O NOSSO CASAMENTO

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Eu estava sentada na cama, pronta para dormir, era só desligar a luz. Mas a minha mãe resolveu aparecer para conversar comigo.

— Ansiosa querida?

Após fechar a porta ela vem se sentar ao meu lado. Pega na minha mão e a apalpa com ternura.

— Sim... e nervosa.

— Amanhã será uma mulher casada. Graças a Deus teve sorte do seu futuro marido ser tão bonito e bem de condições. Espero que ele te faça muito feliz.

— Sem amor?

— Amor se constrói como uma casa, Kiara. De tijolinho em tijolinho. E vocês terão tempo para aperfeiçoar as estruturas — mamãe me olha um pouco constrangida. — Amanhã também acontece a sua lua de mel, sabe o que é isso, né, querida? Tem alguma ideia?

Eu fico corada, mas sou sincera e assinto.

Devido aos livros de época que leio, eu sei o significado de lua de mel. É o ato de consumir o casamento. Da mulher e do homem se pertencerem a um só. Porém, não entendo nada de como acontece.

— Você está com medo?

Confirmo envergonhada com a cabeça.

— Eu não sei como vai ser...

— Não se preocupe, o seu marido saberá como prosseguir. Só que se não estiver confortável, peça para ele ser delicado com você.

Fico quieta pensando aterrorizada nesse momento. Mas confio nele.

— Ele é um bom homem, mamãe. Esses três dias de visitas para me ver foi tão maravilhoso.

— Você gostou do Sr. Dexter?

— Sim, eu gostei.

— Fico contente por saber disso. Já deixou o meu coração de mãe mais tranquilo.

Ela beija a minha testa.

— Seu vestido está passado no cabide. Precisamos acordar bem cedo para você estar prontas às 07h30 e para irmos no cartório... Então partirá com o Sr. Dexter para a sua nova casa.

Percebo a mamãe desviar com o olhar longínquo. Eu chego perto dela e a abraço.

— Não queria me separar da senhora. Não queria te deixar sozinha com o papai. Eu te amo, mamãe.

Ela chora, abraçando-me mais forte. Acabo me rendendo às lágrimas também.

— Eu também te amo, meu amor. E vai dar tudo certo. Será feliz como a Sra. Dexter.

Mamãe fica mais um pouco entrelaçada em mim. Até se afastar e dizer para eu me deitar no seu colo, pois quer desembaraçar os meus cachos. Acabo pegando no sono com a sua delicadeza em fazer isso. E não a vejo saindo do quarto.

• • •

Pela manhã eu acordo mais cedo do que o combinado com a minha mãe. E me arrumo ansiosa, querendo ficar bonita. Depois mamãe aparece surpresa por eu já estar praticamente pronta dos pés ao pescoço, pois só preciso da sua ajuda para deixar os cachos mais definidos.

Mais tarde, já pronta, eu e a minha família parte para o cartório da vila. São uma hora e meia de estrada de chão. Ao chegar, Sr. Anton nos esperava sentado na cadeira estofada. Assim que me viu ele se levantou e esperou que eu chegasse mais perto.

Sem saber como reagir diante da sua beleza, fiquei nervosa, com as pernas tremendo e caminhei sem saber andar direito. Acho que se não fosse pela minha mãe apoiando o meu braço no seu cotovelo eu teria caído de cara no chão, porque tropecei duas vezes no tapete com as minhas sapatilhas brancas – o que me deixou mais constrangida.

— Olá, Dexter — papai o cumprimenta junto da mamãe. — Ela está aqui. Agora só aguardo o meu cheque.

Triste por me sentir igual uma porca vendida, abaixo a cabeça.

— Em respeito à sua filha vou resolver esse assunto depois com o senhor. E por favor, Srta. Kiara.

Ele me chama e eu ergo os olhos, com as minhas bochechas ardendo feito fogo. Sr. Dexter espera que eu pegue na sua mão. Tremendo, eu pego, sentindo o calor dos seus dedos grossos. E ele me leva até o Juiz de Paz, que se apresenta educado a nós, para começa a cerimônia íntima, onde se finaliza com a minha assinatura e a do Sr. Dexter. No entanto, antes de firmar a caneta no papel, ele me fitou obscuro, misterioso e estranho. Não consegui decifrar as suas íris acinzentadas, só sei que arrepios de assombro me tomaram. Mas para o meu alívio ele logo desfez esse olhar terrível e se inclinou para assinar o seu nome no documento.

Em meia hora saímos do cartório. E do lado de fora o Sr. Dexter tirou um pequeno papel e passou para o meu pai.

— O restante. Espero que faça bom proveito — o tom de voz dele sai rouca e poderosa.

— Farei. Obrigado e felicidades aos noivos.

Meu pai sorri com os seus dentes amarelos. Eu olho para a minha mãe e sinto vontade de chorar. Ela então vem me abraçar, sussurrando que me ama e que é para eu sempre visitá-la. Já o meu pai só entrega a minha pequena mala para o Sr. Dexter e não fala nada reconfortante... que me deseja bem e que... me ama. Isso é como levar um soco no estomago.

— Vamos, Kiara.

Emocionada, eu largo devagar a mão da mamãe, virando-me.

— Até mais, mamãe.

— Até mais, minha bonequinha. Que Deus te proteja. Vá em paz.

 Vá em paz

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COMPRADA SEM AMOR • COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora