Capítulo nove

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Capítulo nove

          Na próxima semana, Bela passou os dias entre ajudar na recuperação de Adam e conhecer a mansão. Os criados chamaram o médico de confiança do garoto, que apareceu ali, fez vários exames – os quais Adam não deixou Bela assistir, e constatou que o menino estava bem. A faca tinha feito apenas cortes superficiais e não chegou em seu pulmão. Quase agradeceram por o homem estar bêbado demais para o esfaquear direito, mas a lembrança do que quase tinha acontecido com Bela os sensibilizou.

          Pelo castelo, as brincadeiras de "eita facada mal dada" eram constantes sempre que o temperamento de Adam entrava em ação, e a menina logo percebeu que, apesar de irritadinho, seu futuro patrão não era nada orgulhoso, e pedia perdão a todos algumas horas após fazer suas faltas de educação. Parecia que todos ali o entendiam bem, e aguentavam aquilo. Bela pensava que, se ele pedia perdão mas continuava fazendo, não valia de muito a palavra do homem. Entretanto, ao comentar isso com Bonnie, ela disse que ele, às vezes, não conseguia se controlar, mas fazia tudo que podia para melhorar. Bela ainda estava para conhecer esse lado dele.

          Se divertia imensamente com os empregados, trabalhando na cozinha, colhendo temperos e até mesmo varrendo a enorme mansão – trabalho que ela usava como desculpa para conhecer cada pedacinho da casa. Nas tardes, visitava Adam em seu quarto e tentava conversar com o garoto, que mantinha sua distância. Ela se sentia culpada por o dar outra cicatriz, sendo as que ele já tinha enormes, mas ele não aceitava suas desculpas e os dois sempre acabavam trocando farpas sobre de quem era realmente a culpa, agora cada um tentando culpar a si mesmo. Enquanto isso acontecia, Lucien sorria no canto do quarto, torcendo para que os dois passassem mais tempo juntos.

          Mas Adam sempre mandava Bela ir embora. Ou Anabelle, como ele a chamava agora. Com a fuga da garota ele percebera que ela era apenas uma prisioneira de sua mãe. Ele não queria nem tentar conversar com a menina e, por muitos dias, mesmo sem precisar, ficou trancado em seu quarto, apenas a observando de longe.

           Tentava não criar sentimentos pela garota mas, talvez, só talvez, o que seus amigos tinham dito era verdade e ele se apaixonava rápido demais. Sentia que não podia evitar. Era uma garota inteligente, corajosa, forte o suficiente para derrubar um homem que tinha duas vezes seu tamanho, e muito boa nas tarefas da casa. Colhia os temperos para as refeições com uma graciosidade quase digna de cinema, sempre colocando alguma planta ou flor atrás de sua orelha. Brincava com Cícero e com os cachorros da casa, que ela tinha ficado extasiada ao conhecer. Corria para todos os lados, caia, e não tinha medo de parecer boba. Algo que faltava em Adam, que deixou de ter uma vida inteira por medo do julgamento alheio.

          O garoto recebeu, algumas noites depois de seu acidente, o contrato que pediu ao seu advogado e solicitou para Horácio o apresentar à garota, mas o mordomo disse que não era seu lugar e que Bonnie iria servir um lanche para os dois, assim eles não teriam que conversar o tempo inteiro. Adam grunhiu, mas aceitou, pois não podia obrigar seu amigo a fazer seus próprios deveres.

           Então a fera finalmente saiu de seu quarto, já andando bem e quase sem dor, e Bela foi chamada para um piquenique no jardim com o patrão. A menina se estranhou ao perceber que ficou animada com o compromisso, pensou que, na verdade, ela queria muito conversar com o chefe e queria mais ainda saber a história por trás de sua cicatriz. Ninguém havia a contado, dizendo que era uma história que cabia somente a ele dizer, e Bela não podia mais se aguentar de curiosidade. Mas se prometeu que não ia perguntar, já que isso seria muita falta de educação.

           Bonnie arrumou para eles alguns sanduíches e bolos, além de suco e café, e colocou tudo em uma mesinha que ficava no jardim dos fundos da casa, perto da quadra que o patrão nunca usava, e do canil onde ficavam todos os cachorros que ele resgatava das ruas.

Era uma vez de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora