SR. GAEL ABNER

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Durante os dias que sucederam a semana antes da viagem para a cidade, numa terça-feira, enquanto eu caminhava pelo jardim eu conheci um homem; alto, forte, cabelos médios e olhos de um azul escuro. Notei que ele sabia quem eu era. Sua aproximação foi muito gentil e cavalheira.

— O senhor trabalha aqui?

— Sim. Eu sou gerente do Anton. Somos amigos de infância.

Amigos de infância?

Com a sua revelação eu penso no Sr. Dexter jovem.

— Ele era assim... bravo e assustador desde criança?

Na mesma hora eu vejo o Sr. Gael fechar o semblante diante da minha pergunta.

Eu fico arrependida. E engulo em seco, desviando dos seus olhos.

— Descul...

— Não, ele não era assim.

Eu ergo a cabeça.

— A doença e a morte do pai o mudou. E eu posso também te fazer uma pergunta?

— S-sim, claro... — Confirmo.

— O Dexter te comprou?

Arregalo os olhos, quase tropeçando nos meus pés ao dar um passo surpreso para trás.

— Preciso saber, para o seu bem.

— Eu... eu estou bem. Não posso responder o que o senhor me perguntou.

— Acabou de me responder — ele inspira nervoso. — Anton está maluco! Não consigo acreditar na sua falta de escrúpulos. Você é uma adolescente. Uma menina!

— Eu não sou mais uma menina, nem uma adolescente — digo parada, apertando os meus dedos. — Sou a Sra. Dexter.

Sr. Gael altera o olhar, relaxando os ombros.

— Desculpe-me, você realmente é a nossa Sra. Dexter. E vai amadurecer cada vez mais. Com um homem marcado, em luto e... — ele volta a inspirar e suspirar, interrompendo-se. — Eu não devia. Sinto muito, Sra. Kiara. Sinto muito de verdade. Não sou assim

— Não se desculpe, por favor. Eu já disse que estou bem. O Sr. Dexter é bom. Ele me trata igual uma rainha. Não me deixa faltar nada.

Sr. Gael me observa com os seus cabelos castanhos avermelhados pelos raios do sol. Parece estar pensando nas melhores palavras para voltar a falar.

— É tarde para mudarmos o passado e o presente. O seu presente e o passado do meu melhor amigo. Você entrou na vida dele, pela decisão sem escrúpulo dele. E ele terá que honrar a esposa que "escolheu".

— Eu serei uma boa esposa e uma Sra. Dexter. Já o disse. E eu não devia estar conversando sobre isso com o senhor.

— Pense sempre em você. Na sua felicidade, no que te faz bem.

Paro absorta.

— Eu nunca soube pensar nessas coisas. Neste momento sinto-me grata pelo meu casamento sem a... — balanço a cabeça. — Pelo meu casamento! O senhor não sabe como era a minha vida antes daqui. Dos meus pais. Do meu pai. E eu não quero voltar para aquilo.

— Padilho era o seu pai?

Assinto.

— O conheço de vista por se endividar em jogos e bebidas. Igualmente pela sua falta de escrúpulos ao vender a filha para não perder o pequeno sítio. Nunca foi merecedor de uma família.

Afetada pela verdade das suas palavras, eu olho para o campo verde do outro lado.

Ele bufa inquieto, passando a mão pelos cabelos médios.

— Acho que eu deixei a indignação subir demais a minha cabeça. Desculpe-me de novo. Anton é como um irmão. Ele me preocupa. O quero bem. Quero evitar que ele cometa mais erros. É só isso.

Abaixo o pescoço para ver os meus sapatos confortáveis. E retorno devagar ao Sr. Gael.

— Não tem nem duas semanas que eu cheguei. Não os conheço para julgá-los. E entendo que o Sr. Dexter está em luto e triste. Prometo também tentar ajudá-lo para recuperar a sua alegria.

Gael se perde nas minhas palavras calmas. Está meditativo. Ele não para de me observar. Suas íris são de alguém cansado, derrotado.

Alegria... não sei a última vez que essa mansão ouviu ou viveu isso. Por favor, Sra. Kiara, me procure se precisar de conselhos e qualquer outra coisa relacionada ao seu bem-estar. Você não merecia estar aqui, não nesse momento. E perdoe a minha má impressão e a sinceridade. Apenas desejo o bem de todos.

Assim que ele termina de falar, ele acena com a cabeça, pede licença e vira devagar as costas, para se retira com o seu corpo alto, forte e dentro de roupas de cowboy.

Noto que estava segurando a muito tempo a respiração. E a solto.

Por que o Sr. Gael disse tudo aquilo?

Não há o que ele se preocupar. Não comigo. Eu sei que o Sr. Dexter é daquele jeito frio devido a perda do pai. E sinto tanto pelo seu sofrimento. Não gostaria que ele estivesse triste e nem tivesse aquele olhar terrivelmente assustador. Nunca vivenciei a dor de perder alguém para a morte. Imagino que seja horrível. Insuportável. Quero ajudá-lo a superar o luto e a ser feliz. Talvez com a minha dedicação Sr. Dexter crie amor por mim... e eu por ele.

Meu coração palpita quente com a ideia.

Meu coração palpita quente com a ideia

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COMPRADA SEM AMOR • COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora