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No dia em que Yejide me disse que Sesan tinha anemia falciforme, eu estava em um quarto de hotel em Lagos, em algum lugar de Ikeja. Teria voltado para Ilesa imediatamente se pudesse, mas ainda tinha reuniões de negócios marcadas para os próximos dias. Quando Yejide me disse que o Dr. Bello queria falar comigo assim que eu voltasse para Ilesa,imaginei que ele quisesse discutir opções de tratamento. Eu não sabia o suficiente sobre a doença para ficar tão preocupado quanto ela pareceu ao telefone. Confiava na medicina e acreditava que, se tivesse dinheiro para pagar, Sesan poderia ser curado. E eu estava disposto a gastar tudo o que tinha.Fui falar com o Dr. Bello no dia em que cheguei a Ilesa. Nem mesmo passei em casa primeiro, fui direto ao hospital assim que entrei na cidade. Quando cheguei ao consultório,ele estava voltando da enfermaria.— Não se lembra de mim? — perguntou ele ao abrir a porta.Tentei me lembrar de onde nos conhecíamos, mas não consegui.— Não — respondi, entrando no consultório e me sentando na cadeira que ele indicou.Ele tirou o jaleco e o pendurou na parte de trás de uma cadeira.— No ano passado, fui ao seu banco para fazer um empréstimo; o senhor me ajudou muito— disse ele. — Tem certeza de que não se lembra?— Não, sinto muito — falei.Ele dobrou as mangas da camisa.— Sem problema, sem problema. Sua esposa me disse que o senhor estava em Lagos.Como foi a viagem?— Foi muito boa, ótima. Obrigado por perguntar.Ele respirou fundo.— Imagino que sua esposa tenha lhe contado que Sesan tem anemia falciforme.Assenti com a cabeça, esperando que ele me dissesse o que poderia ser feito, me munisse de conhecimento, me desse uma lista de regras que precisaríamos seguir.— Vou direto ao assunto. Acho que precisa conversar com sua esposa. — Ele tirou os óculos e começou a limpar as lentes com um lenço. — Havia algumas... bem... discrepâncias nos resultados do exame de genótipo que realizamos em seu filho.Cheguei para a frente na cadeira, impaciente para que ele prosseguisse, imaginando por um momento breve e magnífico que tinha encontrado um erro nos resultados do exame desde que Yejide tinha saído de seu consultório, que estava prestes a me dizer que, no fim das contas, nosso filho era saudável.— Então, deixe-me começar explicando como a anemia falciforme funciona. É uma doença hereditária, e é necessário que ambos os pais tenham pelo menos um gene falciforme para que uma criança tenha a doença. Então, por exemplo, sua esposa é AS, o que significa que ela tem um gene da anemia falciforme, mas como tem apenas um dos genes, não tem a doença, é somente portadora. Isso quer dizer que ela pode transmitir o gene para os filhos,mas eles só vão ter a doença se o pai também for portador. Então, são necessárias duas pessoas com o genótipo AS ou uma com o genótipo AS e a outra com o genótipo SS para que uma criança seja SS. Está compreendendo?Eu fiz um aceno afirmativo com a cabeça.— Agora vamos à discrepância a que estava me referindo. Depois que os resultados de Sesan chegaram do laboratório, examinei seu histórico médico e eis o que descobri: sua esposa é a única com o genótipo AS. O senhor é AA, o que significa que seu filho nunca poderia ter anemia falciforme. Estou lhe dizendo isso de homem para homem, porque o senhor me ajudou muito quando precisei pegar o empréstimo. Entende o que quero dizer?Posso lhe dizer com toda a certeza que não há nenhuma chance de Sesan ser seu filho.Minhas pernas fraquejaram. Cobri o rosto com as mãos e preparei uma expressão para encarar o olhar solidário do médico.— Tem certeza? — falei. — Tem certeza do que está dizendo? Quer dizer que aquela mulher me traiu? Está falando sério? Tem certeza disso? Meu Deus! Eu vou matá-la. Juro por Deus.Permiti que minha voz se elevasse ao seu tom mais alto e bati meu punho sobre a mesa.— Calma, o senhor precisa lidar com isso como um homem. Por favor, acalme-se. Seja homem, senhor. Seja homem.Certifiquei-me de aparentar estar furioso diante do Dr. Bello. Comportei-me como imaginava que um homem se comportaria ao descobrir que o filho não era dele. Dei um soco na parede, gritei e bati a porta quando saí do consultório.Mas eu sabia que Sesan era meu filho. Eu o amava. Fazia planos para seu futuro, tinha comprado ações em seu nome. Pensava com frequência no dia em que compraria para ele sua primeira garrafa de cerveja. Mal podia esperar para ensiná-lo a jogar pingue-pongue no clube. Sabia que era eu quem faria todas essas coisas. Ninguém mais. Há coisas que os testes científicos não podem mostrar, coisas como o fato de que a paternidade é mais do que uma simples doação de esperma. Eu sabia que Sesan era meu filho. Nenhum resultado de exame poderia mudar isso.Além disso, eu já sabia que Dotun era o doador de esperma. Era assim que eu pensava noque ele tinha feito por mim: doação de esperma. Eu sabia que Dotun nunca ia alegar ser o pai de Sesan, motivo pelo qual recorri a ele quando por fim aceitei o fato de que precisava que outra pessoa engravidasse minha esposa.— Irmão mi? O que está dizendo? — disse Dotun depois que expliquei meu plano.— Você só precisa passar um fim de semana conosco. Ela estará ovulando no próximo fim de semana.— E Yejide? Ela concordou com isso que está dizendo?Ele parecia prestes a vomitar no tapete verde da sala de estar.— Sim.A verdade era que eu não tinha discutido nada daquilo com Yejide, queria apenas que ele concordasse com o plano para eu poder ir para a cama e esquecer aquela conversa.Ele se levantou, foi ficar de pé junto a uma janela, olhando para a noite escura, sem estrelas nem luzes na rua. Eu não conseguia ver seu rosto claramente; a vela que estava na mesa de centro se consumia rapidamente.— Irmão Akin... com todo o respeito, mas o que você está dizendo é uma loucura. E se?Não. Não, não posso fazer isso. Não vou. É errado.Ele se virou para me encarar quando disse aquilo, cortando o ar com as mãos, como que fazia quando ficava agitado.Tive vontade de rir. Dotun? É errado? Que diabo. Ele já tinha namorado mãe e filha ao mesmo tempo. Tinha um monte de namoradas fora do casamento; uma delas era inclusive colega de trabalho de sua pobre esposa. E vinha me dizer que algo era errado?— Veja bem, não estou pedindo para você estuprá-la. Só uma vez, deixe-a grávida e pronto. Já lhe contei sobre o meu problema. Você quer que eu implore?— É uma abominação. Ela é sua mulher. Merda. Sua mulher, você quer que eu durma coma mulher do meu irmão? A mulher do meu irmão mais velho? Não, não posso, tem que ter outro jeito.— Dotun, você é a única pessoa a quem posso recorrer. É o único irmão que eu tenho.Quer que eu peça a um estranho?Ele socou várias superfícies: a coxa, a parede, a tela da televisão. Seu rompante de consciência me surpreendeu. Não que eu esperasse que ele fosse aceitar a ideia com entusiasmo, mas de alguma forma nunca tinha pensado que ele ficaria tão transtornado, com tanto receio. Mas de quê? Ele não era Dotun?— Digamos que ela fique grávida. Você não vai querer outro filho?— Se planejarmos tudo muito bem, bastará um fim de semana para cada criança. Se tudo correr como deve, três crianças serão suficientes.Ele me olhou nos olhos, examinando meu rosto, e se deixou cair em uma poltrona.— Você pensou mesmo nisso. Vem pensando nisso há muito tempo.Sua voz me acusava de muitas coisas.— Estou fazendo isso por ela.— Mesmo assim, não posso. Talvez um estranho seja melhor.Por que contei a ele toda a história? Talvez uma parte de mim soubesse que o sofrimento de Yejide podia comovê-lo; eu tinha intuído nos abraços e olhares que demoravam demais que se meu irmão a tivesse conhecido primeiro, a história poderia ter sido diferente. Talvez porque eu soubesse, já naquela época, que o que Dotun temia, o que não admitiria nem para si mesmo, era que com Yejide nunca seria apenas sexo para ele, porque uma parte dele sempre a desejara.Contei a ele sobre o bebê milagroso, a ligação do hospital, a enfermeira do curso pré-natal implorando para que eu fosse buscar minha esposa; contei-lhe sobre o dia em que fui até o local das aulas, descrevi a mágoa nos olhos de Yejide enquanto eu a tirava de lá, como ela se agarrara a um poste de metal no corredor do hospital, sem soltá-lo nem mesmo para vestir novamente a saia, que se desamarrou quando tentei tirá-la de lá. Falei sobre isso até que ele avisse, vestindo apenas a blusa de Ankara e a calcinha de renda, o tecido a seus pés como apele descartada de uma serpente. Contei a ele como ela permaneceu assim até a aula de prénatal acabar e as mulheres grávidas irem para suas casas, algumas passando por ela compassos apressados, outras mudando de direção subitamente para tomar outro caminho ao seaproximar dela.— Ela está ficando louca? — perguntou ele.— Ela começou a se consultar com um psiquiatra. Está bem agora, mas pode acordar amanhã de manhã e dizer que está enjoada.— Eu não posso!Ele se levantou e voltou para a janela.— Dotun, estou falando sobre você ter relações sexuais com Yejide, minha linda esposa.Engoli em seco. Era como forçar um punho de ferro garganta abaixo.Meu irmão mudou o peso de um pé para o outro. Reparei, na forma como seus quadris se aproximaram da janela em um movimento instintivo, que ele já estava em Ilesa, em nosso quarto, comendo minha mulher.— É uma abominação.— Então me dê um conselho: o que eu faço?— Irmão mi, Yejide sabe que você está aqui agora?— Ela sabe que estou em Lagos. Dotun, por que está prolongando essa discussão? Por que ela seria diferente de todas as garotas com quem você transa? Vai ser apenas sexo, cinco vezes no máximo, e pronto.— Apenas sexo — disse ele lentamente, como se estivesse testando, enquanto as pronunciava, a veracidade daquelas palavras.

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