Eu estava sentada na segunda sala da mansão. É uma sala de chás, com enormes janelas compridas e uma sacada com vista para a serra de eucaliptos. Felícia e mais duas mulheres estão na minha frente, escolhendo roupas elegantes para mim. É a loja da cidade que chegou uma hora atrás. Estou já com alguns vestidos nos braços. Eles são decentes, nada decotado, nem que mostre muito as coxas.
No fim eu fico praticamente com todas as peças que elas trouxeram e me couberam; calças, blusas, saias, shorts, vestidos. Incluindo casacos de frio, camisolas, roupas íntimas, sapatos e alguns acessórios femininos. Felícia disse que o Sr. Dexter a mandou escolher tudo o que me servisse que ele compraria.
— Meu Deus, é muita coisa. Olha para tudo isso, Felícia! Todos os sofás estão com montanhas de roupas!
Ela sorri.
— Vou precisar unir as empregadas da casa para organizar tudo no seu closet. Ah, e não troque esse vestido. Ficou muito elegante em você.
— Verdade? — Sorrio feliz, girando o meu vestido longo e azul. Resolvi prová-lo só para ver como eu ficava. E amei. — Ele é tão confortável e chique. Nunca estive dentro de nada assim, de tão boa qualidade e novo. Estou bonita? Me sinto uma princesa.
— Está linda. Sr. Dexter vai gostar desse seu estilo mais mulher.
— Acha que eu estou igual uma mulher?
— Um pouco mais madura apenas nas roupas. E eu vou consumir com as suas antigas. O patrão quer que eu as deixe em mil pedaços. Desculpa.
— Tudo bem. Ele disse que com elas eu sou infantil. E que eram encardidas.
Felícia se cala diante do meu comentário. Dou de ombros, corada.
— Ele está sendo mal com você?
— Não, de forma alguma. Ele é só bravo, sério. Não é gentil, nem carinhoso.
Lembro-me dos seus olhos acinzentados, do seu toque bruto e suspiro, amedrontada.
— Não sei se pode esperar isso dele. Mas tudo pode acontecer. Talvez ele melhore e queira... construir uma família.
— Ele não está bem? — Fito a Felícia, preocupada.
— Sr. Dexter perdeu o pai há uns três meses. É recente o luto. Entende?
— Sim... — assinto triste ao pensar nele. — Eu não sabia...
— Sra. Felícia? — Nos interrompendo, uma moça de uniforme surge entre as duas portas gigantescas da sala. — Precisa de mim?
— Você apareceu numa boa hora, minha querida. Chame todas as outras empregadas para nos ajudar a arrumar essas roupas no closet feminino da suíte principal. E diga também que as apresentarei oficialmente a nossa Sra. Dexter.
A moça me olha surpresa e sem dizer nada, assente e se retirando logo em seguida.
Eu fico parada, sorrindo nervosa. Felícia pisca, me encorajando. Alguns minutos depois as quatro meninas aparecem lado a lado. E sou apresentada a elas e elas a mim. Em especial a Ester, sua filha.
Logo mais, as ajudo com as minhas pilhas de roupas – o que me faz conhecer melhor as meninas. Só que sou instruída pela Felícia a não dar tanta intimidade. "Eu sou a patroa, esposa do Sr. Dexter". Devo sempre me lembrar da minha posição.
— Felícia não precisava me trazer o jantar eu... — assim que eu viro, terminando de dobrar duas blusas, em vez da governanta, é o Sr. Anton que eu vejo entrar no quarto.
Eu arregalo os olhos e desvio no mesmo instante, envergonhada. Achei que fosse a Felícia. Ficamos a tarde toda arrumando o closet. Após terminar ela disse que me traria comida.
— Vire-se para mim, Kiara.
Engulo em seco, abandonando as blusas na cama e retorno ereta, para fitá-lo.
Ele começa a abrir os botões da camisa, me analisando.
— Hum... um pouco melhor do que antes.
Tento não seguir os seus movimentos.
— O-o senhor comprou tudo.
— O básico. Quando formos para a capital você comprará mais roupas de festa e joias, para me acompanhar nos eventos.
— Eventos? O que é isso?
Sem evitar, abaixo os olhos e noto os seus dedos já perto da fivela do cinto. Minhas bochechas coram.
Não devia olhar... não devia olhar...
— Festas, as milhares às quais eu sou convidado todos os finais de semana na cidade. Mas compareço duas ou três vezes no mês. E só nas que mais me interessam e me trazem benefícios.
Olho para ele de novo, vendo-o fixo a mim, com seu chapéu negro o dando um aspecto sombrio. Na verdade, é esse o seu aspecto.
— Você só vai nesses eventos comigo quando estiver uma mulher de verdade. Seus maus costumes e as suas origens podem virar capa de jornal e revistas em Montes do Sol na primeira semana. E não quero nenhuma nota sobre a minha esposa e o meu casamento. Gastarei o que for necessário para calar os jornalistas.
Fico calada, apertando os meus dedos.
— Vamos na semana que vem. E só retornaremos para a fazenda quando estiver do jeito que eu quero.
Ele tira a camisa.
Constrangida, eu abaixo a cabeça, para fitar as minhas sapatilhas novas. Só retorno para cima quando o ouço se retirar com os seus passos duros. E me sento na cama, respirando tremula.
Por que ele é assim?
Gostaria de ter o meu príncipe. Aqueles dos livros, que demonstram cavalheirismo, elogiam a sua dama e a convidam para uma dança, para trocarem elogios e passos românticos.
Só que elas são cortejadas, conquistadas e eu... eu fui comprada sem amor.
Papai me vendeu. E eu sei que talvez poderia ter sido pior. Talvez meu marido tivesse sido um velho feio e nojento. Fico feliz. Não quero reclamar de barriga cheia. Sr. Dexter não me bate, nem me maltrata. Por outro lado, eu estou sendo tratada como uma rainha. Moro numa mansão onde tudo parece ser mais valioso do que eu. Tenho empregadas ao meu dispor. E hoje ganhei milhares de roupas, sapatos e coisas caras. Meus pais jamais me dariam nada disso. Devo me alegrar. Ser sempre gata ao Sr. Dexter e obedecê-lo. É meu marido.
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COMPRADA SEM AMOR • COMPLETO
Romance+18 | Após um mês completado os seus dezessete anos, Kiara Lemos foi vendida pelo próprio pai para um fazendeiro milionário do estado, o recém herdeiro Anton Dexter. E em meio a sua inocência ela acredita que o homem que a comprou como esposa é um p...