangas do suéter verde de caxemira para cima. Combinava com o conjunto de jóias de jade que usava e que antes pertenciam à Vovó Tipper.
Vovó Tipper faleceu do coração no verão dos quatorze e Beechwood nunca foi a mesma. É uma ferida profunda que sempre se abre quando estamos todos juntos. Ninguém ocupa seu lugar na cabeceira da mesa, ao lado do avô Harris, como se realmente seu fantasma merecesse respeito. Ela era a pessoa mais preciosa do mundo, ainda que não demonstrasse muito afeto por nós. Mas sabíamos que nos amava porque vivia tricotando biquínis para usarmos na ilha.
A briga pela herança me deixava cansada e aumentava as dores de cabeça. Meu avô adoeceu de tanta tristeza e desgosto, e vive rondando Beechwood como uma assombração. É outro fato que me lembro do verão dos dezesseis, antes do acidente.
A saída do porto é fria e lampejante. Eu me sento na traseira do barco enquanto mamãe fica ao lado de tia Liz no timão. Encosto a mão na água gelada. A manga do meu casaco de lona fica ensopada.
Logo verei Calum. Não consigo controlar meu coração quanto à isso. Tenho pensado muito sobre o assunto.
Será que ele cresceu? Mudou muito? Tem um novo corte de cabelo? Está mais forte, ou mais alto? Será que ele ainda gosta de mim?
Calum, meu Calum, que não é tão meu assim.
Ainda vou me sentir em casa, mesmo tendo perdido tanta coisa?
Não demora até que alcancemos Beechwood. A primeira coisa que vejo, é a casa de Windemere com o telhado pontiagudo e a sacada do quarto de Índia com cortinas azul-claras.
Os Mentirosos não vão ao cais quando chegamos, vejo apenas tia Paige fumando um cigarro impacientemente. Ela balança os pés, revezando o peso do corpo, com os braços cruzados. Tia Paige se tornou uma mulher amargurada depois que o marido a abandonou. Desde então, ela só é uma boa pessoa para Michael, seu filho, e vive fazendo comentários inoportunos.
— Soube que andou doente, Lola. — ela diz assim que abraça minha mãe, olhando para mim sobre os ombros dela.
— Estou bem. Eu tomo oxicodona com vodca e, de repente, me sinto maravilhosa. — comento com ironia, sorrindo. As tias dão risada. A de Paige, consequentemente rouca e seca de tanto tabaco.
— Ela não está tomando oxicodona. — minha mãe diz brava, me olhando com reprovação. — Os medicamentos prescritos não causam dependência.
Ela está mentindo. Eu tomo sim, oxicodona. Os remédios mais fracos não surtem efeito.
— Ela parece magra demais. — tia Paige continua, como se eu não estivesse escutando.
— Eu já disse. É por causa da vodca. — reviro os olhos e salto para a plataforma. — Tira o apetite.
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we were liars - cth
FanfictionÉ sobre o encantamento da ilha de Beechwood que Lola Sinclair se apaixona desesperadamente por Calum Hood. Lola é brilhante, mas secretamente frágil e atormentada. Calum é determinado, mas abertamente impetuoso e inconveniente. O que, de certa forma...