O meu padrasto era envolvido também, e quando fomos pra São Paulo, minha mãe largou a gente de mão e vivia só pra ele. Então, quando eu entrei de verdade, ela nem esquentou a cabeça.
Como ele era um dos caras mais respeitados do morro, eu não tinha dificuldade alguma pra subir de cargo. Quando menos esperei, já estava entre os mais brabos, vivendo tudo o que eu sempre sonhei.
Meu padrasto morreu num confronto com os canas, minha mãe ficou desesperada, ficou muito mal, mas ainda não quis voltar e então, pra minha sorte, o posto que era dele, passou a ser meu.
Eu vivia tudo o que eu queria, era respeito por ser "filho" do Duzão, então, poucos batiam de frente comigo, quase nenhum. Porém, com o tempo, comecei a achar que tudo o quebrou tinha era pouco. Eu queria mais e mais uma vez, eu cobicei coisas que não eram minhas...
Garotiei demais, armei contra os meus, mas o plano não foi como eu esperava. Émerson, que era o de frente, chefe de tudo, morreu na missão que eu e ele comandávamos, mas não tomei frente de nada, porque sempre tem alguém que sabe de tudo, vê tudo e vai estar acima de você.
Fiquei um tempo sumido, entocado, mas como ainda tinha conceito onde eu morava, voltei. Minha mãe veio na frente e eu vim logo depois.
Pro meu azar, o cara mais sagaz que eu já conheci na vida, era quase dono disso tudo aqui e, a cereja do bolo, ele ia casar com a mulher da minha vida.
De início, me fiz de malucão mermo, tentei estremecer a relação deles, tentei me reaproximar dela, mas foi tudo em vão, tá ligado? Ela tinha nojo de mim, não me olhou nos olhos uma vez sequer, passava por mim na rua como se eu fosse só mais um, mesmo que eu tenha sido o pai do primeiro filho dela. E tudo isso piorou, quando eu assumi a irmã mais nova dela...
Nisso tudo, o meu ódio pelo Bala só aumentava. Eu só queria que ele caísse, queria derrubar cada soldado do império que ele construiu junto com o Sangue e não é que o primeiro a cair foi o rei?
Ainda assim, os maiores aliados ainda estão de pé, estremecidos, mas estão. O Lobão perdeu o cargo, tá afastado, o Bala tá preso, mas deveria estar morto. E a Fabi, carente, cheia de amor pra dar, tá quase entregando tudo na minha mão...
Os caras do comando tentam me sacar, mas não vão conseguir, eu tenho um aliado só e é com ele que eu vou derrubar todo mundo. O Poca Roupa.
Zói: Coé patrão, a dona Fabi tá aí? — eu estava fumando, na frente da salinha.
Acerola: Não. Qual foi?
Zói: A mulher do Bala arrumou caô ca mãe no mercado, e ela quer desenrolo.
Acerola: Manda a Viviane subir, depois eu vejo o lado da mãe dela. — neguei com a cabeça e terminei meu cigarro.
É hoje que eu resolvo as coisas com ela. Viviane já subiu pro desenrolo várias vezes, desde que o Bala foi preso, mas sempre quem tá por aqui é a Fabiana, mas hoje, quem tá de frente sou eu. Não vou aliviar.