Prólogo

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Prólogo

[ esse capítulo contêm cenas de um relacionamento abusivo como manipulação e agressão física e verbal, se esses assuntos são um gatilho para você vou colocar um pequeno resumo no fim, preze por sua saúde mental acima de tudo, fiquem bem <3 ]


          O garoto, escondido atrás dos casacos de pele, se esquivou de um inimigo invisível e fechou os olhos. Não queria presenciar o que estava acontecendo ali, mas não podia sair sem ser notado. Tentou tapar seus ouvidos com as mãos, porém não foi de muita ajuda. Não podia fugir, tinha que passar por aquilo. Diminuiu sua respiração ofegante, limpou as lágrimas do rosto e sentou, observando pela fresta das portas do armário o que estava prestes a acontecer. A cena tão comum, mas ainda tão desconfortável, o fazia franzir o cenho e desviar o olhar. Mas não podia os ignorar.

­­— Você é inútil, não sei por que insisto em ficar com você... o amor é burro mesmo — a voz aguda e agressiva soava como cacos de vidro se chocando e não demonstrava emoção alguma além de raiva.

­­— Seja sincera consigo mesma, rainha, você não ama ninguém — o homem, ainda ajoelhado no chão, quase cuspiu as palavras, e depois de outro toque de sua rainha, cuspiu saliva com gosto de ferro.

— Deixe de ser estúpido! Faço isso por que te amo... cuido de você — ela continuou, tentando soar doce, abaixando sua voz e seu rosto para ficar na altura do marido.

— Cuida com que eu esteja preso, você diz? — responde ele, corajoso, mas logo perde o sorriso irônico em seu rosto.

          A mulher lança sua mão sobre o rosto do homem novamente e tenta esconder o sorriso, não espera muito antes de dar outro tapa na face de seu amado, seguido por afagos e beijos.

— Você não entende... o amor é assim. É para os fortes. Você é forte, não é? — ela pergunta enquanto passa a mão nos fios encaracolados do homem.

— Claro.

— Você não me ama? — a mulher pergunta novamente, agora se afastando do homem para olhar diretamente em seus olhos

— Continuo aqui, não continuo? — ele responde, ofegante, com as mãos nos joelhos e encarando o sangue que pingava de sua bochecha para o chão.

— Só me diga, por favor, que não vai sair novamente sem mim — continua a mulher, insistente, com sua melhor voz doce.

— Isso é irracional, querida... — o esposo, que nunca fora corajoso, tenta mais uma vez, sentindo a adrenalina em seu corpo como uma droga.

          O garoto fechou os olhos, mas não conseguiu se esconder do som alto do confronto entre peles. Abraçou seus joelhos e se movimentou no ritmo de sua música favorita, tentando não prestar atenção em seus pais, como faziam com ele.

— Nós somos casados... você não pode sair sem mim — a voz aguda continua em seu tom falso.

— Você sai sem mim — ele logo recebe mais um dos "carinhos" de sua esposa, então fica calado.

— Eu trabalho para sustentar nossa família, você sai para gastar meu dinheiro e paquerar novinhas em cafeterias.

— Saí para comprar flores pra você, como pode me acusar assim? Como pode invadir minha privacidade mandando pessoas me seguirem dessa forma? — corajoso como nunca, em uma onda de adrenalina, ele joga todas as perguntas que já tem feito a si mesmo por muito tempo.

Era uma vez de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora