Capítulo seis

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Capítulo seis

          Distante daquela mansão e de todo aquele drama, Gaspar reclamava, em uma mesa de bar, sobre Bela. Não podia acreditar que tinha sido rejeitado, de novo. Tudo o que ele queria era um futuro com Bela, uma casa grande, várias crianças brincando, a garota cozinhando seu prato preferido para a janta... Mas ela o rejeitava, de novo e de novo.

          Poderia se casar com qualquer uma se quisesse, mas ela era a mais bela, e ele merecia o melhor. Ele teria ela, de um jeito ou de outro. Sabia disso. Ela acabaria aceitando um dia, para não morrer sozinha, e ele a aceitaria de volta, como o homem humilde que é.

          O homem jogava cartas com os amigos, sentado em uma mesa de plástico quase no meio da rua. Nenhum carro passava ali, já estava tarde demais, apenas alguns namorados andavam de mãos dadas na pracinha, e alguns bêbados pediam um trocado pra comprar pinga.

          Seus amigos tentavam o animar com as palavras de sempre, que ele poderia ter qualquer mulher, que era o homem mais corajoso, forte, e admirado da cidade. O mais bonito. Da cidade não, do mundo. Devia tentar um cast para a próxima malhação. Ele sabia que era tudo verdade, mas queria Bela. De que adiantava ser tudo isso se não tivesse a mulher mais linda ao seu lado? Teriam filhos lindos, com os olhos verdes da garota e o queixo quadrado dele. Seus filhos poderiam conquistar o mundo, até mesmo além da cidadezinha.

          Seus pensamentos foram interrompidos por o relincho de um cavalo que vinha trotando rapidamente em sua direção. Era o pai de Bela. O homem nunca tinha ido com a cara de Gaspar e apoiou a menina quando terminou o namoro. Gaspar, desde então, tinha criado uma conta falsa  e sempre que Bela tentava divulgar o pai, ele atrapalhava. Falava que o serviço era sem qualidade e o atendente sem educação. Não se sentia mal por fazer pois, veja bem, era verdade.

— SOCORRO! Me ajudem! Minha filha... — o velho gritava, sem fôlego, com a voz trêmula.

          Todos os que estavam ali sentados no bar, ou seja, quase todos os homens velhos o suficiente para gostar de beber cerveja em um dia de semana, olharam para o velho, mas não se importaram muito. O senhorzinho era conhecido por ser um pouco louco, não se encaixava na cidade, como a filha.

— O que aconteceu com Bela? — perguntou Gaspar, pensando que se fosse bom com o velho poderia ganhar pontos com a menina.

— Ela está presa! Por minha causa! Não pode ir embora— ele tinha que fazer várias pausas para conseguir respirar, parece que suas crises de asma estavam piorando — pra pagar um divida.

— O que você anda colocando nas bebidas? — um homem qualquer perguntou ao dono do bar, que deu de ombros.

— Nem olhe para mim, ele chegou agora. Ele devia estar no Paulão — disse, tirando o pano do ombro para limpar o balcão.

— Não... Bela, minha filha está presa na casa daquela ricaça esnobe, no meio da mata — o velho tentava explicar, mas suas palavras pareciam completamente sem sentido para eles.

— Tem mesmo uma casa no meio daquela mata — um cachaceiro disse, mas ninguém o escutou, pois sabiam que ele bebia o dia inteiro e não estava sóbrio.

— Acho que você bebeu demais, velho.

— Não! É verdade— ele se lembra do homem que o expulsou de lá à força — e o filho da mulher! Ele tem o rosto completamente deformado!

— Bela está presa numa casa com uma ricaça e um menino de rosto deformado, no meio da mata Atlântica? — alguém repetiu tudo, em tom de brincadeira, e todos do bar riram juntos, brindando com os copos americanos.

Era uma vez de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora