already gone

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Sequei meus olhos para que eu pudesse enxergar a luz do dia, depois de ter passado a noite acordada remoendo a sensação que é estar completamente morta por dentro. Tem tanta dor dentro de mim.

Para onde vou agora, sendo que a única casa que conheci está em cinzas?

Criei uma ilusão. Acho que estou perdendo a cabeça.

Vaguei por noites de apagão e espaços apertados, fantasiando histórias com a figura dos meus Mentirosos. O único intuito era criar novas lembranças que seriam inesquecíveis. Qual a verdade por trás disso? Ainda os verei outra vez? Teria essa chance?

Porque não, eu não mereço. Eu me sinto vazia.

Índia bate na porta do meu quarto e chama meu nome.

Não respondo. Uma hora depois, ela bate de novo.

— Me deixa entrar?

— Não, mãe. Vá embora. Por favor.

— Está com enxaqueca? Só responda isso.

— Não é enxaqueca — digo. — É outra coisa.

— Eu te amo, Lola. — ela diz.

Índia diz isso o tempo todo desde que fiquei doente, mas só agora percebo o que ela realmente quer dizer: Eu te amo apesar do meu luto. Apesar de você ser louca. Eu te amo apesar do que suspeito que você fez.

— Você sabe que todos nós te amamos, não é? — ela fala do outro lado da porta. — Tia Liz, tia Paige, vovô e todo mundo? Inclusive, tia Paige está fazendo a torta de mirtilo que você gosta e mais outros bolinhos. Sai do forno em meia hora. Você pode comer no café da manhã. Eu pedi para ela fazer.

Eu me levanto. Vou até a porta e abro uma fresta. Evito olhar para seus olhos, então fico observando seus pés em uma sandália cheia de pedrinhas bordadas.

— Diga a tia Paige que eu agradeço. Só não posso sair agora.

— Você estava chorando — ela pontua.

— Um pouco.

— Entendo.

— Desculpe. Sei que quer que eu tome café na nova Clairmont, e até nisso eu tenho falhado. Sinto muito mesmo.

Eu estou envergonhada.

— Não precisa pedir desculpas — minha mãe me diz. — De verdade, você nunca precisa dizer isso, Lola.

Fico vigiando-a atravessar o acesso e subir pela colina de nova Clairmont, hora ou outra olhando para nossa Windemere. Quando me certifico de que não há mais ninguém andando pela ilha, eu saio de casa.

Como sempre, não vejo ninguém em Cuddledown até meus pés começarem a fazer barulho nos degraus. Então Luke aparece na porta, pisando com cuidado sobre o vidro quebrado. Quando vê minha cara de derrota, ele para.

— Você lembrou — ele diz. Confirmo com a cabeça. — Você lembrou tudo?

— Não sabia se vocês ainda estariam aqui — digo.

Ele estende o braço para segurar minha mão. Parece quente e substancial, embora esteja pálido, desbotado, com bolsas escuras sob os olhos.

— Não podemos ficar por muito mais tempo — Luke diz. — Está cada vez mais difícil.

Faço um gesto positivo com a cabeça.

— Zoe é quem está pior, mas Calum, Ashton, Michael e eu estamos sentindo isso também.

we were liars - cthOnde histórias criam vida. Descubra agora