tennis court

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Os dias que se seguem são mais escuros. Raramente os Mentirosos querem ir para algum lugar. Zoe fica enjoada e com dor de garganta. Passa a maior parte do tempo em Cuddledown, pintando as unhas com os esmaltes comprados no fatídico dia de Edgartown, e até deixo com que pinte as minhas com o amarelo que eu escolhi. De resto, faz fileiras de conchas na beirada dos móveis. Fica perambulando a casa como um fantasma.

Eu visto uma saia plissada e vou jogar tênis com os meninos. Antes do acidente, costumava ser uma boa jogadora. Os torneios da família eram sempre levados à sério com apostas em dinheiro.

— Como foi sua viagem para a Europa? — Calum pergunta quando fazemos o revezamento dos times e ele fica como minha dupla da partida.

— Meu pai comeu tinta de lula.

— O que mais? — Luke pergunta do outro lado, antes de acertar a bola. Ele está todo caricato, ainda mais que eu. Usava uma bermuda curta e camisa pólo, com braceletes e uma faixa azul no cabelo.

— Sinceramente, não tenho muita coisa para contar. — revido o saque com muita força. — Sabe o que eu fiz enquanto meu pai visitava o Coliseu?

Limpo o suor que escorre entre meus olhos. Ashton devolve a bola.

— O quê? — Michael grita do canto da quadra, observando as sacadas com um binóculo, sentado em uma espreguiçadeira.

— Deitei com o rosto encostado nos ladrilhos do banheiro do hotel. Fiquei olhando fixamente para a base azul do vaso sanitário italiano.

Calum rebate tão forte que a bola sai da marcação. Ponto para Ashton e Luke. Olho para ele em reprovação, que parecia um pouco incomodado.

— O vaso era azul? — Luke começa a partida outra vez.

— Só você para ficar mais empolgada com um vaso sanitário azul do que com os monumentos de Roma. — Calum resmungou. Eu não deixo que ele acerte a bola, e cruzo a raquete antes que ele pudesse revidar.

Marco um ponto. Vibro com um sorriso.

— Lola. — Ashton chama. Olho para ele antes de sacar.

— O quê?

— Deixa pra lá.

— O quê? — pergunto outra vez.

— Você disse para não sentir pena de você, mas aí conta uma história sobre o vaso sanitário azul. — ele diz sem pensar. — É de dar pena. O que devemos dizer?

— Além disso, ir para Roma nos deixa com inveja. — diz Calum. — Nunca fomos para Roma.

— Eu quero muito ir para Roma! — Luke diz animado, se posicionando para receber a bola. Jogo em sua direção. — Quero muito ver os vasos azuis.

— Eu quero ver as Termas de Caracalla. — Michael comenta, ainda nos olhando pelo binóculo. — E experimentar todos os sabores de sorvete que eles fazem.

— Então vá. — respondo.

— Não é tão simples assim.

— Certo, mas você vai. — afirmo. — Pode ser depois da faculdade.

— Você foi para Roma! — Calum diz incrédulo, misturando revolta e entusiasmo.

— Queria que você tivesse ido junto. — digo a ele.


No fim da tarde, vou à Windemere tomar banho. Índia está escorada ao balcão da cozinha com um pote de sorvete entre os braços.

we were liars - cthOnde histórias criam vida. Descubra agora