Epílogo
No topo da escada da mansão o casal se olha e sorri em cumplicidade, como que em uma brincadeira interna que ninguém mais na festa entenderia. Adam oferece sua mão direita para Bela, que a aceita, sorrindo, e começam a descer os degraus enquanto todos observam. A menina desce primeiro, e Adam espera um degrau atrás, dando o protagonismo que a garota merece no dia para comemorar ela, e apenas ela.
No salão, todos batem palmas ao receber os dois e logo aparece um fila para cumprimenta-los. Adam fica atrás da garota, abraçando e sorrindo para todos, ainda um pouco desconfortável em conviver com tantas pessoas diferentes. Mas Bela continuava segurando sua mão, o que o fazia se sentir mais forte. Quando as pessoas voltaram para suas mesas Bela tirou algumas fotos com seu livro, ao lado de seu banner de divulgação, e agradeceu novamente à editora e a Adam por todo o esforço para essa festa de lançamento.
Depois de cumprimentar muitas pessoas ali mesmo, no pé da escada, os dois vão fazer rondas, abraçando aqueles que não tinham visto ainda. Se encontraram com todos seus amigos, e ficaram um bom tempo na mesa onde o Maurício, Bonnie, seu marido e Cícero estavam. Conversaram animados sobre como estava a vida da cozinheira desde que se mudou da casa de Adam e foi morar no litoral com o marido, fizeram planos de visitar a pousada da mulher nas férias e parabenizaram Cícero por ganhar sua primeira competição de surf, o garoto respondeu que quando crescer quer ser um pirata. Ou um biólogo, mas ele prefere pirata. Maurício conversava animadamente com o marido de Bonnie sobre novos projetos para a pousada, os dois tinham se aproximado quando o velhinho viajou para o litoral para os ajudar a renovar o espaço. O dinheiro do trabalho, mesmo que ele tenha relutado em receber, foi de grande ajuda para pagar suas dívidas já renegociadas no banco.
Passaram pela mesa de Izabel, que conversava graciosamente com seu noivo e uma atriz que estava começando a ser reconhecida após seu trabalho maravilhoso e uma série da Netflix. A loira abraçou Bela e cumprimentou discretamente Adam, conversaram brevemente sobre como estava a vida de casados e o casal riu dizendo que estavam aproveitando o máximo antes de o terceiro membro da família chegar. O olhar apaixonado entre os dois e a forma como estavam sempre de mãos dadas inspirou Bela a escrever uma história e a garota amaldiçoou tudo que conhecia por, mais uma vez, esquecer o celular.
Acenaram de longe para Horácio, que debatia algo aparentemente importante e deixava todo seu sotaque francês aparecer. O velho mordomo gesticulava e estava com o rosto vermelho, olhando nos olhos de um dos homens que trabalhavam na editora com Adam e Bela. Seu oponente gentilmente colocou a mão em seu braço, fazendo Horácio respirar fundo e parar o discurso, sorrindo um pouco.
Ao andar até a próxima mesa Bela passou os olhos pelo salão da mansão, tão diferente daquele sombrio e frio que tinha encontrado em seus primeiros dias aqui. Suspirou ao admirar a arquitetura francesa e seu toque barroco, todos os detalhes em branco e dourado, e as novas decorações da casa. A capa de seu livro e e uma foto enorme de seu rosto ao lado da escada, pinturas de Adam nas paredes, plantas em todos os lugares que poderia se imaginar. Roseiras em todas as janelas. O piano antigo agora já não mais empoeirado. Nenhuma lembrança da mãe de Adam, que havia tirado tudo de valor que conseguiu carregar da casa e agora processava o filho, Bela, Maurício, e todas as pessoas que conseguia pensar. A garota olhou para o salão, e o que podia se ver da sala de jantar e dos corredores, as escadas, e lembrou de cada momento que viveu ali, no lugar que algum dia seria seu lar também.
Ao parar na mesa de Lucien e Pandora, a recém casada elogiou o vestido de Bela, que a fazia parecer uma princesa. O tom realçava sua pele e os cabelos soltos lembravam a todos que ela não era uma princesa, afinal, com um ar de brincalhona. Adam e Bela ignoraram as brincadeiras dos amigos sobre casamentos e filhos, revirando os olhos e falando a verdade: estavam, ainda, se conhecendo.
E mal podiam esperar os próximos meses. Com as viagens para a tour de Bela, divulgando seu livro que estava sendo lançado, os dois esperavam passar mais tempo juntos e aproveitar cada cidade. Mesmo que fosse difícil, com todo o trabalho. Nos últimos meses tinham passado bastante tempo juntos, mas trabalhando.
Bela conseguiu um contrato com uma editora que comprou a ideia da garota e a deu poucos meses para a desenvolver. Escrevia todos os dias, o máximo que conseguia. Era uma daquelas escritoras que não saia da mesa antes de terminar o livro. Escreveu tudo em um semana, faltando apenas os últimos capítulos. Adam, que fora contratado por essa mesma editora para ler novos escritores, ajudava sua namorada na revisão e edição, dando ideias, corrigindo gramática e ajudando no desenvolvimento dos personagens. Escreveram o final juntos, entre muitas brigas sobre se o casal deveria ficar junto ou separados, atrito que continuava em todas as conversas sobre livros em que os dois estavam presentes.
Com um salário fixo, o garoto se envolveu em criar uma ONG para ajudar crianças que moram em lares abusivos e contratou os amigos de volta. Agora trabalhavam em arrecadar dinheiro, ajuda, e montar abrigos em todas as cidades de conseguiam. Adam se virava entre os dois trabalhos, lendo novos escritores todos os dias e ligando para antigos amigos ricos pedindo por doações. Conseguiu, até mesmo, algumas celebridades para fazer campanha.
Tudo caminhava bem. Não perfeito, claro, nenhum relacionamento é. Muitos dias os dois mal se viam ou conversavam, e após brigas, que aconteciam principalmente por causa do livro, nas quais Adam ainda exercia seu temperamento difícil, Bela era sempre muito orgulhosa para voltar atrás. Mas ela não precisava, pois ele voltava e ela estava sempre calma. Se equilibravam em tudo.
Bela nunca imaginou tamanha felicidade. Não achou que era possível. Mas estava surrealmente, radiantemente, maravilhosamente feliz. Deslizando pela sala nos braços de Adam, via o sorriso nos rostos familiares de seu pai, livre e saudável, Lucien e Pandora, dançando, Cícero e Bonnie, até Horácio. Esta era sua família.
Ergueu a cabeça e encontrou os olhos penetrantes de Adam. Ele sorriu e ela pode sentir o calor que emanava de seu corpo. Podia sentir o amor viajando pelos dedos de seus pés até a ponta de seu nariz, a fazendo sorrir. Nos últimos meses ela conseguiu se apaixonar ainda mais pelo garoto, e o amava mais cada dia, se é que isso era possível.
Ela tinha vivido a própria história de amor trágica, e agora estava na parte da calmaria. Adam tinha a ajudado a editar seu primeiro livro, sendo o primeiro leitor e crítico. Ela havia, finalmente, achado um parceiro que amava as histórias tanto quanto ela. Um parceiro com quem podia compartilhar todas as histórias e aventuras. Bela o acompanhava sempre que conseguia nas viagens de trabalho, compartilhava sua força e coragem com o garoto e o acalmava sempre que o antigo medo de ser visto por desconhecidos aparecia.
Adam a puxou para mais perto, com os olhos se fixando nos dela, em uma promessa silenciosa de tentar ser a melhor versão de si sempre. A versão que o outro via com seus olhos. Então a beijou. O mundo ao redor desapareceu, até estarem somente os dois, envolvidos em uma história tão antiga quanto o tempo. Bela pensou no futuro, a tour para divulgar seu livro, as viagens que poderia fazer e novas histórias que poderia escrever. Queria fazer tudo isso ao lado de Adam.
Um conto que começou com "era uma vez" terminaria, Bela tinha certeza, com "felizes para sempre".
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Era uma vez de novo
عاطفيةNessa releitura do conto clássico "A Bela e a Fera" que se passa em uma pequena cidade de colonização francesa no interior de Minas Gerais, Ana troca sua vida pela do pai devido a uma dívida, indo trabalhar em uma mansão no meio da Mata Atlântica, l...