BALA
Todo domingo é a mesma apreensão: "será que ela vem?". Fico maluco, quando ela vem toda contida, sorrindo e me abraça como se não quisesse sair de perto nunca mais.
Viviane: Trouxe o que você pediu. — demos um selinho e fomos sentar em uma das mesas.
Ela sempre chega cedo, sabe que não dá pra dar mole em fila, se não a gente não se curte direito.
Bala: Como tá o Vini? — perguntei e ela me olhou séria, encarando meu supercílio, que estava cortado.
Viviane: O que foi isso? — o olho logo marejou.
Bala: Nada, preta. Fala tu... Comé que tá nosso filho? — ela puxou minha cabeça e ficou analisando o corte. — Deixa isso pra lá.
Viviane: Deixa isso pra lá nada, Daniel. Isso tá inflamando. — começou a se exaltar e eu a repreendi com o olhar.
Bala: É o de sempre, pô. Só que dessa vez, eles levaram o celular, por isso não liguei mais. — ela respirou fundo e virou o rosto. Provavelmente, na intenção de não mostrar pra mim, que ia chorar.
Viviane: Olha, eu não sei mais o que fazer. Eu vou morrer se não te tirar desse inferno logo. Não aguento mais te ver nessas condições, não aguento mais chegar aqui e te ver cheio de hematomas. — puxei seu rosto e colei sua boca na minha, dando alguns beijos.
Bala: Calma! — disse com a boca próxima a dela. — Tá no final, po. O Thomás não falou? — fez que sim com a cabeça, deixando as lágrimas caírem. — Covardia, né preta? Faz assim não, pô. Vamo ser forte um pelo outro, combinado não era esse?
Viviane: No dia que sair a resposta do juiz, que o Thomas me disser que acabou, eu vou estar aqui antes da troca de turno, antes do dia clarear. — soltou um sorrisinho e nós demos um beijo.
Eu logo interrompi, não tinha como arrumar visita íntima e eu também não curto o jeito que os filha da puta fica olhando pra ela. Cobiçando, tá ligado? Viro o demônio.
Ficamos um tempo conversando, soube do berimbolo dela com a mãe, mais uma vez. Parece que faltou alguma coisa pra ela contar sobre o desenrolo, mas eu não insisti, porque ela me conhece e sabe o quanto ia ser torturador, eu não poder fazer nada. Mas eu já deixei claro que quando eu voltar, isso vai acabar, vou de porta a porta, cobrando um por um e tomara que não acabe da pior forma...
Viviane: Ah, preto. Já ia esquecendo... Meu avô mandou o recado de mãe Beth pra você, disse que assim que você sair daqui é pra ir direto lá, nem passar em casa.
Bala: Tô ligado, preta. Graças a eles, que eu ainda estou de pé aqui dentro.
O adeus é a pior parte e quando ela tá do meu lado, a hora sempre voa. Tá ligado? Uma merda. Nos despedimos e eu a acompanhei até o meu limite, ficamos um tempo abraçados e ela prometeu pra mim, que não ia fraquejar, que nós iríamos vencer todos esses dias de saudade.
Fiquei olhando ele sair, até sumir no portão e voltei pra minha realidade, meu pesadelo cotidiano.
Policial: Essa não desistiu mesmo, né? — falou alto com o outro. — Toda visita ela tá aí.
Policial 2: Deve ser pra não deixar ele desconfiar que tem outro na cama dele. — riram debochando e eu os encarei.
Policial: O que que é? — bateu o cacetete no chão. — Quer arrebentar o outro lado da cara?
Eu tinha que me controlar o tempo todo, eles jogam baixo mesmo, não querem saber de nada. E jogam pior ainda, quando sabem que sua mente é forte, que você sabe se controlar. Mas tem parada que é foda, mexe de verdade com a mente do vagabundo, mas eu entrego meus pensamentos à quem me proteje e tento manter minha calma.
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▪️Eu não tenho nem a metade do votos, nos comentários. Vou ter que voltar a deixar as metas aqui?
▪️ Vocês querem capítulo novo, mas a colaboração não existe. Assim fica difícil.