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Pouco depois de nos mudarmos para a casa nova, Dotun perdeu o emprego em Lagos e foi passar um tempo conosco. Na verdade, ele nunca se mudou de fato para nossa casa, já que um homem casado e com quatro filhos não vai morar com outra família a não ser que esteja deixando sua esposa: ele simplesmente apareceu um dia e não voltou para Lagos. Disse que precisava de um tempo para clarear as ideias e conseguir outro emprego.A verdade era que ele havia passado um ano desempregado antes de ir morar conosco e gastara todas as economias para abrir uma padaria, que faliu em poucos meses. Tentou conseguir outro emprego depois disso, mas as únicas vagas que surgiram eram de segurança ou mensageiro — trabalhos que não aceitou porque, com seu diploma, sentia-se qualificado demais. Depois de gastar as solas de seu último par de sapatos em Lagos, ele vendeu o carro,que era de sua mulher, pegou algum dinheiro emprestado e tentou ressuscitar o negócio da padaria. Dessa vez, foi enganado por fraudadores em circunstâncias que afirmou serem muito embaraçosas para compartilhar. Tudo isso ele contou primeiro a mim, antes de contar a Akin.Dotun foi para Ilesa para fugir dos credores. E mesmo depois que Akin deu a ele parte de nossas economias para saldar suas dívidas, ele não foi embora. Durante as primeiras semanas de sua estadia conosco, Dotun deve ter tomado pelo menos três engradados de uma cervejade produção local, Trophy. Ele não fazia quase nada além de comer a carne da minha panela de ensopado enquanto eu cozinhava e proclamar do nada como eu era sexy enquanto eu tentava preparar o jantar antes que meu marido chegasse do trabalho.Ele me elogiava todos os dias, vencendo minha paciência, minando pouco a pouco minhas defesas, até eu me dar conta de que o que eu pensava ser aço na verdade não passava de madeira compensada. Se ele me dissesse que eu era linda, eu teria resistido. Akin me dizia isso o tempo todo, com um tom reverencial que nunca deixou sua voz com o passar dos anos.Dotun, por outro lado, elogiava a forma perfeita dos meus seios, minhas nádegas redondas eos meus olhos sedutores.— Adoro quando você queima o jantar — disse ele um dia, olhando para mim por sobre uma garrafa de cerveja.Eu estava saindo da cozinha. Tinha acabado de carbonizar uma panela de ensopado de legumes que estava preparando para Akin comer com arroz naquela noite.Dotun colocou a garrafa aos seus pés.— Ainda mais quando você está lá em cima. Você corre para o andar de baixo e, quando corre, seus peitos balançam. Eu ainda penso em você, naquele fim de semana que passei aqui quando estava indo para Abuja.Eu não gostava de pensar naquele fim de semana. Tinha sido cerca de dois meses desde o nascimento de Olamide, quando Akin precisou ir para Lagos em uma viagem emergencial de trabalho pouco depois da chegada do irmão. Dotun e eu ficamos sozinhos em casa com Olamide durante todo o fim de semana. A casa não era grande o suficiente para impedir que nos esbarrássemos. Estávamos tomando café da manhã no sábado quando ele estendeu o braço para afastar o cabelo do meu rosto, em seguida tocou minha orelha e não parou. Não foi rápido e furtivo como da primeira vez; ele não terminou cedo demais. Eu me senti tão culpada que o evitei pelo resto do fim de semana e prometi a mim mesma que aquilo nunca mais ia acontecer.— Eu sempre penso naquele fim de semana — disse Dotun.Enquanto ele falava, meu coração batia mais rápido e senti meus mamilos endurecerem.Agradeci pelas coisas boas da vida, como o sutiã acolchoado que estava usando naquele dia.— Não vai acontecer de novo.— Não precisa resistir — disse ele. — É normal você querer.Eu me afastei, embora soubesse que Dotun jamais tentaria nada. Eu é que teria que ir até ele; ele nunca viria atrás de mim.— Do que você está falando?— Me avise quando estiver pronta. Eu estou sempre pronto — disse ele, pegando novamente a cerveja.Disse a mim mesma que era o álcool que o deixava tão ousado. Ele estava um pouco embriagado, arrastando as palavras.Era bom que colocasse as coisas dessa forma, como se ir para a cama com ele fosse apenas uma transação de negócios. Isso me ajudava a pôr as coisas em perspectiva, apagava as brasas que ardiam em meu ventre e contia a umidade que sentia entre minhas pernas.Eu deveria ter dito a ele que parasse de falar comigo daquela maneira. Que parasse de dizer que meus seios ainda eram notavelmente firmes depois de amamentar dois filhos. Ele teria parado; ou pelo menos teria parado se eu tivesse ameaçado contar a Akin. Mas eu não queria que ele parasse. Eu adorava como suas palavras fluíam pelos meus ouvidos, espalhando calor por todo o meu corpo. Em vez de contar a Akin sobre seus comentários lascivos e exigir que ele colocasse Dotun para fora de nossa casa, eu fingia ignorá-los. À noite, repetia aquelaspalavras em minha mente, com sua voz rouca quando as pronunciava, enquanto Akin dormia ao meu lado de barriga para baixo, roncando com a boca aberta. Comecei a ter motivos para voltar para casa depois de deixar Sesan na escola.Minha cabeça pesava. O peso dobrava a cada passo que eu dava em direção ao quarto de Dotun, o quarto que um dia pertencera à criança que nunca dei à luz, antes de que fosse passado para Funmi. Quando entrei, Dotun estava sentado no chão, de costas para a porta,escrevendo uma carta de apresentação para uma vaga de emprego. Espalhados pelo chão,uma dúzia de envelopes, a maioria selada e endereçada. Eu não sabia até então que ele estavase esforçando para conseguir trabalho. Achava que simplesmente passava o dia bebendo cerveja e comendo carne da panela. Akin tinha me dito que Dotun ia ficar conosco apenas tempo suficiente para clarear as ideias.Eu me perguntei por que ele falava com Akin sobre seus projetos grandiosos em vez de sobre as cartas que parecia escrever todos os dias. Quis dar meia-volta e sair. Tinha a sensação de tê-lo surpreendido fazendo algo privado e, se assistisse, seria levada a ter alguma forma de intimidade com ele. Ele ergueu o olhar. Não dava mais para voltar atrás. Dotun recolheu os envelopes em uma pilha, mas seu olhar permaneceu fixo no meu.— O que foi? Se ko si? — perguntou.— Eu... nada... bem... nada.Ele se levantou.— Não aconteceu nada? Você está no meu quarto.— Eu vim para... vim aqui para... Como estão indo as cartas? Alguém já respondeu?Ele se sentou na cama e apoiou a cabeça entre as mãos, olhando para a pilha de envelopes.Ficou em silêncio. Era minha deixa para tirar a blusa ou fazer o que precisasse ser feito para dizer estou pronta para fazer sexo com você outra vez. Eu me sentia uma idiota. Por que tinha ido até lá? O que eu sabia sobre seduzir um homem, mesmo um que queria ser seduzido? Eu era virgem quando me casei com Akin.— Fui envolvido em uma fraude no trabalho, por isso acabei sendo demitido. Essas coisas se espalham... e agora ninguém quer me contratar. Ninguém.Ele falava rápido, como se as palavras queimassem sua língua.Desejei que Dotun tivesse ficado sozinho em seu mundo atormentado, sem me dizer nada.Eu não queria saber de sua agonia secreta, de seu sofrimento. Não me importava e não queria. Só havia uma coisa que queria dele.— Eu não contei isso ao irmão mi. Não diga nada a ele, por favor. Não diga — pediu ele.Eu concordei.— Eu não estava envolvido na fraude. Fui apenas idiota o bastante para autorizar alguns dos documentos. Quem fez tudo na verdade foi uma mulher; eu estava dormindo com ela.Ele ergueu o olhar, seus olhos desolados e suplicantes.Eu assenti. É claro que ele estava dormindo com uma mulher de seu escritório; de acordo com sua esposa, ele estava dormindo com todas as mulheres da rua.Dotun suspirou.— Minha mulher não acredita em mim. Acha que eu tenho dinheiro escondido em algum lugar. E uma linda garota esperando para gastá-lo comigo. — Dotun riu. — Quem me dera.Não conte nada a Akin. Por favor... não faça isso... não diga nada. Talvez eu devesse contar tudo a ele... — Ele se deitou na cama e cobriu o rosto com as mãos. — Estou arruinado. Não sei administrar uma empresa. Ninguém quer me dar emprego. Estou acabado.— Vai ficar tudo bem — falei, esperando que ele se calasse, desejando sair do quarto antes que ele desnudasse mais uma parte de sua alma.Sentei-me ao lado dele na cama.— Você se formou entre os melhores da sua classe. Vai dar um jeito.O riso parou. Sua respiração pesada interrompeu o silêncio.— Obrigado — disse.Minhas pernas tremiam quando saí do quarto.*Sesan e eu estávamos prestes a sair de casa para fazer a comunhão quando fiquei sabendo sobre o golpe de Orkar. Embora tivesse acabado de começar a andar, Sesan já se firmava sobre os próprios pés e insistia em descer as escadas sem minha ajuda. Foi enquanto eu o guiava escada abaixo que ouvi a notícia do golpe no rádio que agora deixávamos ligado o tempo todo. Quando me dei conta de que a voz na rádio anunciava a derrubada do regime de Babangida, peguei meu filho no colo, fiz sinal para que ficasse em silêncio quando ele protestou e corri para a sala de estar.Ainda não eram oito da manhã. Akin estava dormindo no andar de cima, e Dotun estava em seu quarto, provavelmente de ressaca. Então fiquei sozinha com Sesan enquanto ouvia a retransmissão do discurso da tomada de poder. Eu assentia com a cabeça enquanto o locutor desfiava acusações contra o governo de Babangida, mas, quando ele anunciou a expulsão do país de cinco estados do norte, fiquei tão chocada que decidi esperar a repetição da transmissão, apenas para ter certeza de ter ouvido direito. Afrouxei o lenço que cobria minha cabeça enquanto a estação tocava a música marcial; não fazia mais sentido ir para a igreja. Antes que eu terminasse de dobrar o lenço, houve um corte de energia. Eu suspirei — poderia levar horas ou dias para que a eletricidade voltasse; não havia como prever.Levei Sesan para o andar de cima e tentei tirar sua gravata-borboleta. Ele estava chorando em protesto quando Akin acordou.— O que houve?Soltei Sesan, que correu para junto da cama, do lado de Akin.— Você não vai à igreja? — perguntou ele, olhando para o relógio na parede. — Já são quase nove horas.— Depuseram Babangida — falei. — Houve um golpe.Akin sentou-se na cama de um salto.— É sério?— Ouvi a transmissão antes de as luzes se apagarem.— Eu disse a Dotun que alguém ia acabar derrubando esse homem. O caso de Dele Giwa foi muito suspeito. — Ele colocou os pés no chão. — Ninguém pode provar que foi ele, mas ainda assim... E ele não prometeu que este ano haveria eleições e que voltaríamos a viver em uma democracia? Onde está a democracia agora?— Isso é parte do que os novos estão dizendo que, se não tomassem o poder, ele se tornaria presidente vitalício.— Impossível nesta Nigéria. — Akin se levantou e Sesan abraçou uma de suas pernas. —Isto aqui não é uma república de bananas.— Mas eles disseram uma coisa estranha. — Aproximei-me de Akin e peguei a mão de Sesan; ele choramingou enquanto eu desabotoava sua camisa. — Disseram que pretendem expulsar da federação alguns estados do norte: Sokoto, Borno, Kano... Havia outros, mas não consigo lembrar quais.— Eles querem fazer o quê?— Eu não entendi muito bem essa parte. Não é possível, é?O telefone tocou e nós dois nos sobressaltamos. Já conhecíamos o padrão: depois de um golpe de Estado, as linhas costumavam ficar mudas durante todo o dia. Akin atendeu. Ouvi o lado dele da conversa e decifrei que sua irmã estava do outro lado da linha. Eles se falaram por um tempo, e Akin assegurou a Arinola que não achava que houvesse problemas na cidade e que íamos ficar todos bem. Assim que terminou a ligação, o telefone voltou a tocar.Dessa vez era Ajoke, a esposa de Dotun.— Ela pediu para rezarmos — disse Akin depois que encerrou a conversa. — Está havendo um confronto em Lagos; estão ouvindo tiros da casa deles.— Ah, meu Deus, as crianças. Elas estão bem?— Sim, mas Ajoke está com medo. Os disparos são altos. — Akin pressionou a palma contra a testa. — Mas acho que eles vão ficar bem. Não vamos ter vítimas civis.Eu me sentei na cama, imaginando Ajoke e seus filhos encolhidos no canto de um quarto.— Deus os ajude.— Se ainda há confronto, não acho que Babangida vá a lugar nenhum.— Você precisa dizer a Dotun que Ajoke ligou.— Sim, sim.Ele ergueu Sesan e saiu do quarto com ele montado nas costas.— Tem café da manhã pronto na cozinha — falei enquanto ele saía. — Eu fiz moin moin.Fiquei no quarto, preocupada de como seriam os próximos dias. Quanto mais pensava nisso, mais eu desejava que Babangida conseguisse manter o poder, não porque gostasse de como ele governava o país, mas porque o status quo era o diabo que já conhecíamos. Se os novos oficiais assumissem o poder e realmente expulsassem os estados do norte, dentro de algumas semanas a situação provavelmente precipitaria outra guerra civil.Akin gritou alguma coisa, e fui até o patamar da escada.— O que você disse?— Dotun acha que trouxe o rádio de pilha — disse ele. — Está procurando por ele no quarto.Akin estava parado no meio da sala, com Sesan sentado em seus ombros, esticando-se para tocar o teto.Fui para o andar de baixo. Como se tratava de Dotun, ele levou horas para encontrar o rádio e as pilhas do tamanho certo. Quando finalmente o ligou, todas as estações estavam transmitindo peças instrumentais, o que indicava que as coisas ainda estavam confusas e ninguém estava confiante o bastante para retomar a programação normal. Dotun se decidiu por uma estação que tocava algo que parecia ser música clássica. Ficamos sentados em silêncio, cercados pela música, à espera de notícias. De repente, o rádio ficou mudo: por um instante, pensei que as pilhas tinham acabado, mas ele logo estalou com estática e uma voz anunciou:Eu, tenente-coronel Gandi Tola Zidon, asseguro-lhes que os dissidentes foram derrotados. Todos devem manter a calma e aguardar o próximo pronunciamento. Obrigado.Dotun ligou para Ajoke e as crianças. Em seguida continuamos a ouvir a rádio até as baterias acabarem. Houve outros pronunciamentos, discursos e transmissões que nos informaram que sim, houvera derramamento de sangue, mas no fim das contas nada tinha mudado.*Iya Bolu agora era minha inquilina. Ela tinha decidido continuar com seu salão depois que comprei o prédio e, no primeiro dia de cada mês, seu marido pagava o aluguel. Ela quase nunca tinha clientes, então não tinha como arcar com esse custo sem a ajuda do marido.Ainda assim, recusava-se a fechar o salão.— Não posso simplesmente ficar sentada em casa, sem fazer nada — dizia ela sempre que eu sugeria que fechasse o negócio. — Vou continuar acordando e vindo para cá até descobrir outro trabalho.Ela continuava passando quase todo o tempo em meu salão, e eu comecei a evitar que as clientes se sentassem na cadeira que tinha passado a considerar de Iya Bolu. À tarde, quando chegavam da escola, suas filhas almoçavam e faziam a lição de casa no salão da mãe. Se as meninas iam até minha loja, ela as mandava embora sempre com as mesmas palavras: Vão ler seus livros.— Bolu vai se formar na faculdade, com a graça de Deus — dizia Iya Bolu depois que as crianças saíam pelo corredor.Em geral, minhas clientes diziam "amém" quando Bolu e suas irmãs saíam. Mas um dia,quando Iya Bolu fez sua declaração, estava no salão uma das minhas clientes fixas, Tia Sadia. Em vez de dizer "amém", Tia Sadia começou a rir.— Por que está rindo? — perguntou Iya Bolu, levantando-se. — Qual é a graça?Eu estava removendo as extensões de Tia Sadia, usando uma lâmina para cortar o fio que prendia as mechas aos seus cabelos. Ela olhou para o espelho ao responder.— Aquela sua filha de pele clara? Você não vê? Ela já está ficando muito bonita. Acha que os rapazes vão deixá-la em paz?Ela pronunciou a palavra "bonita" como se a beleza fosse um mau hábito que Bolu cultivasse, algo que beirava o comportamento criminoso e pelo qual ela um dia seria justamente punida.Iya Bolu ficou de pé ao meu lado, as mãos na cintura.— Ehen, então, só porque Bolu é bonita, ela não poder ler? Não pode ir para a universidade?Tia Sadia sorriu para o espelho.— Espere só até os seios dela ficarem como laranjas maduras e todos os homens que a virem começarem a ficar rígidos como soldados. Em pouco tempo, ela estará grávida. Aí então você vai entender o que estou dizendo.— Não a minha filha. Deus queira que não. — Iya Bolu se aproximou de Tia Sadia e elevou a voz. — Minha filha vai para a faculdade.Olhei para Tia Sadia, esperando que ela se desculpasse ou falasse algo para tranquilizar Iya Bolu. Ela não disse nada.— Não há nada que impeça uma menina bonita de se debruçar sobre os livros — falei, por fim, dando tapinhas nas costas de Iya Bolu.Terminei de remover as extensões de Tia Sadia, então fiz um gesto para que uma das cabeleireiras desfizesse suas tranças.Fui até o canto do salão onde Sesan estava dormindo em seu berço e segurei seu pulso por alguns instantes, sentindo o ritmo tranquilizador de seus batimentos.— Só estou dizendo que a coisa dura também é doce. Abi? Até mesmo você, que é a mãe dela sabe: se não fosse doce, teria parido sua filha?Tia Sadia tinha se virado em sua cadeira e sorria para Iya Bolu. Era o mais próximo de um pedido de desculpas a que ela ia chegar.Iya Bolu balançou a cabeça.— Minha filha vai ter um diploma. Depois disso, ela poderá desfrutar de todas as coisas duras que quiser.— Muito bem, então ela vai se formar antes de os soldados em posição de sentido botarem as mãos nela. Não que seja o fim do mundo se puserem as mãos nela primeiro e depois ela se formar. — Tia Sadia riu e deu um tapinha na mão de Iya Bolu. — Vamos dar graças a Deus que pelo menos a coisa dura não mata.Iya Bolu também começou a rir.— Se matasse, algumas de nós já estariam mortas. Graças a Deus o pilão não mata o almofariz. Se fosse assim, como poderíamos desfrutar de um maravilhoso purê de inhame?— Mas Deus é grande. Iya Bolu, você sabe que quando a coisa está adormecida, daquele jeito mole, podemos até não respeitar. Mas quando está de pé assim? — Tia Sadia se levantou e ficou em posição de sentido. — Ereto assim? Eu dou graças ao deus que o fez dessa forma.Iya Bolu bateu palmas.— É essa dureza que lhe dá valor e honra, o jare.— Abi? — Tia Sadia se sentou. — O que faríamos com um pilão mole? Como amassaríamos o inhame?Enquanto elas conversavam, comecei a me sentir desconfortável. Pensei na última vez que Akin e eu tínhamos feito amor e quis fazer perguntas a Tia Sadia — ela parecia ser o tipo de pessoa que me daria um tapinha na mão e respostas diretas. Mas, em vez disso, mordi a língua, porque não era o tipo de mulher que discutia sua vida sexual com outras mulheres em um salão de beleza.A cabeleireira tinha terminado com Tia Sadia. Fui até ela e enfiei um pente em seus cabelos.— Então, que estilo você quer? — perguntei.— Por que está com uma expressão tão severa? Abi, não come purê de inhame à meia noite?— Não se preocupe, ela vive com a cara fechada desse jeito, como se fosse virgem. — Iya Bolu apontou para o berço de Sesan. — Mas temos provas de que ela sabe se sair muito bem.— Senhora, que estilo quer?Tia Sadia me encarou por um tempo, um sorriso ainda curvando o canto de seus lábios.Seu olhar me deixou nervosa, com receio de que ela continuasse falando de sexo.— Tudo bem — disse ela. — Apenas tranças, para trás. Penteadas para atrás.Comecei a passar pomada nos fios, feliz por ela ter abandonado aquele assunto. Afastei de minha mente as perguntas que queria fazer e deixei que seus cabelos macios deslizassem por meus dedos.Ela sorriu para o espelho enquanto eu separava as mechas.— Eu conheço seu tipo. Você faz essa cara de Virgem Maria, mas dentro do quarto, a portas fechadas, pega fogo.Mordi o lábio inferior e não disse nada.

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