Capítulo doze

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Capítulo doze

          O casal passava cada vez mais tempo juntos, arrumando desculpas para ficar lado a lado, coisas para fazer, móveis para restaurar. Um dia, Bela estava limpando o corredor oeste, como quem não quer nada, sutil como um elefante, procurando entrar novamente no quarto que vira em seu primeiro dia ali. Adam a encontrou e, depois de quase a matar de susto novamente, a levou para quarto e a ajudou a limpar o local, explicando algumas fotos.

            O garoto lhe confidenciou que, quando tinha crises, ia para aquele quarto e descontava sua raiva nos móveis, a fim de não descontar em seus amigos. Ali também estavam memórias de sua vida passada, que ele preferia não reconhecer, e não quis mais falar sobre isso.

             Às vezes, apenas ficavam perto um do outro, fazendo atividades diferentes, como nos dias em que Bela escrevia enquanto Adam tocava violão ou piano. Ela gostava, principalmente, quando ele cantava Ed Sheeran ou John Mayer, e sempre se inspirava a escrever histórias de amor ouvindo a voz rouca do amigo.

          Também, outras vezes, passavam a manhã inteira brincando com os cachorros da propriedade, que era muitos e de diversas raças, embora maioria fosse vira-lata. Em um desses momentos, Bela decidiu que não poderia esperar mais e que tinha que fazer aquela pergunta.

— De onde saíram todos esses cachorros?

— Como assim? Quer que eu te ensine sobre parto de caninos? — o menino a respondeu, sem prestar muita atenção, enquanto brincava de cabo de guerra com um cachorro caramelo.

— Não, idiota. Como eles vieram parar aqui — ela joga uma bolinha de tênis perto dele, chamando a atenção de vários de seus companheiros.

— Eu os resgatei — diz enquanto joga a bolinha de volta, ainda concentrado em puxar a corda

— De onde?

— Da sua cidade, por exemplo. De cidades vizinhas.

— Achei que você não saísse daqui — Bela levanta uma sobrancelha e encara o garoto.

— Não de dia, mas ficar preso em um lugar só tanto tempo pode o deixar louco, sabia?

— Sim — ela diz, encaram a mata à frente deles.

— Claro, me desculpe. Enfim, eu saio de carro as vezes, de madrugada, e pego cãezinhos que parecem estar abandonados, machucados, com frio... E os trago para cá — ele responde, olhando para a garota, percebendo a tristeza em seus olhos.

— Isso é incrível, Adam.

— É um hobbie.

— Você salva cachorrinhos, não faça isso parecer como nada.

— Claro, claro. Eu sou o super-herói que salva cãezinhos — ele a responde, irônico  — se me dá licença vou voar até meu quarto agora para treinar meus poderes de autodepreciação com minha terapeuta. 

— Adam, para com isso, tenho certeza que todos acham isso incrível.

— Ana, não quero falar mais sobre isso — o garoto se levanta e começa a ir embora, sem mais explicações. 

           Sabendo do apreço do garoto por animais, Bela o chamava sempre que ia alimentar os cachorros, e propôs a ele construir uma casinha para passarinhos e deixar ali no jardim, assim eles poderiam dormir ali e voar quando quisesse. A menina ficou triste ao pensar que pelo menos os passarinhos podiam ir embora dali, enquanto ela ficava presa na casa. Mas perdeu o tom melancólico quando o garoto aceitou o projeto, animado, e começou logo a falar de planos e desenhos e como a casinha poderia ser mais prática.

Era uma vez de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora