Conhecendo um novo alguém

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Da bandeja metálica em cima da mesa, é retirado o serrote.

O serrote é aproximado ao topo da cabeça e posicionado à testa. Sua lâmina serrilhada é pressionada contra a pele com um suspiro de antecipação, a lâmina é manuseada e perfura a epiderme em um movimento de vai e vem. Sangue escorre, o tempo passa, e o crânio é aberto.

Duas mãos pressionam seus dedos contra o cérebro.

Do cérebro para os dedos passam as memórias, que são absorvidas pelas mãos e enviadas até o pensamento de quem usou o serrote.

Um flash de luz, um segundo de adrenalina, toda uma vida entra em sua mente de uma vez só.

Memórias por osmose.

Os dedos intensificam a pressão contra o cérebro, a velocidade de informações aumenta e as sensações são um misto de coisas sujas, pegajosas e nojentas.

Mais um suspiro de antecipação.

Oh! (...)

Sentimentos, sensações, experiências, emoções, memórias, lembranças!

Quem usou o serrote acaba de conhecer de verdade um outro alguém. Quem teve seu crânio aberto e manuseado acaba de dar o maior voto de confiança de toda a sua vida.

Conhecer alguém de verdade é cortar-lhe o crânio com um serrote, ver o sangue lhe escorrer às faces, pressionar-lhe o cérebro com os dedos e absorver de uma vez só, em apenas um segundo, tudo o que aquela pessoa sabe, sentiu e presenciou.

Sobre pessoas e outras futilidadesOnde histórias criam vida. Descubra agora