SOGRA OU COBRA?

45.7K 3.2K 605
                                    

Eu fiquei um tempão na biblioteca. E quando a Felícia voltou foi para me buscar e me levar até o escritório do Sr. Dexter.

Eu fui um passo atrás dela, tremendo e suando frio por ter que revê-lo tão cedo. Sinto muita vergonha do meu marido. Ele causa a sensação de quando estava com o meu pai. Não é o de medo de levar uma surra, pois o Sr. Dexter não bate e ele disse que eu tenho livre-arbítrio... é outra coisa, é algo que dá um medo diferente. Estranho...

— Obrigado, Felícia. Pode se retirar.

— Sim, senhor. Com licença.

Felícia fecha a porta e eu fico em pé, parada bem longe da mesa do Sr. Anton. Eu olho para todos os detalhes bonitos da sala escura, de madeira maciça e feita com acabamentos detalhados.

— Sente-se, Kiara. Não devia nem estar fora do quarto hoje.

Eu molho os lábios secos e sem encará-lo, eu vou me sentar num dos dois assentos confortáveis.

— Desculpa...

Ele encosta na cadeira, com o cotovelo no apoio e a mão alisando a barba.

— Conheceu a minha mãe hoje?

Eu assinto, mexendo com os dedos nervosos.

— Sim. Mas parece que ela não gostou de mim. Acho que foi mal impressão, eu não sou ruim. Eu sou uma boa pessoa.

— O problema é ao contrário. Por isso, se ela for rude ou te maltratar, me avise.

— Ela não vai ser, tenho certeza.

Eu o olho nos olhos e ele faz o mesmo, arrepiando-me e me constrangendo. Por isso volto a desviar.

— Essa semana virá uma loja na fazenda. Felícia vai te ajudar a escolher roupas bonitas. O que usa nem as piores domésticas vestem. Quero a sua mala toda no lixo.

— São as minhas melhores roupas...

— Saberá o que é o melhor.

Engulo em seco, confirmando com o semblante encolhido.

— Devagar será o que eu espero da minha esposa Dexter.

— Eu serei.

Ele se cala de novo, até que se levanta e vira para a sua prateleira de garrafas com álcool, para escolher uma que tem um liquido amarelo.

— Agora volte para o quarto e se deite na cama. Sei que está com dores. O que desejar as empregadas acataram.

— Sim, senhor.

Eu me levanto abraçando os meus braços. E saio rápida da sua sala fria. É um lugar infeliz, que me deixou estranha. Não quero voltar lá de novo.

— Espere, menina.

Na sala, assim que eu caminhava bem devagar para os degraus, eu vi de novo a mãe do Sr. Dexter sentada no sofá.

Ela me faz parar.

— Oi?

— Onde vai?

— Para o quarto...

A senhora bem arrumada e de saltos se ergue rígida. Parece querer me machucar. Eu engulo em seco, dando um passo para trás.

— A gente pode ser amigas, eu sou boa pessoa.

— Amigas? — Ela ri. — Olhe para você garota, para a sua postura torta, as suas roupas encardidas e esses sapatos remendados.

Eu abaixo a cabeça, vendo e tocando nas minhas vestes com vergonha. Uso um vestido azul, que vai até os joelhos. Ele só está manchado de café.

— Onde o Anton pode ver uma Sra. Dexter nisso! Eu vejo uma selvagem!

— Ele... ele disse que vai vir uma loja para eu comprar roupas, vou ficar igual a senhora, bonita. Vai ver.

— Ele está louco! Quer me desafiar, humilhar o nosso sobrenome de renome! Sua sorte menina, é de eu não poder contrariá-lo e nem conseguir o obrigar a nada, senão estaria na sarjeta!

— Perdão senhora, eu vou me esforçar para ser uma mulher como...

— Você não é uma mulher, é uma adolescente! — Ela quase berra. — E nunca será uma Sra. Dexter como eu! Não tem um pingo de elegância, inteligência e bons costumes! Nem berço! Jamais será!

— Lorenza! — Uma voz grossa e muito alta brada do outro lado da sala chique.

Viro a cabeça e o Sr. Dexter caminha furioso até nós, com o seu chapéu negro sombreando o seu olhar árduo.

— Eu já disse para deixá-la em paz! Não se dirija a Kiara!

— Cometeu um erro, Anton! Olhe para essa garota, é uma selvagem que você achou no meio do mato e adotou como estimação!

— Cala a boca! Não devia estar na fazenda! Antecipe a sua volta para a capital amanhã mesmo!

— O quê? Mas eu vim para passar o feriado com o meu filho!

— Seu cheque de dez mil cruzados está em cima da mesa do escritório, pegue ele e pode ir embora. Sei que não veio por mim. Como sempre, veio atrás de dinheiro para gastar com os seus luxos. E você, Kiara. Volte para o quarto, eu já mandei!

Assustada pelo seu tom furioso, eu viro as costas e quase corro para a escada.

Assustada pelo seu tom furioso, eu viro as costas e quase corro para a escada

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
COMPRADA SEM AMOR • COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora