Capítulo quatro

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Capítulo quatro

          Bela se virou para as sombras, onde seu oponente estava, e tentou forçar os olhos para o enxergar melhor, mas só conseguia ver sua postura esguia e seu corpo, bem mais alto que ela, e com certeza mais forte. Ela não poderia lutar com ele, embora iria o fazer se fosse o caso, mas sim deveria pensar numa forma melhor de combate para o vencer. O homem parecia inteligente, e sabia que estava ganhando, porque ela não tinha um celular e nem um meio de chamar outra pessoa. Se ela não voltasse ninguém notaria até o dia seguinte, e não saberiam onde ela, nem seu pai, estavam.

          E ela sabia que, de alguma forma, o homem, ou a mulher, como havia dito seu pai, estava certo. Seu pai havia quebrado o relógio que mandaram consertar e precisava pagar a dívida. Mas nada dava o direito de o manter em cativeiro, mesmo que só por algumas horas. Entretanto, a garota não tinha como usar isso em seu favor, se eles quisessem os manter presos ali, eles iriam, pelo menos por alguns dias. Ou muitos dias, já que provavelmente ninguém da cidade sabia onde ficava aquela casa.

          Mas ela podia trocar de lugar com o pai. Sim, esse era o melhor plano. Ela fica ali, e seu pai vai embora. Ele tem que cuidar da loja, e é velho e doente, de qualquer forma, enquanto ela é nova e saudável, e poderia trabalhar muito mais.

           Não queria se separar de seu pai, mas era a única saída que ela via. Um dos dois poderia sair dali, e tinha que ser ele.

— Não acha que deixar um idoso em cativeiro por causa de uma rosa é um exagero? — ela perguntou, enquanto procurava um interruptor no corredor para acender a luz e enxergar seu oponente.

— Acho — a resposta a surpreendeu, não estava preparada para isso.

— Então, porque...

— Como seu pai te disse, não foi decisão minha. E sim da minha mãe.

— E onde ela está agora? — Bela insiste, não aguentando o pensamento que seu pai estava trancado em um quarto desconhecido.

— Em seu carro, rumo à Santa Catarina.

— E porque você não o solta? — já que ele achava errado, porque não podia fazer algo sobre?

— Porque ela é a dona da casa. A dona do relógio, e das flores.

— Vai deixar meu pai apodrecer aqui, mesmo sabendo que é errado?

— Não tive tempo de pensar tão adiante — confessou.

— Quer que eu sente e espere, vossa alteza? — Bela disse, perdendo a paciência. Quem tinha uma postura tão passiva assim em meio a uma injustiça?

— E como vocês vão pagar a dívida se ele for embora?

— Achei que ela tinha concordado, em primeira instância, a o deixar ir sem pagar dívida alguma. — Bela tenta, com consciência que provavelmente não daria certo.

— E aí ele roubou uma rosa e ela mudou de ideia — explicou a voz, como se fosse muito simples.

— Parece uma mulher inconstante — a menina fala sem pensar.

— Você nem imagina.

— Eu posso ficar no lugar dele.

— O que? — a voz parece assustada e hesitante. Não esperava que alguém fizesse uma proposta dessas.

— A proposta inicial era, de qualquer forma, que eu fizesse as faxinas, não ele. Ele não tem mais idade pra isso.

— Bela... — o velho tentou chamar atenção de sua filha, mas ela não prestava atenção.

Era uma vez de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora