just swim towards the storm

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Nós pensamos.

Conversamos.

E se, dissemos, e se, em outro universo, numa realidade paralela, Deus apontasse o dedo e fulminasse Clairmont com um raio? E se Deus a incendiasse?

Assim, puniria os gananciosos, os insignificantes, os preconceituosos, os ordinários, os cruéis. Eles se arrependeriam de seus feitos. E, depois disso, aprenderiam a se amar novamente. A abrir sua alma. Abrir suas veias. Apagar seu sorriso falso. Ser uma família. Agir como uma família. Não era algo religioso, da maneira como pensávamos. Mas ao mesmo tempo era.

Castigo. Purificação pelas chamas. Ou ambos.

O que deu errado?

O plano era simples, eu me lembro agora.

Encontraríamos os galões sobressalentes de gasolina, aqueles que ficavam no galpão para usar nos barcos. Havia jornais e papelão no quartinho.

Faríamos pilhas de lixo reciclável e as encharcaríamos de gasolina. Encharcaríamos o piso de madeira também. Tomaríamos distância. Colocaríamos fogo em um rolo de papel-toalha e o arremessaríamos.

Fácil.

Incendiaríamos todos os pisos, todos os cômodos, se possível, para garantir que Clairmont queimasse completamente.

Calum no porão, eu no térreo, Michael e Ashton no segundo andar e os gêmeos no último.

Os bombeiros chegaram tarde demais? Porque nós planejamos gritar por socorro, para que ninguém desconfiasse que era nossa culpa. Não podia parecer um incêndio criminoso.

Diríamos que estávamos em Cuddledown, assistindo a um filme, usando o argumento de que as árvores que cercam a casa, bloqueiam a vista para o restante da ilha. Não dá para ver ao redor a não ser do telhado. Então faria sentido demorar para ligar.

Antigas casas de madeira. Material inflamável.

Se as tias e vovô suspeitassem de nós, nunca nos acusariam. Era fácil contar com isso. É claro que não acusariam.

Ninguém aqui é criminoso. Ninguém é viciado. Ninguém é fracassado.

Sinto um tremor ao pensar no que fizemos.

Meu nome completo é Lola Sinclair e, ao contrário da bela família em que cresci, sou uma incendiária. Uma visionária, uma heroína, uma rebelde. O tipo de pessoa que muda a história. Uma criminosa.

Mas, se sou uma criminosa, sou então uma viciada? Sou então uma fracassada?

Minha mente está brincando com as palavras como sempre faz.

Nós fizemos isso acontecer

Será que nós salvamos a família?

Não acredito tanto nessa possibilidade, já que tia Paige fica perambulando pela ilha à noite. Tia Liz esfrega pias limpas até ficar com as mãos em carne viva. Índia fica me observando dormir e anota tudo o que eu como. Elas bebem pra caramba. Estão se embebedando até as lágrimas escorrerem pelo rosto.

Saio correndo de Windemere. Está escuro lá fora, é quase hora do jantar. Meus sentimentos de frustração escorrem pelos olhos, enrugando meu rosto. Fazem meu corpo todo tremer enquanto imagino os cães ansiando pelo resgate, olhando fixamente para a porta conforme a fumaça invade.

Não tenho para onde ir.

Não consigo correr para Cuddledown para me esconder, sendo que não tenho coragem de olhar para os Mentirosos. Também há a possibilidade de Calum ou Michael estarem em Red Gate, então evito passar pelo acesso entre as casas.

we were liars - cthOnde histórias criam vida. Descubra agora