Capítulo quatorze
Adam tinha certeza que a garota fugiria de novo. O deixaria para sempre. E não poderia a culpar, pois não estava errada. Ele era mesmo um monstro que não merecia amor. Ela devia pensar que ele era um abusador, como qualquer outro homem, e por mais que ele tivesse consciência de que estava melhorando, e tinha anos de terapia para provar isso, ele concordava com ela. Ele era, realmente, uma fera.
Mas não foi o que aconteceu. Depois de alguns minutos parada, encarando a parede, Bela o abraçou. Ela se assustou com a história, mas tentou juntar os pedaços do garoto que conhecia. Percebeu que ele se arrependia muito do que fez, principalmente por todo suor e lágrimas que saiam dele no momento, e entendeu tudo que o levou até aquilo. Ele não queria culpar sua família, mas ela sim, culparia a bruxa da mãe dele por tudo que conseguisse. Uma pessoa que prende um velhinho por pegar uma rosa não podia ser boa pessoa mesmo. Ela ensinou ao garoto a associar dor e manipulação ao amor,e ele reproduziu.
Bela passou todos os momentos que tinha ficado com Adam, desde seu primeiro dia, quando ele a prendeu e disse para ela passar fome, até os últimos dias, quando brincaram de guerra de tinta e liam romances juntos. Ela nunca imaginaria que ele era uma pessoa manipuladora. Nunca viu o garoto fazer qualquer comentário maldoso para ela, nem para os amigos que moravam ali. Sempre parava as provocações quando ela pedia e a tratava com respeito. Nem mesmo o tinha pegado olhando para seu corpo, uma coisa que a garota aprendeu cedo que muitos homens fazem. Ele tratava a ela, e a todos ali, com carinho e consideração, e sempre que passava dos limites não deixava muitas horas se passarem antes de pedir perdão. Não era teimoso, nem orgulhoso. Características que eram fortes nela.
Os dois ficaram abraçados por um tempo, enquanto Bela pensava em como o garoto, aparentemente, havia mudado nesses anos, e até mesmo desde que ela chegou aqui, e Adam agradecia por ela o ter compreendido. Afastou todos os pensamentos ruins de sua cabeça e focou no cheiro de cacau no cabelo da moça. Esperou ela se afastar, e a agradeceu por não ir embora. Pouco depois, os dois foram dormir, cada qual em seu quarto, pensando um no outro, como que conectados por um fio invisível.
— Lembra de outro dia, como estávamos conversando sobre ainda conhecer muito pouco sobre o outro? — Adam quebrou o silêncio na mesa de café da manhã, enquanto bebia o seu cappuccino matinal.
— Sim? — responde Bela, sem prestar atenção, revirando os olhos ao comer uma fatia de pão com nutella.
— Eu estava lendo um estudo outro dia... — o garoto começou.
— Leia-se: Eu estava no facebook — Lucien logo o interrompeu, enquanto tentava pegar o suco de laranja na mesa.
— Pare com isso Lucien — Adam o advertiu com os olhos.
— Estava lendo o que no facebook? — Bela pergunta a Adam, sorrindo do jeito que fazia ela enrugar o nariz e fechar os olhos.
— Sobre um estudo que levanta a hipótese se duas pessoas podem se apaixonar com 36 perguntas.
— E podem? — ela indaga, interessada.
— Pensei que poderíamos testar.
— Pelo bem da ciência, né? — ela diz, levantando uma sobrancelha e sorrindo para o garoto.
— Claro, não é um plano elaborado para fazer você se apaixonar por mim.
— Óbvio.
— É um sim?
— Claro, quer fazer isso agora?
— No jardim, onde não consigo ver Lucien dar esse sorrisinho — Adam apontou para o amigo e se levantou. A garota veio atrás dele, carregando sua xícara com chá preto e um pedaço de broa de fubá nas mãos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era uma vez de novo
RomanceNessa releitura do conto clássico "A Bela e a Fera" que se passa em uma pequena cidade de colonização francesa no interior de Minas Gerais, Ana troca sua vida pela do pai devido a uma dívida, indo trabalhar em uma mansão no meio da Mata Atlântica, l...