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Conheci Akin quando estava no meu penúltimo ano na Universidade de Ifé. Naquela noite,eu tinha ido ao Oduduwa Hall para assistir a um filme com um rapaz que me pagou a entrada e comprou suya para que eu comesse durante a exibição. Naquela época, eu e esse rapaz nos víamos quase todos os dias.Na fila da bilheteria, vi Akin à nossa frente. Ele estava sorrindo por causa de algo que agarota que estava com ele tinha dito; seu lábio inferior era de um rosa intenso, que se destacava contra a pele escura. Tive vontade de tocar seu lábio para descobrir se ele estava usando batom. Senti uma estranha sensação no fundo do estômago, um lugar que antes daquela noite eu não sabia que existia.Na sala de cinema, eu me sentei a um assento de distância dele. A garota que o acompanhava estava sentada na cadeira entre nós, mas, naquela noite, ela não existia, era como ar — nem mesmo a cadeira em que ela estava sentada existia. Eu podia sentir a presença de Akin perto de mim como se ele estivesse sentado bem ao meu lado. Como o suya, mastigando pedaço após pedaço de carne apimentada sem parar para beber da garrafa de refrigerante que meu atencioso acompanhante tinha comprado.— Uau, você é corajosa, comendo toda essa pimenta. Minha boca já estaria em chamas —disse o rapaz.Olhei para ele momentos antes de as luzes se apagarem para sinalizar o início do filme,tentando lembrar quem ele era e por que raios estava falando comigo. Tentei manter meus olhos na tela. Era impossível. Meus olhos eram atraídos para Akin como metal para um ímã;era simplesmente impossível resistir à força da atração. Ele também olhava para mim na penumbra produzida pela luz da tela. Eu desviava os olhos todas as vezes, com medo de me afogar em seu olhar penetrante. O filme terminou cedo demais. Eu me levantei e me forcei air atrás do meu acompanhante, de quem não me recordava mais nem mesmo do nome,mantendo a cabeça baixa para poder olhar de relance para Akin sem virar a cabeça.Meu acompanhante estava indo para a sala de estudos, onde pretendia passar toda a noite.Eu lhe assegurei de que não seria necessário me acompanhar até o alojamento. Ele foi para a Faculdade de Artes, e eu na direção do Moremi Hall. Akin me seguiu. Assim que pisei na calçada, senti sua mão em meu braço.— Quer uma carona? — perguntou ele.— Você pretende me carregar nas costas?Ele riu.— Seria ótimo. Mas meu carro está estacionado na frente do prédio. Posso trazê-lo até aqui ou podemos ir buscá-lo juntos. Mas se preferir que eu a carregue nas costas, você é quem sabe.— Não, obrigada.Eu tinha passado a noite babando por ele, mas meu cérebro ainda não tinha saído pela boca. Passava da meia-noite, e ele poderia ser um sequestrador.— Meu nome é Akinyele, mas todo mundo me chama de Akin — disse ele.Por algum motivo, meus pés ficaram enraizados no chão.— Yejide. Ele coçou a sobrancelha.— Ye-ji-de. Um lindo nome.De repente, me descobri incapaz de produzir mais de uma palavra por vez.— Obrigada.— Então, deve ter notado que eu não consegui assistir ao filme por sua causa.— Você quer que eu o reembolse?Ah! Tinha recuperado minha língua.Ele sorriu.— Eu gostaria, mas não com dinheiro, sha, eu gostaria do número do seu quarto. Quero vê-la de novo. Encontrá-la.— Vai vir com sua namorada?— Namorada? Ah, Bisade. Ela era minha namorada, mas está tudo acabado agora.Inclinei a cabeça para esconder um sorriso.— Desde quando?— Desde que pus os olhos em você. Esta noite.— E Bisade sabe disso?Ele coçou a ponta do nariz.— Vai saber em breve.— F101, Moremi. O número do meu quarto.As palavras saíram da minha boca por iniciativa própria.Ele esfregou as mãos e sorriu.— Venha comigo até o carro — convidou.Eu o segui até o carro, o fusca que passaria a ser meu depois de nos casarmos. Ele segurou a porta enquanto eu entrava.— Sabe o que dizem sobre um homem iorubá que abre a porta para a esposa? — perguntou ele quando entrou.— O quê?— Bem, quando um homem iorubá abre a porta para a esposa, ou a esposa é nova ou o carro é novo.— Ah — falei, como uma idiota.— F101 — disse ele, desligando o motor do carro.Estávamos no estacionamento do Moremi Hall.Assenti, tentando afastar os olhos de seus lábios. Não consegui. Em vez disso, senti meus próprios lábios se abrirem. O carro estava em silêncio. Podia ouvir minha própria respiração,pela boca. Eu poderia ter afastado sua mão quando ele tocou meu queixo, inclinando meu rosto até nossos olhos se encontrarem, seus olhos questionadores que, em silêncio, me pediam permissão. Mas não afastei sua mão. Seu campo magnético me puxou para mais perto. Seus lábios tocaram os meus.Foi meu primeiro beijo.Claro, eu já havia engolido saliva da boca de alguns rapazes antes disso, tivera meus lábios amassados de maneira incômoda, e me perguntava por que havia tantas pessoas debaixo das árvores, em diferentes pontos do campus, pressionando os lábios uns contra os outros todas as noites. Compreendi o motivo quando senti os lábios de Akin sobre os meus. Sua boca parou o tempo. Sua língua provocou a minha até iniciarem uma dança. Quando ele recuou,não me lembrava do meu nome nem de mais nada.— Venho vê-la amanhã — disse ele.Eu cambaleei para fora do carro e subi os degraus que levavam ao Moremi Hall.Ele apareceu no dia seguinte, sentou-se na minha cama e recostou-se até sua cabeça ficar apoiada no painel de madeira que corria ao longo da parede. Ele parecia completamente à vontade, como se fosse até lá todos os dias e se recostasse na minha cama daquela maneira.Eu me sentia estranha. Ele não disse nada, apenas olhou para mim com um sorriso nos lábios. Fui tomada por uma urgência de preencher todos os silêncios com palavras. O silêncio para mim era um vazio no universo que poderia nos sugar a todos. Cabia a mim bloquear esse vazio mortal com palavras e salvar o mundo. Comecei a falar sobre mim sem esperar que ele perguntasse. Ele se sentou, inclinou-se para a frente e ouviu cada palavra.Comecei a me sentir como se estivesse elucidando verdades eternas. Akin tinha uma grande capacidade de ouvir, de concentrar os olhos e ouvidos de uma maneira que dava a impressão de que tudo que você dizia era realmente importante, até mesmo crucial. Eram dez da noite — muito cedo, mas, assim como todos os outros visitantes do sexo masculino, ele teve que deixar o alojamento. Enquanto o acompanhava até o carro,percebi que ele havia passado quatro horas no meu quarto e que eu ainda não sabia nada sobre ele além do nome. No entanto, de alguma forma, era como se o conhecesse.Mais tarde aprendi que Akin se mantinha cuidadosamente fechado enquanto fazia as outras pessoas se abrirem. Era o tipo de indivíduo que muitos consideravam um amigo íntimo.Diversas dessas pessoas sequer o conheciam de fato, mas não sabiam. Isso fazia com que eu me sentisse especial, saber que Akin não permitia que ninguém o conhecesse de verdade.À medida que nos aproximamos e ele passou a ser a pessoa que falava sem parar durante quatro horas, passei a me sentir como alguém que tinha acesso a um ambiente extremamente exclusivo — um clube no qual apenas Dotun e eu éramos aceitos. Levaria muito tempo para me dar conta de que Akin era capaz de falar por horas sem dizer nada, e que com essa habilidade tinha conseguido fazer com que eu me sentisse parte de seu círculo mais íntimo.Contei a Akin sobre o meu projeto. Eu o havia formulado no dia em que comecei a escola secundária. Iya Abike, a esposa mais jovem e preferida de meu pai na época, tinha me olhado de cima a baixo em meu novo uniforme escolar e me dissera que não havia necessidade de eu ir para a escola porque terminaria sendo uma vagabunda como minha mãe, grávida de um homem que nunca se casaria com ela. Nenhuma das outras esposas disse nada, mas eu sabia que Iya Abike, do alto de seu status de esposa favorita, tinha falado por todas elas, certa de que não teria problemas com meu pai, mesmo que eu contasse a ele o que ela dissera. Até aquele momento, quando terminasse a escola secundária, eu pensava em treinar para me tornar cabeleireira no salão do bairro. Naquele instante, porém, decidi que ia para a universidade, que me casaria virgem e depois da minha noite de núpcias enviaria o lenço manchado de sangue como prova para meu pai. Já naquela época, era uma tradição que poucos seguiam, mas eu estava decidida a respeitar esse costume e esfregar o lençol na cara de minhas madrastas quando chegasse a hora. Em minha mente, esse plano seria uma declaração, uma condição que eu imporia a qualquer homem que quisesse ficar comigo, uma espécie de pegar-ou-largar. Mas, com Akin, implorei. Embora tivéssemos nos beijado apenas algumas vezes antes de ele me pedir em namoro, eu já sabia que estava à mercê de seus lábios rosados.Ele concordou em esperar.A espera foi inútil. Meu pai morreu pouco antes do nosso casamento. Minhas madrastas encontraram uma desculpa para não comparecerem à cerimônia na igreja, embora não pudessem se livrar da cerimônia tradicional, que era realizada no terreno da família. Quando voltei para casa depois da recepção, para esperar que uma delegação da família de Akin fosse me buscar, a casa estava vazia. Não tinha nenhuma mulher para me acompanhar até Ilesa,nenhuma irmã mais nova para me fazer companhia em minha primeira noite depois de casada. Era como se eu não fosse apenas órfã; era como se eu não tivesse nenhum parente.Na noite em que Dotun entrou em meu quarto sem bater, me disse coisas que estavam bem diante do meu nariz, mas que eu me recusava a ver, e antes de sair com a cabeça baixa como a de um réu confesso, senti mais uma vez a solidão do dia do meu casamento.Acordei Sesan.— Conte-me sobre a escola — pedi.— Está na hora de ir para a escola, mamãe?Ele ainda estava sonolento.— Não, eu só quero conversar com você.Eu precisava ouvir sua voz, daquela pessoa que era toda minha, meu filho. Eu pertencia a ele de uma maneira imutável e insubstituível. Era sua mãe. Eu o conhecia, ele não seria capaz de me trair como Akin tinha feito. Ainda não era capaz de me enganar e, mesmo que me enganasse, eu sempre seria sua.— Quero dormir.— Sente-se aqui.Peguei-o no colo e o abracei com força.— Me conte: quem é seu amigo na escola?— Me larga — protestou ele, lutando para se desvencilhar de mim com uma força surpreendente.Ele rolou para o outro lado da cama e adormeceu.A solidão me envolveu como uma mortalha.

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