Naquela mesma noite, eu acordo com calor. Suando frio como se uma onda de febre houvesse passado. Ainda com as luzes apagadas, ao chutar os cobertores até o final da cama, eu vejo a mancha escura de sangue em meu lençol cor de creme. O corte feito ao saltar da pedra volta a sangrar. Parecia que eu estive cutucando a ferida durante todo o sono.
Me levanto rápido e fico tonta. Aperto os olhos e enxergo uma lembrança do verão dos dezesseis.
Era Tia Paige, chorando muito. Estava curvada sobre os próprios joelhos, debruçada no ancoradouro. Sua maquiagem escorria pelo rosto de tão borrada enquanto tremia. Chorava com tanta força, fazendo tanto barulho, que parecia ansiar um vômito de angústia. Ela usava uma jaqueta xadrez de náilon que era do Michael.
A sensação que tenho é de que eu a via enquanto eu estava deitada, com o corpo molhado. Podia enxergar seu rosto pelo reflexo de uma fogueira. Lembro dos pés de Luke subindo pelas escadas de Clairmont. Tudo vem muito rápido em minha cabeça, alternando entre clarões.
Por que ela está usando a jaqueta de Michael?
Por que ela está tão triste?
Por que Luke estava correndo pelas escadas?
Qual a conexão entre as lembranças?Preciso respirar fundo para me recuperar do baque. Minha cabeça começa a doer, mas mesmo assim acendo as luzes do quarto. Troco meu curativo e a roupa de cama, colocando os lençóis sujos de sangue na parte funda do cesto em meu banheiro.
Visto um suéter grande sobre o pijama de botões e calço minhas galochas amarelas que sempre deixo na saída de Windemere. É a primeira vez em muito tempo que a porta do quarto de Índia está fechada. O que, de algum modo, me dá mais segurança para fugir sem que a acorde.
Uso uma lanterna para iluminar meu caminho até Cuddledown, onde certamente encontraria os Mentirosos.
— O que está fazendo? — ouço a voz de Zoe quanto entro. A vejo deitada no sofá, sob uma manta listrada. Sei que ainda está chateada comigo pelo tom da sua voz.
— Vim procurar vocês.
— Por quê?
— Tive uma lembrança. Tia Paige estava chorando muito. Usava aquela jaqueta xadrez ridícula do Michael. — faço uma pausa, olhando para seu rosto iluminado pela fraca luz do abajur de coruja. — Você se lembra de ter visto tia Paige chorando?
— Algumas vezes, sim.
— E no verão dos dezesseis? Quanto ela tinha aquele cabelo curto com mechas escuras?
— Não. — responde Zoe, ríspida.
— Por que não está dormindo?
Zoe sacode a cabeça.
— Não sei. — respirou fundo. — Por que você não está dormindo?
— Por céus, Zoe. — arrasto a voz, me sentando no sofá a sua frente. — Por que está tão ranzinza? Já conversamos sobre eu ter pulado da pedra.
— Como está seu corte? — ela desvia o olhar para o curativo. Dá para ver o traço de sangue, ainda que fino, na lateral do joelho até metade da coxa.
— Bem. Obrigada por perguntar. — digo com ironia, revirando os olhos.
— Você não mede as consequências, Lola. Parece uma criança mimada. — ela se senta, jogando a manta listrada para o canto do sofá. — Eu não estava te desafiando. Tem ideia do que poderia ter acontecido?
— Eu não gosto da forma com que você tem me tratado, só por eu estar doente. — digo um pouco alto. Ela me repreende com o olhar. — Eu só quero ser a Lola de dois verões atrás.
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we were liars - cth
FanfictionÉ sobre o encantamento da ilha de Beechwood que Lola Sinclair se apaixona desesperadamente por Calum Hood. Lola é brilhante, mas secretamente frágil e atormentada. Calum é determinado, mas abertamente impetuoso e inconveniente. O que, de certa forma...