VIVIANE
Acordei de um pesadelo com o Daniel, procurei o doido na cama e nada. Levantei, procurei na casa toda, no quintal todo e nada dele.
Eu já imaginava onde ele pudesse estar, então, eu tomei um banho, botei um conjunto da adidas de calça e top, calcei meu slide e fui. Nem me preocupei com maquiagem, até porque 4h da manhã, não tem ninguém pra reparar em mim.
Fui andando até onde ficam os meninos do mototáxi e por sorte, tinham alguns por lá. Chamei um conhecido meu e fui.
No que eu estava subindo pra quadra, o contrafluxo tava demais. Uma galera descendo, um monte de gente gritando, o menino até diminuiu a velocidade, devia estar sem entender nada, assim como eu.
Pedi pra ele me deixar por ali mesmo, o resto eu ia andando. Desci da moto, paguei e fui literalmente nadando contra a correnteza.
X: Tia Vivi, não vai lá não. Mataram um cara! — disse a mãe de um aluno meu, no meio da multidão.
Sabe quando o seu coração trava na garganta? Parece que o mundo caiu ao meu redor. Eu fiquei desesperada, só pensando no pior, mas mesmo assim, eu segui até o portão da quadra e acabei entrando.
As luzes estavam acesas, todo mundo saindo e eu entrando. Andei até o meio da quadra e lá, tinha um corpo estirado no chão, reconheci na hora que era o Poca e procurei com o olhar pelos meninos, alguém que eu conhecesse e pudesse me explicar o que tinha acontecido. Mas, não tinha ninguém.
Voltei pra rua e procurei ficar fora da muvuca. Liguei pro Daniel, pra Hellen, pro meu irmão, e nada, ninguém me atendia. O meu desespero já tinha virado estresse e então, voltei pra casa, andando, na força do ódio.
Tirei minha roupa, botei o pijama e o dia estava clareando quando o Daniel chegou. Mas chegou o antigo Daniel, sabe? Aquele tomado pelo ódio, com sede de vingança, de sangue, com o olhar ruim.
Viviane: Onde você tava, Daniel?
Bala: Resolvendo um bagulho aí, cara.
Viviane: De madrugada? Essa época já passou, né? Resolver bagulho de madrugada agora, só se for mulher.
Bala: Tá maluca, só pode. — estalou a boca. — Não tô afim de falar sobre isso agora não, tá ligado? Se tu quiser criar história na sua casa, direito seu.
Viviane: Adorei a resposta. — fechei a cara e deitei, passando a prestar atenção no episódio da série.
Bala: Respeita meu silêncio, cara. Só hoje, já é?
Vocês responderam? Ah tá. Eu também não.
Ele passou pra banheiro, e ficou um bom tempo por lá, nem vi quando deitou ou se deitou, até porque eu dormi de novo, e quando acordei, mais uma vez, ele não estava na cama.