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Sesan nasceu em uma quarta-feira. Eu estava no trabalho quando a bolsa estourou, e foi Iya Bolu quem me levou para o hospital. Seu marido tinha acabado de comprar um carro usado,de forma que ela finalmente herdara o antigo Mazda e estava aprendendo a dirigir. Sua experiência ao volante até aquele momento se limitava ao trajeto de casa até o salão e de volta, mas ela se recusava a colocar o adesivo vermelho de principiante junto aos números da placa ou em qualquer outro lugar do veículo. Eu me sentei no banco da frente e, entre uma contração e outra, tentava lhe dar dicas. Poderia ter tomado um táxi, mas deixei que ela me levasse de carro até o hospital. Talvez porque, bem lá no fundo, eu acreditasse que merecia ser castigada pelo que tinha acontecido com minha filha.Havia pouquíssimas pessoas na cerimônia do nome de Sesan. Foi uma reunião íntima,realizada em nossa sala de estar. Os convidados se sentaram em cadeiras que pegamosemprestadas com nossos vizinhos, comeram arroz jollof e, uma hora depois da cerimônia,foram para casa. Moomi nem sequer compareceu. Sua filha Arinola, que na época morava em Enugu, também dera à luz, e Moomi partira para ficar com ela cerca de uma semana antes de Sesan nascer. Ninguém veio de Lagos ou de Ifé. Não havia banda tocando ao vivo, nem tenda de lona do lado de fora, nem microfone, nem DJ. Não houve dança.O segundo nome de Sesan era Ige, porque a primeira parte dele que veio ao mundo foram os pés. Eram ótimos pés; depois de algumas semanas, ninguém poderia duvidar de que os pés do meu filho eram os melhores pés possíveis. Como todas as pessoas com bons pés, sua chegada à nossa família foi seguida de todo tipo de coisas favoráveis para nós. Por exemplo,Akin comprou quatro lotes de terra pela metade do valor de mercado porque o proprietário estava afogado em dívidas e foi obrigado a vender todos os seus bens. Não foi algo tão bom assim para o pobre homem, mas, como acontece com frequência na vida, às vezes, a boa fortuna de uma pessoa é consequência direta da ruína de outra.Eu era vigilante com Sesan. Akin achava que eu estava ficando paranoica. Ele me alertava que meu filho ia crescer e nunca se casaria, porque ficaria apegado demais a mim. E eu me perguntava como Sesan poderia ficar apegado demais a mim se sua vida dependia de grudar a boca ao meu seio. Na minha opinião, o perigo era uma criança ficar apegada de menos ou não ter apego nenhum. Eu estava preparada para amarrar o pulso dele às tiras do meu avental e arrastá-lo para onde fosse pelo resto da vida.Sesan era uma criança tranquila. Chorava apenas quando precisava comer e, mesmo assim,seus gritos eram pontuados por pausas educadas. Às vezes, eu ia dar uma olhada nele no meio da noite e o encontrava acordado no berço, dando gargalhadas com as mãos e as pernas no ar, desfrutando de sua própria companhia, sem exigir atenção de ninguém.Compramos uma casa na Imo Street, não muito longe do complexo onde morávamos. Não era cercada quando a compramos, mas antes de nos mudarmos mandamos construir um muro. O muro era mais alto do que o telhado, com rolos de arame farpado no topo. Os assaltos à mão armada tinham se tornado comuns em todo o país e muros surgiam por toda a cidade, alguns mais altos do que os que mantinham os condenados na prisão. A maioria dos bairros agora empregava pelo menos um segurança armado para patrulhar as ruas à noite,disparando um tiro de vez em quando para tranquilizar os moradores. Durante o dia, ladrões entravam nas casas e levavam tudo o que podiam antes de suas vítimas retornarem.Começamos a deixar o rádio ligado sempre que saíamos de casa, para dar a qualquer ladrão em potencial a impressão de que havia gente em casa. Reparei que a maioria das pessoas fazia o mesmo, e que em muitas casas o ruído do rádio prosseguia ininterrupto até as estações encerrarem as transmissões do dia.Nossa nova casa ainda cheirava a tinta fresca quando meu salão passou de cinco para dez secadores de pé. Algum tempo depois, Akin e eu reunimos economias suficientes para comprar o prédio de dois andares onde ele funcionava. Embora Sesan tivesse nos trazido tanta boa sorte, era em Olamide que eu pensava todas as noites antes de dormir. E quando acordava de manhã, antes de abrir os olhos, eu a via — viva e olhando nos meus olhos enquanto mamava, como se me conhecesse desde antes do início dos tempos.

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