BALA
Movimento sinistro hoje, mas já tivemos dias piores aqui.
Mais cedo, meu sogro veio pedir pra levar o Vini pro sítio da cunhada dele, e eu deixei de cara, meu filho tem que ter liberdade de conhecer as coisas, brincar por aí.
Meu horário de almoço passou tão rápido, que nem consegui falar com a minha preta. Só engoli a comida e fui lá embaixo pegar mercadoria, já que meus fornecedores quase nunca sobem aqui.
Fechamos a loja umas 17h, mais ou menos. Mas eu e os moleques continuamos aqui, enquanto eu fechava o caixa, eles fizerem a reposição da mercadoria, até que alguém quase quebrou a porta de ferro.
Bala: Calma, porra. Quem é? — dei mó gritão.
Zói: Patrão. Tem alguém lá na tua casa, corre lá. Corre lá.
Meu irmão, na hora, o desespero bateu. Acionei o Lobo, o Robertinho e mais quem tava ligado no proceder e saí saindo da loja. Meu único medo era a Viviane sozinha em casa e o pior acontecer.
Deixei a moto no quintal, de qualquer maneira e entrei lá com o Zói e o Marquinho, que eu nem sabia que tavam fazendo escolta la em casa. Coisa do Roberto.
Os moleques são novos nessa vida, mas são atividade pra caralho.
Entrei pela cozinha e escutei barulho na parte de cima. Fiz sinal pros moleques irem devagar e peguei a pistola de um deles, indo na frente. Quando eu cheguei no nosso quarto, não teve jeito, tava tudo revirado e eu ouvi duas vozes super conhecidas: Acerola e Fabiana.
Eu não ia matar ninguém lá em casa, mas atirei sem pena nos dois, sem chance de reação. O primeiro foi no Acerola, acerou na coxa e ele caiu, deixando a arma que tava no porte dele cair perto da minha cama. O segundo no braço da Fabiana, que ainda tentou atirar de volta, mas o Zoi foi mais esperto e atirou nela também. Os dois braços fodidos.
Eu não entrei pra matar, entrei pra torturar. Pedi pros moleques descerem com a Fabiana e eu resolveria com o Acerola lá em cima.
E assim eu fiz, descontei toda a raiva que eu tinha nele. Foram socos, chutes, mais um tiro na mão, pisões na perna, enfim... Por alguns minutos, eu voltei a ser aquele monstro, que o morro todo tinha medo.
Bala: Além de invejoso, você é burro. — pisei mais uma vez no joelho dele, que fez um barulho sinistro e ele urrou de dor. — Achou que ia vir na minha casa e ia conseguir o que quer? Não, não. Quantas vezes eu te disse que você é fraco? É um comédia?
Eu cuspia as palavras, enquanto ele gemia de dor. Tateou o chão, com o pouco de força que ainda tinha, na inútil tentativa de pegar a arma. E então, eu pisei no cotovelo. Mais uma vez: barulho de ossos quebrando.
Bala: Tua passagem pro céu já tá comprada, filho da puta. Porque o seu inferno é aqui, comigo.
Enquanto ele se contorcia de dor, peguei a arma dele e fiquei assistindo aquilo, sentado na beirada da minha cama. Enquanto os caras não chegavam, pra fazer o transporte do corpo.
Lobão: Só faltou matar. — debochou ao entrar no quarto, deu um bico na costela dele e cuspiu. — Irmão, Viviane ta lá em baixo, com arma em punho e tudo.
Bala: Ela deve estar desesperada. — os outros caras entraram no quarto. — Vou lá falar com ela e subo pra terminar o serviço.
Desci e fui direto na churrasqueira, onde ela estava sentada, encarando a arma, tremendo e chorando.
Bala: Me da isso, preta. — ela só me olhou e esticou a mão.
Peguei a pistola, botei na cinta e agachei na frente dela.
Viviane: Você não sabe o quanto eu tive medo. O quanto eu pensei em coisas ruins. Achei que era você que eles iam matar, que o Vini estava aí dentro com meu pai, pelo amor de Deus, Daniel. Diz pra mim que isso acabou. Por favor! — me abraçou e abriu a boca a chorar.
Bala: Respira fundo, preta. Eu to aqui. Acabou! — segurei o rosto dela entre as minhas mãos. — Acabou.
Fiquei mais um tempo ali com ela, esperando os caras tirarem os dois de lá. Assim que fizeram, botei ela no carro e levei pra casa da Hellen, que já estava sabendo mais ou menos.
Bala: Eu já volto. — dei um selinho nela, depois que a deixei na porta. — Eu te amo e me desculpa.